10 de outubro de 2024
Em meio à tragédia das chuvas, Carlos Bolsonaro quer proibir
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Eleito para seu sétimo mandato de vereador pela cidade do Rio, com o recorde de 130 mil votos, Carlos Bolsonaro (PL-RJ) rebateu as críticas à atuação de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, na campanha de Ricardo Nunes (MDB) pela prefeitura de São Paulo.

Avesso a entrevistas, Carlos falou com a coluna de Letícia Casado, do portal UOL, por cerca de duas horas, na última terça-feira (8), em seu gabinete no Rio de Janeiro. Foram cerca de 45 minutos de entrevista, gravada também pelo vereador. Carlos também fez uma avaliação sobre o PT, a esquerda e o cenário para 2026.

Segundo ele, o avanço de Nunes ao segundo turno não pode ser creditado apenas na conta do governador aliado Tarcísio de Freitas (Republicanos), e a palavra do ex-presidente tem força sobre o eleitorado paulistano. Ele contou sua versão sobre o atrito com Pablo Marçal (PRTB), terceiro colocado na disputa.

Um dos coordenadores da campanha do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) na disputa pela prefeitura do Rio, Carlos Bolsonaro considera que, mesmo com a reeleição de Eduardo Paes (PSD), o resultado de seu aliado foi muito bom — ele teve 30% dos votos válidos, sendo que era desconhecido pelo eleitorado.

Relação entre Bolsonaro e Tarcísio

Para Carlos Bolsonaro, não é correto atribuir o desempenho de Nunes apenas a Tarcísio e excluir a força do ex-presidente junto ao eleitorado paulistano. Ele diz que seu pai teve mais votos que o governador na capital paulista em 2022 —Jair teve 2,6 milhões de votos no segundo turno, enquanto Tarcísio teve 2 milhões.

“Acredito que os votos que foram para o Nunes tenham vindo do meu pai, não do Tarcísio. Até porque se meu pai apontasse e falasse: ninguém escuta Tarcísio, o Tarcísio não ia ter poder. A diferença de votos ali [entre os candidatos que passaram ao segundo turno na eleição para prefeito] foi muito pouca de um para o outro”, disse o vereador. E continuou:

“Há uma tentativa gigantesca de fazer com que o Tarcísio se sinta um cara, mais uma vez, para se afastar do meu pai e as pessoas desconfiam disso. Mas acredito que no final alguma coisa pode mudar e o sistema quebrar a cara de novo. Ele e meu pai se dão muito bem. Pode ser que alguma coisa… Não vou abrir o jogo para você, não posso falar muita coisa. Mas é uma estrutura montada para destruir o Bolsonaro. Eles aceitam qualquer um que não seja o Bolsonaro. Isso foi deixado bem claro nas eleições de 2022”.

Quem era Tarcísio?

Questionado sobre a ausência de Jair Bolsonaro em atos da campanha de Nunes, o filho “zero dois” do ex-presidente disse que seu pai passou semanas percorrendo o Brasil para fortalecer a base em outras cidades de olho em 2026 — e que o fez com sucesso.

“As pessoas ficaram muito focadas em São Paulo. Mas você tem que ocupar outros espaços também. Sua vida não se decide só em São Paulo. Ele [Jair] teve essa leitura. Não se furtou em nenhum momento a falar que estava apoiando Nunes, mas é sempre a cobrança de que tinha que ter feito mais. Rodou o país inteiro, conseguiu eleger e colocar no segundo turno pessoas que talvez não tivessem avançado se não estivessem com ele”, disse.

“E até se ele [Jair] ficar quieto agora em São Paulo, naturalmente os votos do Marçal vão acabar indo para Nunes. Atribuir isso a qualquer outra pessoa não é certo. O sistema vai falar que foi Tarcísio que botou [Nunes no segundo turno]. Mas quem era Tarcísio? Com todo respeito ao governador, tenho uma grande admiração por ele. Quando o meu pai falou que ele tinha chance de ser governador de São Paulo, ele falou: mas sou carioca, torcedor do Flamengo, o que vou fazer lá? E foi eleito governador de São Paulo. Falar que foi mérito exclusivo dele, pelo amor de Deus. Ele faz parte de tudo que está acontecendo”, concluiu o vereador.

Carlos Bolsonaro também questiona a dimensão da relação entre Tarcísio e o presidente do PSD, Gilberto Kassab, secretário em seu governo e entusiasta da campanha de Nunes.

“Não sei até que ponto Kassab tem ligação visceral com Tarcísio, como aponta. Acredito que não tenha. Acho que quando o bicho pegar, Tarcísio vai ter lado.”

