Os gigantes empresariais dos Estados Unidos estão começando a perder a fé em seu velho amigo Xi Jinping.
O vínculo mais forte entre os EUA e a China está se desfazendo. Por décadas, Wall Street e as empresas americanas apostaram no crescente poder de consumo chinês. À medida que as famílias chinesas enriqueciam, surgiam oportunidades para lucrar vendendo de tudo, de frango frito a artigos de luxo como Fendi. Empresas como Starbucks, Apple e Nike se posicionaram para abocanhar uma fatia desse mercado. Houve alguns contratempos, como boicotes e falências, mas a tendência de lucro apontava sempre para o crescimento. Enquanto o consumidor chinês continuasse a ascender, como o Partido Comunista Chinês prometia, os ganhos se multiplicariam. Essa era a narrativa — quase um evangelho econômico. Mas agora, essa perspectiva está se desfazendo.
O consumidor chinês, antes vibrante, está estagnando. As empresas americanas estão perdendo espaço para concorrentes locais. Sob pressão política e econômica, as marcas dos EUA não podem mais contar com a China para impulsionar seu crescimento. Isso altera o cálculo de risco: por que investir pesadamente em um mercado que está excluindo você? Sem a promessa de retornos robustos, as empresas americanas estão se tornando cada vez mais relutantes em defender o mercado chinês como essencial para seu futuro. O relacionamento entre EUA e China, que antes girava em torno de laços econômicos mutuamente benéficos, está se deslocando para um foco em interesses de segurança nacional cada vez mais divergentes. E, em vez de revitalizar o consumidor chinês e restaurar esses laços econômicos, o líder chinês, Xi Jinping, parece desinteressado.
“Xi não acorda todos os dias, olha para a economia e entra em pânico”, disse Lee Miller, fundador da China Beige Book. “Ele acredita que estão fazendo o que é necessário, mesmo que seja um remédio amargo.”
Para Xi, o que a China precisa é tornar-se indestrutível e indispensável. Isso significa apoiar as empresas estatais e outras companhias nacionais, dando-lhes uma vantagem no mercado em detrimento de empresas estrangeiras. A estratégia é também tornar o mundo dependente dos produtos chineses, não só os manufaturados baratos, mas também tecnologias avançadas como semicondutores, baterias e inteligência artificial, além de commodities críticas como gálio e germânio. Autossuficiência para si, dependência para os outros. É uma estratégia que desafia o mundo a reagir — e não inclui o crescimento do vício chinês por frappuccinos americanos.
A paz entre China e EUA foi mantida em parte pela crença de que os dois países poderiam fazer negócios, mesmo sem compartilhar os mesmos valores. Enquanto os EUA se esforçam para ser uma sociedade aberta, a China se fecha cada vez mais. Podem se desentender sobre Taiwan ou o Mar da China Meridional, mas o dinheiro manteve as relações intactas. Agora, sem o acesso ao consumidor chinês, os EUA têm menos motivos para enxergar a China como um mercado e mais motivos para vê-la como uma ameaça.
Após o fim dos lockdowns da pandemia em 2023, a economia chinesa teve o que Wall Street chama de “salto do gato morto”. A economia, devastada, apresentou uma recuperação breve, mas agora, a meta de crescimento de 5% do PIB de Pequim está em dúvida. O setor imobiliário, carregado de dívidas, continua a sufocar o crescimento, enquanto as esperanças do governo de um boom nas exportações não se concretizaram. O desemprego entre os jovens chineses de 16 a 24 anos atingiu 17,1% em julho, deixando muitos recém-formados disputando empregos mal remunerados.
As empresas americanas estão sentindo o impacto. As vendas do iPhone na China caíram 24% este ano, e as da Starbucks, que possui mais de 7.300 lojas no país, caíram 14% no segundo trimestre. O mercado automotivo também sofre, e até mesmo a Tesla viu sua participação cair de 9% para 6,5%. As empresas americanas que ainda ganham dinheiro na China estão se deparando com uma realidade cada vez mais desconfortável, e as perspectivas não são otimistas.
O declínio nos laços sino-americanos é notável, especialmente no setor financeiro. O investimento estrangeiro direto na China está em sua pior marca em 30 anos, e 2024 pode ser o primeiro ano com mais saídas de capital do que entradas. Empresas de Wall Street, que costumavam ser aliadas importantes para a China em Washington, agora estão reavaliando sua exposição ao país. Isso enfraquece ainda mais os vínculos, e a dissociação entre as duas potências parece cada vez mais provável.
O modelo econômico que Xi Jinping quer implementar não é compatível com o resto do mundo. Enquanto o foco nos EUA agora está na segurança nacional, Pequim pode estar subestimando o poder do Congresso, que se tornou cada vez mais anti-China. E com as crescentes tensões sobre tecnologia e Taiwan, o caminho para o futuro das relações sino-americanas parece mais incerto do que nunca.
Com informações do Business Insider*
Fonte: https://www.ocafezinho.com/2024/09/24/o-fim-da-grande-corrida-do-ouro-da-china/