Aliados próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm criticado a estratégia adotada pelo deputado federal Guilherme Boulos (Psol) na corrida pela prefeitura de São Paulo, alegando que a campanha tem um tom excessivamente “Psolista”. O Psol é visto como um partido mais à esquerda em comparação ao PT, comumente liderando debates sobre temas caros ao eleitorado progressista, como os direitos LGBTQIAPN+ e a descriminalização das drogas. No entanto, essas pautas encontram resistência por parte de setores mais conservadores da população.
Assessores do presidente e alguns segmentos do PT expressam preocupações com a influência predominante de membros do Psol nos eventos de campanha de Boulos. Para esse grupo, é fundamental expandir a base de apoio, visando assegurar uma vaga no segundo turno. A disputa se desenha em um cenário de empate técnico entre Guilherme Boulos, Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB), o que torna a ampliação de alianças uma questão estratégica crucial.
É citado, por exemplo, que Boulos não deveria limitar seu entorno mais próximo em caminhadas e carretas na rua a militantes do Psol. As imagens do deputado ao lado de candidatos que carregam bandeiras identitárias, por exemplo, é visto como um fator que poderia prejudicá-lo a expandir seus eleitores.
A crítica se acentuou especialmente após o episódio do Hino Nacional interpretado em linguagem neutra em um comício no final de agosto com a presença de Lula em São Paulo. A repercussão negativa, com a modificação do trecho “dos filhos deste solo” para “des filhes deste solo”, foi tratado como um episódio desnecessário pelo presidente e irritou Lula. Ao conversar sobre o assunto com pessoas próximas, o presidente tratou o caso como uma casca de banana na qual o Boulos não poderá cair.
Auxiliares de Lula reconhecem que Boulos modulou a própria postura para a disputa, deixando para trás a imagem de radical como líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e adotando uma postura mais institucional. Apesar disso, veem uma certa transição abrupta de um tom antes “bélico”, combativo e de enfrentamento para algo próximo do que chamam de “Ursinhos Carinhos”, nas palavras de um interlocutor próximo do presidente.
Há pressão para que Boulos amplie os ataques a Marçal e tente associar o nome do PRTB a João Doria, prefeito eleito em primeiro turno em 2016, mas que deixou o cargo 15 meses depois para disputar o governo de São Paulo.
Também citam o fato de a candidata a vice, Marta Suplicy (PT), ainda ter pouca exposição na campanha, faltando menos de mês para a eleição. Uma ala defende que a imagem de Suplicy deveria ser mais explorada, já que pesquisas qualitativas demonstram que eleitor tem boa memória da ex-prefeita de São Paulo, enquanto outro grupo avalia que a exposição deve ser calculada para não ofuscar a liderança de Boulos.
Ministros de Lula também temem que a atuação de Boulos possa repetir o fracasso da campanha de Marcelo Freixo (PSOL) para o governo do Rio de Janeiro em 2022. Na época, Freixo começou quase empatado com Cláudio Castro (PL), mas perdeu fôlego e acabou derrotado no primeiro turno para o governador.
Integrantes da campanha de Boulos rechaçam as críticas, afirmam que o deputado está com o orçamento de São Paulo “na cabeça” e está pensando a cidade para todos, inclusive para os que não votam nele. A campanha está otimista com o crescimento da rejeição de Pablo Marçal de 34% para 38% em duas semanas e com a desaceleração do crescimento do candidato do PRTB, de acordo com o último Datafolha.
Já a rejeição de Boulos se manteve estável em 37%. Aliados do candidato entendem que há espaço para avançar em eleitores com ensino fundamental e rendas até dois salários mínimos — faixa da população que mais aprova o governo Lula.
Outra aposta é explorar cada vez mais a ligação de Boulos com Lula. O presidente foi o protagonista do seu primeiro programa eleitoral na televisão. Pesquisas qualitativas da campanha apontam que mais da metade dos paulistanos não sabem que o nome do PSOL é o candidato de Lula.
Prioridade total para Lula na eleição municipal, Boulos foi o único candidato no qual o presidente subiu em palanque para um comício durante a campanha. Outra sinalização de aposta é o investimento financeiro, o PT irá colocar R$ 30 milhões na campanha de Boulos.
Um dos coordenadores da campanha de Boulos, o deputado federal Rui Falcão (PT-SP), afirma que a estratégia será seguir focando campanha nas periferias, com mobilizações e carreatas, como aconteceu no último sábado, em Heliópolis, com a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Os estrategistas de Boulos também querem ampliar o aspecto visual da campanha, com panfletagem sobre propostas do candidato para cada subprefeitura de São Paulo em terminais de ônibus e estações de metrô.
Com informações de O Globo.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/aliados-de-lula-criticam-estrategia-psolista-da-campanha-de-boulos-a-prefeitura-de-sao-paulo/