Marçal cria factoides e força relação

O vereador comentou sobre o desentendimento da família Bolsonaro com Pablo Marçal, e os ataques dos dois lados nas redes durante a campanha. Disse que o ex-coach inventou que Carlos teria barrado o apoio do ex-presidente e que anunciou apoios que não existiam. No entanto, ele não descarta uma reaproximação da família com Marçal no futuro.

“É um sujeito que vive de factoides. Sei que vou tomar pancada até dizer ‘chega’. A verdade é que eu não admitiria em momento nenhum, principalmente em 2022, um cara que até um mês atrás estava dizendo que seu pai é igual ao Lula. Aquilo me deixou irritado. Conversei com meu pai, as atitudes foram dele. Não impedi nada, como nunca impeço nada. Acredito que ele fala isso porque tem que criar fatos para ficar na mídia, e a gente dá mídia. Não é legal partir para esse tipo de conflito totalmente destrutivo. Com a gente, particularmente, ele vai perdendo esse alinhamento que ele diz ter, que nunca demonstrou, nunca teve manifestação para a liberdade dos presos políticos em Brasília. Nunca participou de nada efetivamente que levasse a direita adiante”.

O filho “zero dois” de Jair Bolsonaro também teceu diversos elogios ao próprio pai:

“Meu pai é um cara que está lá há 30 anos no Congresso Nacional, entende como funciona. Querer colocar os dois num paralelo como ele sempre quis botar, para mim não é legal usar esses artifícios para crescer. Eu sempre falei: meu pai nunca negou que ninguém crescesse. Mas cresce sem fazer um jogo que não é legal. Você acaba irritando os outros, não é construtivo. É destrutivo. Você vai destruir para pegar metade daquilo. Parece que a pessoa está preocupada só com ela”.

“É como meu pai falou, Pablo tem um grande potencial. Mas passou da linha, passou do limite. Para você se meter na política, precisa respeitar as pessoas, por mais que discorde delas, para construir. Já passou dessa época de puxar a espada ficar dando de brabo. Não é se render, é construir”.

“Pelo tempo que a gente tem na política, a gente entende hoje em dia que tem que construir e não ficar destruindo simplesmente por destruir, para ter vantagens próprias e chegar lá na frente e você não ter benefício nenhum — inclusive para quem votou em você. Isso que afastou o Pablo da gente. Tinha tudo para poder se dar bem, talvez até aconteça no futuro uma aproximação. Ninguém sabe. Mas, poxa, ele tem que mudar as atitudes e todo mundo tem que aprender nisso tudo. Mas o mais errado acaba sendo Pablo. Não tenho problema nenhum com ele hoje, fora essas ressalvas. Como confiar novamente numa pessoa que comete tantos erros contigo, principalmente com meu pai? Mas nada impede que um dia as coisas voltem a ficar bem. Acho que isso é melhor para direita, melhor para o Brasil e vamos tocando”.

“Acabou que o Marçal ficou em terceiro. Ocupou um espaço que considera que está aberto, daquele pessoal que esbraveja bastante, mas não faz muita coisa. Alegando que meu pai não estaria mais fazendo isso porque se rendeu ao centrão. Meu pai é quem mais apanha do sistema”, concluiu.

Ramagem surpreendeu no Rio e assustou Paes

Para Carlos Bolsonaro, o desempenho de Ramagem na corrida pela prefeitura do Rio foi muito bom e assustou Eduardo Paes — eles tiveram 30% e 60% dos votos válidos, respectivamente.

“Considero uma grande vitória do Ramagem. Ele vem da Polícia Federal, tem apenas dois anos como deputado federal, enfrentando o candidato que as pesquisas sempre disseram que tem 100% do conhecimento do eleitorado”, disse. E continuou:

“As informações que tenho é que o Eduardo Paes achava que ia botar duas vezes e meia em cima do segundo colocado, e não foi o que aconteceu. Tenho certeza absoluta que Eduardo Paes ficou extremamente decepcionado com o que aconteceu. Ele tem planos para o governo do Estado e voos mais altos para o futuro. Mas não esperava que tivéssemos ainda a força que a gente tem”.

“Ramagem é muito mais técnico do que emoção. Você tem que desenvolver esse outro lado para conseguir chamar atenção. Foi muito pouco tempo para que isso acontecesse. Se tivesse mais uma ou duas semanas, ele cresceria cerca de 6% e Eduardo cairia. Acredito que as pessoas não sabiam quem era o Ramagem. Tanto que o Eduardo nunca procurou bater nele citando o meu pai porque ele sabe que o eleitorado do meu pai podia estar com ele. A partir do momento que ele abrisse a boca para falar isso, sairia perdendo”, disse o vereador.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/votos-de-nunes-vieram-do-meu-pai-e-nao-do-tarcisio-diz-carlos-bolsonaro-em-entrevista/