Começa nesta sexta-feira (20) o agitado festival de cinema Maranhão na Tela 2024. Mais de 100 produções serão exibidas este ano, distribuídas nas mostras Maranhão de Cinema e Panorama Maranhão. Na maior programação de filmes maranhenses no festival, a nova mostra conta com 106 obras — sendo 18 longas-metragens, 51 curtas e 37 videoclipes.
Originalmente pensado para mídias que não o cinema — tendo se estabelecido e popularizado com o advento da MTV, na década de 1980 —, o videoclipe divide o estrelato com os filmes em festivais como o Maranhão na Tela.
Com essas produções, o cinema e a música colidem diferente, além da trilha sonora de fundo ou um musical, pondo em evidência jovens talentos maranhenses da atualidade, à frente ou por trás das câmeras.
A jovem cantora Sabriny produziu, roteirizou e estrela um dos clipes selecionados: “Não Vai Voltar”. Ela canta (e interpreta) em uma espécie de conto de fadas urbano com Helton Borges, violinista e trapper que vem ganhando destaque na cena musical local nos últimos tempos — ele também assina a produção executiva do clipe “Não Vai Voltar”.
Um trabalho recente de Helton Borges é o clipe “Por Toda a Noite”, com nome de peso na direção: a cineasta maranhense Jessica Lauane assina esse trabalho e também tem exibição no Maranhão na Tela.
Jessica Lauane é diretora, fotógrafa e produtora cinematográfica. Ela é formada em Direção de Videoclipes e Narrativa Documental pelo Instituto de Cinema, Produção Cinematográfica pelo IFMA e Produção Cinematográfica e Atuação para Cinema na Escola de Cinema do Maranhão.
Já tendo produzido mais de 20 clipes (“Não sei exatamente quantos, mas são mais de 20!”), é natural que essa mídia conste tanto no currículo de Jéssica. Para ela, a música e o cinema estão conectados.
[Minha primeira participação no Maranhão na Tela foi em] 2019, quando fui premiada pelo videoclipe “Killa” da Enme Paixão [cantora, compositora e rapper maranhense]. Foi incrível porque senti que meu trabalho estava sendo reconhecido. Desde então participo todos os anos do festival, conta a cineasta.
Curiosamente, Jéssica também permeia pelo mundo da música — porém, é o audiovisual o lugar favorito da cineasta, o que ela parece sugerir no trabalho exibido no Maranhão na Tela em 2024.
Jéssica Lauane assina “Depois de Mim”, da cantora Regiane Araújo. Em preto e branco, as duas estetizam cenas dos bastidores da vida musical de Regiane.
“Minhas referências foram Cisne Negro e a Marilyn Monroe. Ela era uma sex symbol, mas enquanto Norma Jean [nome verdadeiro da atriz], ela era um ser humano que tem vulnerabilidades ou não. Quis mostrar esse ser artista, como a maioria dos artistas são.”
A diretora explica as diferenças entre produzir um videoclipe e um longa ou curta.
“Filmes são mais criteriosos. Não que clipes não sejam. Mas no meu caso, sou uma pessoa muito visual, de roteitos muito visuais. No longa, é algo mais escrito, detalhado e demorado. Videoclipes, numa semana crio o roteiro, na outra semana já gravo. Porém, [também] depende de como será o clipe.
“Não é uma regra, mas geralmente, filmes têm apoio de editais, de leis de incentivo. O videoclipe costuma vim do dinheiro do próprio artista. A verba é mais limitada. Quando menos diárias fizermos, menos gastaremos.”
A criadora X a artista X a criação
Outra diferença é que, nos videoclipes, o nome que o dirige costuma ficar bem menos em evidência criativa que a estrela das cenas. Todo mundo conhece “Thriller”, de Michael Jackson — de Michael Jackson, e não “do diretor John Landis”. Bem diferente de Vampiros de John Carpenter (1998).
Quem nunca assistiu a clássicos como “Like a Virgin”, “La Isla Bonita”, “Material Girl” e “Like a Prayer” – clipes que selaram a identidade de Madonna? Porém, quantos já ouviram falar na diretora Mary Lambert, que assina todos?
Jessica detalha o compartilhamento da criação do trabalho entre diretor e artista.
“Geralmente peço um briefing do artista, o que ele está ou estava sentido ao compor a música, se tiver sido o caso. Também busco saber como imaginam o videoclipe, se possuem alguma referência. A partir disso, crio algo sobre aquela história para mim. Para que fique a cara do artista e também um pouco da minha visão.”
“Quando pergunto dos sentimentos, tento traduzir o que o artista quer passar através de imagens ou signos. O cinema nos permite contar a histórias através de imagens, manipulando o ambiente para produzir sensações em quem assiste. É o que busco fazer [também nos clipes].”
JÉSSICA LAUANE, CINEASTA
No videoclipe que teve como referência o longa Clockers, de Spike Lee, o rapper Marco Gabriel mostra um subúrbio que muitas vezes não é visto pela sociedade e que consegue ser belo e repleto de riquezas culturais, mesmo em meio à pobreza e à falta de atenção do Estado.
“Chato” foi exibido no Festival Guarnicê de Cinema em 2021.
Um trabalho carregado de identidade — como outros no line-up do Maranhão na Tela em 2024.
Em suas cores e paredões, o reggae embala “Andamento”, da cantora Núbia e com direção de Jonas Sakamoto; “Se7e Velas” , da rapper Afro Prata com direção de Lucca Truta, traz impressões visuais da realidade e da fé da intérprete.
O Maranhão na Tela segue até o dia 27 de setembro. Veja a programação completa aqui.
Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2024/09/cinema-e-musica-videoclipes-destacam-nova-geracao-de-artistas-no-maranhao-na-tela/