20 de setembro de 2024
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Um dos segmentos mais refratários ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os evangélicos mantêm posicionamento oposto ao governo federal nas eleições municipais deste ano. Levantamento do jornal O GLOBO feito a partir dos dados da Quaest nas corridas de 21 capitais aponta que em 13 os postulantes de direita largam na frente no segmento. Em outras seis, nomes do centro lideram e apenas em duas — João Pessoa e Curitiba, onde há empate entre candidatos de cada campo — opções da esquerda surgem em primeiro lugar. Nenhum deles, no entanto, pertence ao PT, sigla do atual presidente.

Segundo pesquisa Quaest de julho, Lula é reprovado por 52% deste eleitorado. A rejeição também era aparente na disputa presidencial: na última pesquisa Datafolha do pleito de 2022, Jair Bolsonaro tinha quase 70% dos votos do grupo.

No entanto, apesar desta adesão ao ex-presidente, os evangélicos não embarcam necessariamente na campanha de candidatos indicados por ele. Apenas metade dos nomes da direita que vão bem entre os religiosos disputam o pleito com a bênção de Bolsonaro.

O caso mais marcante ocorre em São Paulo, onde o empresário Pablo Marçal (PRTB) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) aparecem empatados tecnicamente no eleitorado geral na Quaest da última quarta-feira, mas distantes neste segmento. O ex-coach tem 37% dos evangélicos, enquanto Nunes soma 26%.

Discursos direcionados

Com um discurso muito associado à chamada teologia da prosperidade, que associa a riqueza ao desejo de Deus e é repetida entre pentecostais, Marçal tem uma alta penetração nas bases de igrejas menores, que concentram a maior parte dos fiéis. Apesar disso, ele se identifica apenas como cristão e disse em entrevista, durante as eleições de 2022, que entende o cristianismo enquanto um estilo de vida.

Líder em aprovação no segmento, o prefeito de Macapá, Dr. Furlan (MDB) tem 94% da preferência deste eleitorado, mesmo disputando sem o apoio do ex-presidente. O alto índice acompanha sua intenção de voto entre o restante da população, de 91%.

Outro exemplo é o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), que tem 58% do voto evangélico na capital capixaba e um passado de rusgas com Bolsonaro. Preferido para a reeleição, enfrentará nas urnas o deputado estadual Capitão Assumção, do PL, partido do ex-presidente.

Quando foi eleito há quatro anos, Pazolini teve o apoio do ex-mandatário, mas optou por escondê-lo ao longo da campanha. Com uma postura mais moderada, em 2022, não declarou voto à Presidência, irritando os apoiadores do então candidato à reeleição e consolidando o distanciamento entre os dois.

Em Belo Horizonte, um outro candidato sem padrinhos nacionais tem a preferência dos fiéis, o deputado estadual Mauro Tramonte. Filiado ao Republicanos e apresentador licenciado da Record TV, ambos comandados pela Igreja Universal do Reino de Deus, Tramonte vê sua vantagem se expandir no segmento.

Atual líder da disputa geral, com 27% das intenções de voto, Tramonte tem dez pontos percentuais a mais entre os evangélicos.

Em contrapartida, há nove postulantes apoiados por Bolsonaro que transitam melhor entre os religiosos do que no eleitorado geral. O caso mais significativo ocorre em Cuiabá, onde o deputado federal Abílio Brunini (PL) é o segundo colocado na disputa, mas tem uma vantagem de nove pontos percentuais entre os evangélicos em relação ao líder, o deputado estadual Eduardo Botelho (União Brasil).

A preferência de 35% do segmento se justifica pela defesa dos valores cristãos: Brunini é neto do pastor Sebastião Rodrigues de Souza, que chegou a presidir a Assembleia de Deus no estado e morreu em agosto de 2020, vítima de Covid-19.

Em Maceió, Salvador e Boa Vista, os prefeitos que concorrem com o apoio do ex-presidente também têm melhor performance no grupo. No capital alagoana, João Henrique Caldas, o JHC, alcança 83% entre evangélicos; no eleitorado geral, suas intenções de voto estão em 74%.

Apoiados por Lula

Apenas dois candidatos apoiados por Lula são os preferidos pelos evangélicos: os prefeitos e favoritos à reeleição no Recife e no Rio, João Campos (PSB) e Eduardo Paes (PSD), respectivamente. Com suas gestões bem avaliadas, Campos e Paes têm, nesta ordem, 69% e 54% no segmento — na população geral eles chegam a 76% e 64%.

No Rio, Paes é conhecido por seu bom trânsito com lideranças evangélicas e conseguiu apoios-chaves. O bispo Abner Ferreira, do maior ministério da Assembleia de Deus, em Madureira, liberou o deputado federal Otoni de Paula (MDB) para coordenar a campanha de Paes no segmento.

Nas demais denominações, a postura é de neutralidade. Até mesmo de um dos maiores defensores de Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

— Sempre fui amigo de Paes, mas com essa guinada para Lula, ficou mais difícil apoiá-lo. Vou seguir o que sempre fiz: neutralidade no primeiro turno e, caso (Alexandre) Ramagem esteja no segundo, o apoiarei — disse Malafaia.

Um eventual segundo turno no Rio, contudo, pode não ocorrer. Segundo a Quaest, Paes tem 64% das intenções de voto e, hoje, ganharia na primeira etapa.

Inicialmente ao lado de Paes, a Igreja Universal do Reino de Deus teve um atrito com o prefeito após perder espaço em seu secretariado. Apesar da desavença, a principal aposta da igreja para a Câmara Municipal, o pastor DeAngeles, faz parte do quadro do partido do prefeito, o PSD, e embarcou em sua campanha.

— A esquerda está percebendo que se ela quiser ganhar as eleições terá que conquistar o setor, mas ainda enfrenta desvantagens. Se os evangélicos continuarem crescendo no ritmo que estão e mantiverem essa ideologia, Lula não ganha em 2026 — avaliou o cientista político Vinicius do Valle, do Observatório dos Evangélicos.

Com informações do GLOBO.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/candidatos-de-direita-lideram-entre-evangelicos-em-dois-tercos-das-capitais/