No campo “grau de instrução”, o cadastro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informa que a candidata tem “Ensino Médio Incompleto”. Mas isso deve mudar em breve, conforme sugere o campo “ocupação”, onde ela se encaixa na categoria “estudante, bolsista, estagiário e assemelhados”. Thamires da Silva Lima — nas urnas, Thamires Rangel, do Partido da Mulher Brasileira (PMB) — completou 18 anos no dia 1º de agosto de 2024 e, no domingo passado, tornou-se a vereadora mais jovem eleita no Brasil. Ela também foi a única mulher a conquistar uma das 25 cadeiras da Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.
Na política, Thamires adotou o sobrenome de seu pai, Thiago Rangel, empresário campista e deputado estadual filiado ao Podemos. O apoio à filha foi além da participação assídua em comícios e carretas: dos R$ 119.239,00 recebidos pela candidata em doações de campanha, R$ 41.500,00 (34,8%) foram desembolsados por Thiago Rangel. Entre o incentivo familiar e o prestígio conquistado nas urnas, ela tem agora o desafio de demonstrar sua própria identidade política. E tem mostrado que, quando se trata de suas convicções, há divergências com o deputado.
Uma dessas discordâncias envolve a homenagem de Thiago a Pablo Marçal, figura com quem Thamires não se identifica, especialmente pelas declarações desrespeitosas sobre mulheres. Em setembro deste ano, o influenciador e então candidato à prefeitura de São Paulo foi indicado por Thiago Rangel para receber a Medalha Tiradentes, a maior honraria da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), por sua trajetória no mercado de desenvolvimento pessoal e influência no empreendedorismo digital.
— Eu respeito as decisões do meu pai, mas tomo as minhas próprias. Não me interesso por essa homenagem, pois não me identifico com as visões do Marçal, especialmente porque ele fez declarações desrespeitosas sobre as mulheres, o que vai contra ao que eu acredito — afirma.
Sob críticas, Thiago Rangel retirou o projeto de homenagem, justificando-se com a “necessidade de revisão da proposta”, especialmente depois que a temperatura no primeiro turno das eleições em São Paulo subiu além do razoável. O pedido de arquivamento foi publicado no Diário Oficial, encerrando a polêmica.
— Ele esteve ao meu lado, apresentando amigos da política. A ajuda dele foi muito importante para que as pessoas me dessem credibilidade — diz, reforçando que sua atuação é guiada por princípios próprios, , voltados para causas sociais, como a defesa das mulheres, dos jovens e da educação.
Determinada a trilhar um caminho próprio, Thamires inicia sua atuação política em um cenário de baixa representatividade feminina na Câmara Municipal. Ela enxerga a candidatura como uma nova fase para a juventude de Campos e promete lutar por mudanças, priorizando a qualificação dos jovens e o desenvolvimento de regiões mais carentes do município.
— Quero abrir a mente das pessoas para causas importantes, como a defesa das mulheres, dos jovens, da educação e do transporte. Eu me descrevo como alguém que busca o equilíbrio. Defendo causas sociais, mas acredito que a população de Campos de Goytacazes, em geral, é mais conservadora. Seria interessante inserir o ideal das mulheres nessas discussões — analisa, destacando também a importância de promover debates sobre questões sociais e garantir espaço para a diversidade de opiniões. — A liberdade religiosa é um direito, e isso deve ser respeitado. Em minha cidade, há um ambiente conservador, mas eu acredito que toda forma de amor é válida.
Uma de suas principais propostas é a qualificação da educação dos jovens de Campos.
— Meu primeiro projeto consiste em qualificar jovens ao saírem da escola. Muitos não têm perspectiva de ingressar no ensino superior e acabam presos em subempregos. Quero oferecer planejamento de vida e cursos de qualificação para dar a esses jovens mais oportunidades — revela.
A futura vereadora ainda pretende ingressar na faculdade de Direito, e acha que essa formação será importante para sua trajetória política:
— Vejo uma forte conexão entre o Direito e o Legislativo, e acredito que posso criar medidas mais efetivas para a população. Mesmo sendo jovem, acredito que minha representatividade é importante, e vou poder defender grupos que, muitas vezes, são esquecidos, como mulheres e jovens.
Representatividade feminina e desafios
A falta de mulheres na Câmara de Campos entre 2020 e 2024 é outro ponto de preocupação para Thamires, que considera a baixa representatividade feminina na política um atraso.
— Infelizmente, as mulheres não estão inseridas na política da cidade, com uma representatividade de fato na Câmara Municipal. Enquanto municípios vizinhos possuem mulheres no comando das prefeituras, Campos parece que ficou parada no tempo — aponta ela.
E embora o início de sua carreira política seja desafiador, Thamires acredita que pode conciliar sua trajetória com a vida acadêmica, e transformar realidades.
— Sempre fui apaixonada por projetos sociais, pois acredito que é possível mudar a realidade das pessoas de forma leve e eficaz. Só o fato de conseguir implementar um projeto esportivo para tirar crianças da rua e ensiná-las já é algo transformador — garante ela, que também promete olhar para a população que mora mais longe do centro de Campos, em localidades como Guarulhos, Ribeirão de Amaro e Santo Amaro. — São bairros com necessidades urgentes, e quero garantir que eles sejam priorizados.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/vereadora-mais-jovem-do-brasil-eleita-em-campos-dos-goytacazes-rj-discorda-do-pai-deputado-sobre-homenagem-a-pablo-marcal/