O segundo grande apagão que afetou cidades de São Paulo, especialmente a Capital, em poucos meses (que, inclusive, entrou no quinto dia para mais de 100 mil imóveis) levantou, mais uma vez, a hipótese de se enterrar os cabos de energia no Brasil.
Em outros países, a medida é adotada com sucesso, pois, em tese, a técnica impede que árvores caiam sobre os fios, ou que fenômenos, como chuvas e ventanias, causem danos ao sistema. Também seria uma forma de impedir o roubo da fiação, feita de cobre, metal muito visado pelos criminosos.
Contudo, fazer esse tipo de conversão, ou quaisquer outros métodos que diminuam as chances de queda de energia não é algo fácil. No Brasil, somente 1% da distribuição do sistema é realizado via redes subterrâneas, de acordo com estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada.
Brasil possui poucos cabos de energia enterrados
- Entre esse 1%, um exemplo é o bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro;
- Desde a década de 1940, os fios passam por uma subestação subterrânea;
- Portanto, em mais de 80 desde que o Brasil começou a implementar essa técnica, ela pouco avançou;
- A cidade do Rio de Janeiro (RJ) é a que mais possui fiações elétricas subterrâneas, com 11% do total, seguida por São Paulo (SP), que tem 7%;
- Exemplos de cidades usam a técnica são Nova York (EUA), Londres (Inglaterra), Paris (França) e Buenos Aires (Argentina). Ela dá maior confiabilidade, menos chance de queda de energia, vida útil de mais de 30 anos e uma paisagem mais limpa, com menos poluição visual.
Mas, apesar de todas essas vantagens, nem tudo são flores. Brasília (DF) é um exemplo. A cidade possui 74% de fiação subterrânea, mas não escapa dos apagões, que já foram vários na cidade.
E há desvantagens determinantes que podem explicar a pouca adesão do País: o alto custo de implantação, que pode chegar a dez vezes mais que a fiação em postes terrestres, e a manutenção igualmente cara e mais demorada por conta de ser mais difícil de se encontrar o defeito.
Edval Delbone, professor de Engenharia Elétrica no Instituto Mauá de Tecnologia, explica ao Olhar Digital que, além do alto custo, enterrar os cabos de energia é algo muito complexo e que demanda muito tempo, necessitando de interdições de estradas, rodovias, ruas e avenidas para ser executado. Contudo, ele afirma que é algo que vale a pena.
“A rede aérea está vulnerável a chuvas fortes, ventos, choques de carros, de caminhões, balões, pipas com linhas metálicas que provocam curto-circuitos. Então, tem vários motivos que ocorrem interrupções de energia. Quando a rede é subterrânea, ela fica bem protegida e é muito difícil de ocorrer desligamentos. Então, o prejuízo evitado quando a rede é subterrânea vale a pena”, afirma.
Delbone diz ainda que, apesar do custo, a economia que o sistema gera a longo prazo faz com que sua instalação valha a pena. “E, além da economia dos prejuízos evitados, a cidade fica mais bonita, porque aquele monte de cabo sobre os postes, aquela poluição visual numa rede subterrânea, ela é evitada”, continua.
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Como é uma estação subterrânea de energia?
O especialista também conta que uma rede subterrânea de cabos de energia não é algo simples, pois depende de túneis semelhantes aos do metrô, mas mais estreito. “Mas tem que caber transformador, equipamentos com chaves seccionadoras, disjuntores, tem que [permitir] circular as pessoas que vão fazer a manutenção. Por conta disso, ela é um túnel, não é simplesmente uma canaleta, por isso que demanda tempo e dinheiro”, diz.
Na opinião do profissional, uma saída para possibilitar a implementação do sistema é a partir de um plano-diretor, em São Paulo e nas cidades grandes do Brasil, com vistas a enterrar alguns quilômetros de cabo por ano. “Embora seja demorado, se tiver uma meta e ser cumprida, ao longo de vários anos, nós teremos toda a rede enterrada”, finaliza.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/10/16/pro/apagao-em-sp-enterrar-cabos-de-energia-nao-e-algo-facil-saiba-motivos/