23 de novembro de 2024
Bolsonaristas críticos de Moraes fizeram campanha eleitoral no X durante
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Lideranças bolsonaristas no Congresso Nacional divulgaram o ato de 7 de setembro e fizeram campanha eleitoral no X mesmo após o bloqueio da rede social de Elon Musk no Brasil por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Levantamento da equipe da coluna de Malu Gaspar, do jornal O GLOBO, realizado após a plataforma voltar ao ar encontrou centenas de postagens feitas por deputados e senadores críticos a Moraes enquanto o X deveria estar inacessível no Brasil.

O uso do X durante o bloqueio por políticos é objeto de investigação da Polícia Federal (PF), que, segundo apurou a equipe do reportagem, está mapeando quem tuitou nesse período para informar a Moraes. O ministro deve receber um relatório só sobre esses posts até o final da próxima semana. Em agosto, ele não só determinou a derrubada do X como também o uso de tecnologias VPN para driblar o bloqueio da rede social no Brasil sob multa de R$ 50 mil.

Entre os mais ativos na rede estavam os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG), Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Carla Zambelli (PL-SP), Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Mario Frias (PL-SP).

As deputadas Bia Kicis (PL-DF), Júlia Zanatta (PL-SC), e os senadores Jorge Seif (PL-SC), Rogério Marinho (PL-RN) e Magno Malta (PL-ES) também publicaram na rede durante o período, além de Sergio Moro (União Brasil-PR), que não assina os pedidos de impeachment contra Moraes, e a deputada Rosangela Moro (União Brasil-SP).

Já na mira da PF, Nikolas fez posts em apoio à candidatura de Alexandre Ramagem (PL) no Rio de Janeiro contra Eduardo Paes (PSD), sobre a sua briga com o PSD de Gilberto Kassab e seus acenos públicos pró-Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo. Também compartilhou seu discurso na Avenida Paulista no ato contra Moraes no feriado da independência, além de pressionar pelo impeachment do ministro.

Nikolas também publicou na véspera do primeiro turno a “colinha” de seus candidatos em Belo Horizonte (MG), Bruno Engler (PL) para prefeito e seu ex-assessor Pablo Almeida (PL), que foi o vereador mais votado na cidade com 39,9 mil votos. O post teve mais de 4 mil curtidas e 600 repostagens.

Em um dos posts, ao comentar a cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) contra Marçal no debate da TV Cultura, Nikolas ainda fez referência à restrição da rede. “O Brasil não ter acesso ao X agora é uma pena”, escreveu.

Em outro post, em inglês – tática adotada por alguns bolsonaristas para facilitar a comunicação com estrangeiros no X interessados na discussão sobre o bloqueio –, vaticinou: “Nós continuaremos combatendo a censura”.

Questionado pela equipe da reportagem, o deputado não esclareceu como teve acesso à rede e nem se fez uso do VPN para publicar os posts.

A colega de Nikolas na Câmara, Carla Zambelli, também usou o X durante o período para pedir voto em Pablo Marçal e seu apadrinhado, Neto Zambelli, na capital paulista, além de Ramagem no Rio de Janeiro.

Também fez convocações para a manifestação do 7 de setembro e o ato bolsonarista em Belo Horizonte para pressionar o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a acatar um dos pedidos de impeachment contra Alexandre de Moraes.

“AGORA É A HORA! Faremos o presidente o Senado, Rodrigo Pacheco, eleito por Minas Gerais, nos ouvir! Podemos contar você? Cobre, respeitosamente, posicionamento dos senadores do seu estado em relação ao impeachment de Moraes”, escreveu em uma publicação que mobilizava a militância para o ato em Minas Gerais no dia 29 de setembro.

Outros parlamentares também fizeram uso do X para a campanha eleitoral, como Ricardo Salles (Novo-SP) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). Salles, que tentou concorrer à prefeitura pelo PL e foi rifado pelo partido, compartilhou uma vídeos em que dispara contra o prefeito Ricardo Nunes e “velhas raposas que buscam ludibriar o presidente Bolsonaro”. Durante o debate da TV Globo, publicou um emoji de um boné azul em alusão ao usado por Marçal nos embates televisivos, o que foi comemorado por seus seguidores.

O X foi derrubado no Brasil depois de se recusar a nomear um representante legal no país. Desde o início do ano a plataforma vinha se recusando a obedecer às ordens de Moraes para suspender perfis. As restrições foram referendadas pela Primeira Turma do STF.

O estopim dessa briga foi a determinação de Moraes para que a rede de Elon Musk tirasse do ar nove perfis de bolsonaristas que fizeram postagens de intimidação e ameaça contra delegados da Polícia Federal — como Fábio Shor e Raphael Astine — envolvidos nos inquéritos das milícias digitais e da tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro.

O site foi retomado na última terça-feira com autorização de Moraes, depois que Musk e o X nomearam a advogada Rachel Villa Nova Conceição como sua representante no Brasil e pagaram as multas judiciais.

Mas a grande quantidade de postagens dos parlamentares e o engajamento expressivo que elas obtiveram sugere que parte considerável da militância bolsonarista burlou o bloqueio, ainda que uma parcela desse movimento virtual tenha origem na comunidade brasileira no exterior.

Nós questionamos os parlamentares sobre o que teria balizado a estratégia de divulgação no X, uma vez que não há voto em trânsito no exterior para eleições municipais e os eleitores brasileiros, em tese o público alvo das publicações, não teriam acesso ao conteúdo.

