20 de setembro de 2024
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As campanhas dos candidatos à prefeitura de São Paulo reagiram de maneira variada à nova pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (5). Todas as campanhas comemoraram a desaceleração do ex-coach Pablo Marçal (PRTB), que permanece tecnicamente empatado na liderança com Guilherme Boulos (Psol) e Ricardo Nunes (MDB).

A pesquisa revelou que Marçal subiu de 21% para 22%, Nunes passou de 19% para 22%, e Boulos manteve seus 23%. Com a margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos, não é possível determinar com precisão quem está à frente na corrida. Na pesquisa anterior, Marçal havia experimentado um crescimento de 7 pontos percentuais.

Enquanto os concorrentes celebram a desaceleração de Marçal, o entorno do empresário acredita que ele ainda tem potencial para crescer e consolidar seu eleitorado, mesmo diante dos ataques de seus adversários.

Outro aspecto que passou a ser relevante foram as simulações de segundo turno. O Datafolha mediu, pela primeira vez, embates diretos do prefeito e do deputado federal com Marçal. Além de trazer otimismo para a segunda etapa da disputa, os números devem ser explorados pela campanha de Nunes para pregar o “voto útil” contra o candidato do Psol, apoiado pelo PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

— Em todos os cenários sou eu que ganho com tranquilidade da esquerda, da extrema-esquerda, então serei eu o candidato que vai ganhar as eleições. O Datafolha mostra isso — declarou, otimista, o atual prefeito de São Paulo. Ricardo Nunes destacou o percentual de intenção de voto nas classes mais pobres, onde lidera com 28%, contra 19% de Boulos e 17% de Marçal.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) destacou o bom desempenho de Nunes em um eventual segundo turno e disse que mostrou isso a Jair Bolsonaro (PL), que apoia formalmente o emedebista, mas viu o seu eleitorado debandar para o ex-coach nas semanas recentes.

— Mostrei os dados dos trackings (pesquisas internas dos partidos), mostrei que a gente está indo muito bem. É o único candidato que de fato derrota a esquerda no segundo turno, então isso está muito claro para nós. É o que nos dá a situação mais confortável. O presidente está muito animado, vai entrar na campanha — declarou Tarcísio.

Segundo ele, após o 7 de Setembro, o ex-presidente irá gravar programas eleitorais para TV e rádio, e participar de agendas. A primeira delas deve ocorrer na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais (Ceagesp), autarquia federal que esteve sob o comando do vice da chapa, o coronel Ricardo Mello Araújo (PL), durante o seu mandato.

Nos bastidores, fontes da coligação de 12 partidos afirmam ainda que a desaceleração de Pablo Marçal era “esperada” depois do impulso anterior e atribuem esse desempenho à ausência de traquejo para apresentar propostas concretas para a cidade. “Chega uma hora que o discurso cansa a população, porque não tem o que mostrar”, analisou uma fonte. No PT e no PSDB, articuladores das campanhas falam que o ex-coach teria atingido um “teto”.

Em posicionamento oficial, a campanha de Boulos classificou como “desaceleração expressiva” o desempenho de Marçal. “As intenções de voto (no candidato) oscilaram apenas um ponto percentual para cima nos últimos 14 dias, enquanto sua rejeição cresceu 4 pontos”, declarou em nota.

Coordenador do plano de governo de Guilherme Boulos, o deputado estadual Antonio Donato (PT) avalia que Marçal pode até crescer na onda do ato bolsonarista de 7 de Setembro, mas apenas tirando votos de Nunes, e vice-versa. Boulos, por esse ponto de vista, estaria praticamente garantido no segundo turno, onde a junção dos votos de Marçal e Nunes não seria automática.

— O Nunes ainda tem um pouco de voto lulista. E tem o dito “voto antissistema” do Marçal que pode ir pra nulo ou ausência na votação.

Boulos deve evitar ataques a Marçal neste momento. Uma das lideranças da campanha disse que “a melhor estratégia é de se manterem recuados, apenas nas propostas”, mesmo com a tendência de polarização entre ambos. Acaba sendo também uma forma de reduzir a exposição do adversário.

Integrantes da campanha de Marçal contestam essa avaliação. Um interlocutor ouvido pelo jornal disse que o candidato do PRTB não perdeu votos para Nunes em duas semanas de ataques pesados e com o início da propaganda eleitoral em rádio e TV, da qual o candidato não participa por estar em um partido nanico. “A consolidação é forte e imbicada para cima, crescendo”, sugeriu uma fonte.

Na opinião de assessores do ex-coach, Nunes teria recuperado eleitores apenas em cima do apresentador José Luiz Datena (PSDB), que continua desidratando na disputa. Analisam ainda que Ricardo Nunes segue com intenção de voto “frágil”, com apenas 10% na espontânea e cerca de metade dos seus eleitores (46%) admitindo que poderia mudar de opinião até o dia 6 de outubro. Marçal tem 15% na espontânea, com 70% dos seus eleitores totalmente decididos.

Sobre o “teto” alegado por opositores, a campanha de Marçal comentou com ironia, dizendo que o contrário é mais verdadeiro. Também não se dizem preocupados com o aumento de 4 pontos percentuais na rejeição, o que consideram natural ao concentrar a artilharia dos demais — e de nada adianta ter rejeição baixa e não chegar ao segundo turno.

Para a campanha de Tabata Amaral (PSB), a candidata acertou no tom adotado em debates e conseguiu engajamento relevante nas redes com vídeos expondo suspeitas de ligações de membros do partido do Marçal com o Primeiro Comando da Capital (PCC), intercalado com propostas. A equipe considera que o resultado do Datafolha é positivo.

— Achamos bom, sobretudo porque confirma a tendência de crescimento. Ela é a única candidata que subiu em todas as pesquisas desde o começo da eleição — opina o marqueteiro Pedro Simões.

Datena despencou na medição do Datafolha desde o início do período de campanha eleitoral. No intervalo de um mês, o apresentador caiu de 14% para 7%. O desempenho ruim em debates, admitido pelo próprio candidato, a baixa presença em agendas de rua em comparação aos concorrentes e o tempo reduzido de propaganda eleitoral ajudam a explicar o resultado.

Procurado, Datena respondeu:

— Se caí, foi ruim. Mas tem muito tempo.

Eduardo Leite, advogado e aliado de primeira hora do tucano, disse que “Marçal tem efeito Celso Russomanno, e Nunes, efeito Rodrigo Garcia”. Em outros termos, confia em uma queda brusca nas intenções de voto do empresário e na derrota do prefeito mesmo com a máquina na mão.

Com informações de O Globo.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/em-sao-paulo-campanhas-adversarias-comemoram-desaceleracao-de-marcal-e-dizem-que-era-esperado/