20 de setembro de 2024
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, na cerimônia de retorno do manto Tupinambá ao Brasil, realizada nesta quinta-feira no Rio de Janeiro, o Congresso pela derrubada de seu veto ao Marco Temporal. No fim do ano passado, em uma derrota para o governo, os parlamentares restabeleceram a validade de um trecho do projeto de lei que estabelece que apenas terras indígenas ocupadas até a promulgação da Constituição de 1988 podem ser demarcadas.

Durante seu discurso no evento, na Quinta da Boa Vista, Zona Norte do Rio, Lula enfatizou que fez questão de vetar o que chamou de “atentado aos povos indígenas”. Ele também afirmou que “imaginou que o Congresso não teria coragem de derrubar” sua decisão.

— Da mesma forma que vocês, eu também sou contra a tese do Marco Temporal. Fiz questão de vetar esse atentado aos povos indígenas. Mas o Congresso Nacional derrubou o meu veto. Às vezes as coisas são mais fáceis de falar do que fazer. Olhem a dificuldade de eleger um indígena deputado. Quando eu vetei o Marco Temporal, eu imaginei que o Congresso não teria coragem de derrubar o meu veto, e ele teve. A maioria dos congressistas não tem compromisso com os povos indígenas. O compromisso deles é com as grandes fazendas — pontuou Lula.

Mais à frente, porém, o presidente defendeu que é preciso “cumprir a Constituição e a regra do jogo”, mas negou que exista “subserviência para ficar no poder”.

Ele lembrou que o governo não conta com maioria no Congresso e que, por isso, deve-se “conversar com quem não gosta de mim”.

— Aqui não tem subserviência para ficar no poder. O que se tem é inteligência política. Tenho um partido com 70 deputados em 513. Tenho nove senadores em 81. Para aprovar as coisas eu sou obrigado a conversar com quem não gosta de mim. Se tem uma coisa que tenho muito orgulho (é isso). O presidente não pode só fazer discurso. Tem que cumprir a Constituição e a regra do jogo. Tem que respeitar as decisões do Congresso e da Justiça e ao mesmo tempo perseverar e lutar — disse.

Lula também buscou fazer um contraponto entre sua gestão e a do antecessor, Jair Bolsonaro (PL):

— Vocês não podem esquecer que não faz muito tempo a gente trocou um ministro do Meio Ambiente que dizia que era preciso abrir as porteiras para o agronegócio invadir a Amazônia. Nós colocamos uma companheira da qualidade da Marina (Silva).

Objeto sagrado do povo Tupinambá, o manto retornou do Museu Nacional da Dinamarca no dia 11 de julho e está instalado em uma sala da Biblioteca Central do Museu Nacional, situado na Quinta da Boa Vista. Presentes na cerimônia, indígenas cantaram uma música pedindo a demarcação de terras pouco antes do início do evento. “Senhor presidente, devolva nossa terra”, pediam.

Candidato de Lula na disputa pela prefeitura do Rio, Eduardo Paes (PSD) era esperado na cerimônia, mas não compareceu. No palco, entretanto, estavam nomes próximos ao postulante à reeleição, como o deputado federal Pedro Paulo (PSD) e o secretário municipal de Cultura, Marcelo Calero.

Principal representante da esquerda na corrida carioca, Tarcísio Motta (Psol) marcou presença no evento. Ele tenta atrair dissidentes petistas do Rio para sua campanha — o que aconteceu, por exemplo, com o deputado federal Lindbergh Farias. Ao contrário de outros psolistas, como o deputado federal Chico Alencar, Tarcísio não apareceu próximo ao presidente ao longo da cerimônia.

Com informações de O Globo.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/lula-critica-congresso-em-visita-a-exposicao-do-manto-tupinamba-no-rio-compromisso-da-maioria-e-com-grandes-fazendas/