Até o fechamento da reportagem, apenas Zambelli se pronunciou a respeito do tema. A deputada alegou que apenas “não quis parar de publicar” sobre as eleições e justificou que as postagens foram feitas no exterior através de terceiros – algo também alegado publicamente pelo senador Sergio Moro e sua esposa, a deputada Rosangela Moro.

“Uma amiga dos EUA fez todos os posts”, garantiu Zambelli à equipe do reportagem.

Enfrentamento ao Supremo

Em alguns casos, a postura no X foi de enfrentamento público à medida do Supremo.

Em clara referência à ordem para derrubar a plataforma, o senador Jorge Seif, que escapou de um processo de cassação iniciado na gestão de Moraes à frente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), citou no início de setembro um trecho de um voto do então ministro do STF Mauricio Correa de 1996.

Nos autos em questão, o magistrado defendeu a premissa de que ninguém é “obrigado a cumprir ordem ilegal”, mesmo que “emanada de autoridade judicial”, e que “é dever de cidadania opor-se à ordem ilegal”, em um processo que nada tinha a ver com redes sociais ou liberdade de expressão.

Seif também citou frases atribuídas a ex-presidentes estadunidenses, como Thomas Jefferson, Franklin Roosevelt e John Kennedy, que falam em luta pela liberdade, “grande sacrifício” e “tirania”.

Seif não retornou às mensagens da equipe da reportagem e nem esclareceu se fez uso de aplicativos de VPN. O espaço segue aberto.

Já o senador Rogério Marinho usou a rede para divulgar o ato de 7 de setembro pelo impeachment de Alexandre de Moraes.

“A caminho da Paulista para abraçar o povo brasileiro em defesa de nossa liberdade, contra os abusos e arbitrariedades cometidas contra a democracia. E na segunda, dia 9 de setembro, iremos entregar ao Senado o novo pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes”, escreveu Marinho na tarde do dia 7.

Ex-vice de Bolsonaro, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) respondeu que não iria se manifestar sobre as publicações. No período, Mourão criticou o plano do governo Lula de homenagear movimentos sociais como o MST e o MTST durante o desfile de 7 de setembro e a resposta da gestão petista às queimadas.

Aproveitando as brechas

Houve também quem aproveitasse brechas na decisão do STF para publicar nas redes. Foi o caso de Eduardo Bolsonaro, que publicou uma série de tweets contra Alexandre de Moraes durante uma passagem pelos Estados Unidos, onde se reuniu com congressistas do Partido Republicano que têm adotado iniciativas para pressionar Moraes.

Neste intervalo, Eduardo compartilhou fotos com lideranças dos EUA e repostou tuítes do perfil “Alexandre Files”, mantido pelo próprio X com o objetivo de divulgar decisões sigilosas de Moraes nos inquéritos que determinaram a suspensão de perfis ou a remoção de conteúdos na plataforma. Também gravou um vídeo comentando o uso de tecnologias para burlar o bloqueio.

“Até um tempo atrás esse negócio de VPN era coisa de venezuelano para fugir do regime e conseguir mostrar os protestos de rua. E agora o Brasil está nessa história bizarra”, comentou o parlamentar.

Eduardo, porém, também fez publicações no dia 7 de setembro, quando discursou na Avenida Paulista. Em uma delas, destacou, em inglês, que “ninguém foi ao desfile oficial do 7 de setembro de Lula. Mas nas ruas de São Paulo [pessoas estão] apoiando Jair Bolsonaro e demandando o impeachment de Alexandre de Moraes”. Procurado, o deputado não esclareceu como publicou os registros do ato.

Já o pai, Jair Bolsonaro, e seu irmão Carlos Bolsonaro (PL-RJ) aproveitaram o retorno irregular do X no país em 18 de setembro para publicar conteúdos na rede. Na ocasião, o site voltou ao ar brevemente depois que Musk driblou os provedores de internet no Brasil com uma estratégia que “disfarçou” os servidores da rede, que passaram batidos pelos filtros de bloqueio.

Em sua mensagem, o ex-presidente cita “graves retrocessos à liberdade no Brasil” e parabeniza a “pressão que fazem as engrenagens circular na defesa da democracia no Brasil”, em referência à suspensão do X, e criticou uma série de decisões de Alexandre de Moraes – inclusive o congelamento das contas da StarLink, empresa de Elon Musk, para garantir o pagamento de multas atribuídas ao X.

Os candidatos do PL à prefeitura de Belo Horizonte e Recife (PE), Bruno Engler e Gilson Machado também aproveitaram a brecha, mas para reproduzir conteúdos de teor eleitoral.

Nesses casos, não foi necessário uso do VPN para acessar a rede e, por isso, não houve descumprimento da ordem judicial.

Ainda não está claro como a PF e as autoridades judiciais desvendarão se houve o uso de tecnologias por parte dos parlamentares para burlar o bloqueio, já que essas tecnologias são criptografadas e representam um desafio até mesmo para países que já baniram algumas redes sociais, como a China e a Rússia.

Mas o histórico do próprio X, agora disponível para todos os usuários brasileiros, deixa claro que, com ou sem brechas legais, o bolsonarismo desafiou Alexandre de Moraes.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/bolsonaristas-criticos-de-moraes-fizeram-campanha-eleitoral-no-x-durante-bloqueio/