Fortalecido após a reeleição em primeiro turno no Rio, o prefeito Eduardo Paes (PSD) articula um movimento para se contrapor ao presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar (União), na próxima eleição ao comando da Casa, no início de 2025. Aliado próximo de Paes, o deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ) iniciou sondagens a caciques de PL, PP e MDB, que já tiveram entreveros com Bacellar, para organizar uma chapa de oposição ao deputado.
Desde semana passada, Paes passou a demarcar Bacellar como o principal adversário para a eleição estadual de 2026 — apesar de ambos negarem, até aqui, a intenção de concorrer ao governo. Em entrevista ao jornal do GLOBO, o prefeito fez um aceno ao governador Cláudio Castro (PL) para que se aliasse a “parte da oposição”, na qual incluiu o PSD, contra “ameaças e extorsões” que atribuiu à “turma que comanda a Alerj”.
O argumento de Paes foi endossado por Pedro Paulo, que citou o MDB, partido do secretário estadual de Transportes, Washington Reis, e o PP, do deputado federal Doutor Luizinho, como possíveis aliados na empreitada.
“Precisamos proteger o Governo do Estado, enfraquecido, do quinto escalão da política fluminense. (…) PSD, MDB, PP, que saíram vitoriosos nas urnas (em 2024), têm que dar um basta. A começar pelo comando da Alerj”, escreveu Pedro Paulo, na rede social X, na última quinta-feira.
Obstáculos para 2025
Apesar da ambição, as bancadas dessas três siglas têm tamanho reduzido, e somarão no ano que vem 13 dentre 70 deputados na Alerj. A declaração de Pedro Paulo ocorreu antes de vir à tona o caso de infecção por HIV em seis transplantados na rede estadual de saúde, envolvendo uma clínica de parentes de Doutor Luizinho. O episódio desgastou o cacique do PP, que já foi secretário estadual de Saúde e manteve apadrinhados à frente da pasta por toda a gestão Castro.
Cobiçado pela cúpula do PSD, o apoio do PL à empreitada também tem obstáculos. O PL terá em 2025 a maior bancada da Alerj, com 17 deputados, dos quais metade forma uma ala bolsonarista bastante alinhada a Bacellar. Outra ala, composta por políticos de fora da capital e mais resistente a Bacellar, perderá um integrante, Doutor Serginho (PL), eleito prefeito de Cabo Frio.
O deputado federal Altineu Côrtes, presidente do diretório estadual do PL, protagonizou um embate público com Bacellar em sua primeira eleição à presidência da Alerj, em 2023, por divergir de acordos para a distribuição de comissões da Casa. Desde então, Bacellar e Altineu recompuseram a relação, mas ela não chega a ser de total confiança. Interlocutores dizem que o presidente da Alerj se ressente do que interpreta como tentativas de “conspirar” contra ele.
Em 2023, parte do PL, do PSD e de bancadas de esquerda na Alerj, como PT e PSOL, ensaiou uma candidatura de oposição a Bacellar, apoiado à época por Castro. A avaliação de pessoas envolvidas na trama é que o movimento não prosperou por ter sido feito de última hora, o que levou vários integrantes desses partidos a hesitarem em romper acordos anteriores com Bacellar.
Mas os caciques de PP e MDB, que se alinharam a Bacellar à época, vêm acumulando incômodos com o presidente da Alerj. Nas disputas por prefeituras neste ano, Reis e Luizinho estiveram em lado oposto ao de Bacellar nos maiores colégios eleitorais do Rio.
Paes busca aglutinar, em torno de uma candidatura, um sentimento comum a diferentes lideranças partidárias, que falam reservadamente em “frear” a influência de Bacellar sobre Castro. Nos bastidores, o presidente da Alerj vinha pressionando Castro a encerrar seu governo com antecedência, no primeiro semestre de 2025 — quando vagará uma cadeira no Tribunal de Contas do Estado (TCE), com a aposentadoria do conselheiro José Maurício Nolasco em maio.
Castro já sinalizou que não aceitaria o posto, prometido originalmente a seu chefe de gabinete no governo estadual, Rodrigo Abel, cuja indicação, porém, enfrenta dificuldades entre os deputados.
A saída antecipada de Castro, em meio à alta rejeição, seria uma tentativa de evitar que qualquer candidato próximo ao governo, caso do próprio Bacellar, concorresse em 2026 sendo massacrado por essa vinculação. Na campanha deste ano à prefeitura, por exemplo, Paes insistiu em vincular o bolsonarista Alexandre Ramagem (PL) a Castro.
Castro, no entanto, foi beneficiado na quinta-feira por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de trancar inquéritos da Polícia Federal contra ele. O governador anunciou que seguirá na cadeira até o fim de 2026 e não concorrerá a nada. No curto prazo, o gesto representou uma derrota para Bacellar, que busca estreitar laços com a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), descontente com Castro, de olho em 2026.
Com informações do GLOBO.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/fortalecido-pela-reeleicao-paes-articula-movimento-para-contrapor-bacellar-na-disputa-pela-presidencia-da-alerj/