Um novo grupo de objetos espaciais congelados foi identificado pelo telescópio Subaru, no Havaí, em colaboração com a missão New Horizons, da NASA – espaçonave dedicada ao estudo do planeta-anão Plutão e do Cinturão de Kuiper, um disco circunstelar tido até então como o mais extremo do Sistema Solar.
Foram descobertos 11 corpos celestes orbitando o Sol a mais de 13 bilhões de km de distância da estrela, o que, se confirmado, pode aumentar os limites da nossa vizinhança.
Esses objetos podem se tornar alvos de investigações da sonda New Horizons, que continua sua exploração no espaço profundo após a histórica passagem por Plutão em 2015.
Fumi Yoshida, do Instituto de Tecnologia de Chiba, no Japão, coautor da pesquisa (aceita para publicação pelo periódico The Planetary Science Journal e disponível no repositório online arXiv) destacou a importância desse achado em um comunicado, ressaltando que a confirmação dos resultados seria uma grande conquista para a compreensão do Sistema Solar.
Densidade da Via Láctea atrapalhou início das observações
Localizado no topo do Mauna Kea, no Havaí, o telescópio Subaru vem colaborando com a missão New Horizons desde seu lançamento, em 2006. Após sua passagem por Plutão, a espaçonave entrou no Cinturão de Kuiper, uma região além de Netuno, com corpos gelados e cometas orbitando entre 33 e 55 unidades astronômicas (UA) do Sol.
[Uma unidade astronômica equivale à distância média entre a Terra e o Sol, que é de cerca de 150 milhões de km].
Em 2004, antes de sobrevoar Plutão, o telescópio Subaru iniciou uma busca por objetos no Cinturão de Kuiper que poderiam ser visitados pela New Horizons. Contudo, a presença da densa Via Láctea ao fundo da constelação de Sagitário dificultou a identificação de novos alvos, e apenas 24 objetos foram detectados. Todos distantes demais para serem alcançados pela espaçonave.
Um dos poucos objetos encontrados para estudo próximo foi Arrokoth, que a New Horizons sobrevoou em 2019, e que foi detectado pelo Telescópio Espacial Hubble.
Com o passar dos anos, Plutão se afastou do fundo brilhante da Via Láctea, facilitando novas observações. Desde 2020, a câmera Hyper Suprime-Cam (HSC) do Subaru identificou 239 novos objetos no Cinturão de Kuiper. Entre eles, um grupo especial se destacou: 11 objetos situados além de 55 UA, em uma região até então inexplorada do Sistema Solar.
Segundo os cientistas envolvidos no estudo, esses objetos não pertencem ao Cinturão de Kuiper tradicional. Há uma lacuna significativa entre 55 e 70 UA, e o novo cinturão, apelidado de “Cinturão de Kuiper 2”, parece se estender de 70 a 90 UA, ou seja, a uma distância de até 13,5 bilhões de quilômetros do Sol. Para comparação, Netuno está a 30 UA e a New Horizons, atualmente, a 60 UA.
Essa descoberta pode fornecer novas perspectivas sobre a formação e a arquitetura do Sistema Solar.
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Descoberta abre caminho para encontrar possível Planeta Nove do Sistema Solar
Acredita-se que a distribuição do Cinturão de Asteroides (entre Marte e Júpiter) e objetos do Cinturão de Kuiper seja resultado de eventos ocorridos durante a formação dos planetas, quando Júpiter migrou e espalhou corpos menores pelo Sistema Solar.
Essa nova população de objetos pode estar conectada com as descobertas de poeira cósmica feitas pelo contador de partículas a bordo da New Horizons. Mesmo enquanto a espaçonave se afasta do Cinturão de Kuiper, impactos de poeira continuam sendo detectados, sugerindo a presença de corpos além dessa região.
Além disso, ocultações estelares observadas pela New Horizons – quando um objeto passa na frente de uma estrela distante – também sugerem a existência de corpos invisíveis nas regiões mais afastadas do Sistema Solar.
Observações de discos protoplanetários ao redor de outras estrelas, feitas pelo Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), no Chile, indicam que sistemas planetários podem ter estruturas semelhantes com múltiplos cinturões.
Para Wesley Fraser, do Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá, líder do estudo, a descoberta do Cinturão de Kuiper 2 pode desafiar a ideia de que nosso cinturão de corpos gelados é pequeno em comparação com outros sistemas planetários. “Então, talvez, se esse resultado for confirmado, nosso Cinturão de Kuiper não seja tão pequeno e incomum em comparação com aqueles em torno de outras estrelas”.
Os astrônomos continuarão a monitorar esses 11 objetos recém-descobertos, pois acredita-se que sejam apenas a ponta do iceberg. Isso sugere a existência de uma população muito maior, que pode incluir mais planetas anões e até mesmo o hipotético Planeta Nove.
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