Com informações da coluna de Miriam Leitão em O Globo, na íntegra, leia abaixo:
“O presidente do PSD, Gilberto Kassab, diz que gostaria que o 8 de janeiro não tivesse acontecido, mas usa a expressão “tentativa de golpe” para definir o que aconteceu. Ele defende o centro político comparando com o ser humano. “O ser humano tem a orelha esquerda, a orelha direita e a cabeça no centro”. Ele diz que o partido tem um projeto presidencial, e define o PSD como um partido que tem um projeto liberal na economia e forte ação social. Ele me concedeu entrevista para a Globonews.
O PSD venceu até agora em 882 e tem dez disputas no segundo turno, entre elas duas capitais Belo Horizonte e Curitiba, Piracicaba, São José dos Campos, Ribeirão Preto, Caucaia, Londrina, Uberaba, Olinda, Canoas. Ele é considerado o vencedor dessas eleições. Mas qual é o projeto do PSD? Afinal, o que é o PSD? Foi o que eu conversei com o Kassab. Siga a entrevista aqui, ou veja no Globoplay.
Vamos começar por um problema de São Paulo. Tem uma briga entre o governo federal e o governo municipal sobre de quem é a culpa por essa crise da falta de luz. O prefeito acha que é o governo federal, o governo federal acha que é a prefeitura, só que o senhor está apoiando o prefeito para a reeleição e o ministro das Minas e Energia é do seu partido. Quem está com a razão nessa briga?
Gilberto Kassab: É evidente que a empresa não presta bom serviço. Isso é claro. Ainda no caminho, vindo para a gravação ouvindo aqui uma das emissoras de rádio dizendo que apenas 1% do que havia sido comprometido pela empresa em termos de poda de árvore foi cumprido. Então, é evidente que falta fiscalização. Uma concessionária precisa ser fiscalizada com muito rigor. E, para ser sincero, as agências brasileiras precisam melhorar a sua postura de fiscalização como um todo, e não é diferente na Aneel.
Eu não vou fulanizar, falar de quem é a culpa, mas a Aneel precisa ser mais dura, precisa ver que instrumentos tem o governo federal, a sociedade, para pressionar a Aneel para que ela endureça a sua relação. Eu até, nesse momento, estudando um pouco a questão jurídica, eu não sou advogado, estou entre aqueles que defendem uma intervenção na empresa. Precisa ter uma ação exemplar, o brasileiro quer isso, o paulistano quer isso, precisa efetivamente ter uma punição para que as pessoas entendam que existe fiscalização, que é um país sério, um país que aposta na parceria com o capital privado, com a empresa privada, mas ela não pode apenas ter as suas receitas e não comparecer com as suas obrigações. É o que acontece aqui em São Paulo com a Enel.
O governo federal gostaria de fazer uma mudança nas agências, inclusive fazendo mandatos coincidentes com o mandato do presidente. O senhor acha que isso faz sentido?
Gilberto Kassab: Nenhum. Deixa de ser uma agência. As agências são instrumentos do Estado, não de governo. Senão o governo assume e vai nomear, aí passa a ser uma ação de governo.
Mas sabe que o seu ministro gosta dessa ideia, né?
Gilberto Kassab: É, eu acho que ele deveria aprofundar e se me faz essa pergunta, eu sempre sou muito franco no que eu penso. Eu, a princípio, tenho uma posição bastante distante disso, porque ela vai se aproximar muito como um instrumento de governo e não de Estado.
Agora, no segundo turno, tem duas disputas importantes do seu partido nas capitais. São três disputas de capitais que o senhor está envolvido, mas duas do PSD, que é Belo Horizonte e Curitiba. Belo Horizonte e Curitiba têm uma coisa em comum: seu partido vai enfrentar forças bolsonaristas, seja no PL, no caso de Belo Horizonte, seja do PMB mais uma candidata que se identifica com Bolsonaro. Então, o senhor vai precisar atrair a esquerda. Com que argumentos o PSD atrai a esquerda para o seu lado?
Gilberto Kassab: Eu acho que mais do que a esquerda, o PSD está conseguindo conquistar o centro. São duas candidaturas de oposição às nossas que são de direita, têm o nosso respeito, mas nós vamos vencer as eleições, as pesquisas são muito favoráveis, porque mostra com muita nitidez que o eleitor de centro em Belo Horizonte, o eleitor de centro em Curitiba, ele quer uma proposta mais moderada e os candidatos que abraçam essa moderação do diálogo é justamente o Fuad, em Belo Horizonte e o Eduardo, em Curitiba. Eu acredito que são candidatos atrelados a lideranças importantes no campo da centro-direita, o Eduardo e o Fuad, e que, nessa reta de chegada no segundo turno, estão se distanciando nas pesquisas, porque mostram que o adversário está com dificuldade de avançar no centro, e eles estão avançando com muita nitidez.
Mas aqui em São Paulo a briga é contra a esquerda, então isso aí não gera uma contradição? Como é que se equilibra isso aí?
Gilberto Kassab: Aqui em São Paulo não é o PSD, mas é o nosso candidato.
Aliás, é uma coisa curiosa, que é o seguinte, aqui o candidato é MDB, o senhor é PSD, apoia o MDB, que está contra a esquerda e tem o apoio do governador, que é do Republicanos. Quer dizer, como é que explica essa salada partidária do Brasil?
Gilberto Kassab: Não é salada, é própria da democracia. O nome é composição. O Ricardo Nunes conseguiu fazer uma composição bastante ampla, abraçando a direita e o centro, e isolou o candidato Boulos, o Guilherme Boulos, e ficou o único, exclusivamente, com a esquerda. E essas eleições mostraram, se você pegar o número de votos que tiveram os partidos de direita…
E o centro, nessas eleições, foi um eleitor majoritário. O centro que elegeu mais prefeitos, o centro que conquistou mais votos.
Você comparando os votos que tiveram PSD, MDB, União Brasil, você vai ver que a somatória desses votos para prefeito no primeiro turno, ela é bem maior que a somatória dos votos da direita, que é o PL, o PP, o Republicanos, ou da esquerda, a federação do PT, o PSOL, o PDT e o PSB.
No segundo turno, esse eleitor majoritário de centro aqui em São Paulo, ele está caminhando majoritariamente com o Ricardo Nunes, o que está fazendo a diferença na pesquisa, nos dando em pesquisas internas, algo entre 10% e 15% de vantagem até hoje.
Pois é, mas eu queria continuar nessa contradição do partido, que é, ainda que o senhor esteja explicando que o senhor está disputando o eleitor de centro, o fato é que em Curitiba e em Belo Horizonte, precisa de atrair a esquerda e aqui precisa hostilizar a esquerda, o seu candidato. Essa contradição, como é que se equilibra? A campanha daqui pode contaminar outras cidades em que o PSD está?
Gilberto Kassab: Não, não há contradição nenhuma. A democracia, ela vive de três cantos: o campo da direita com as suas inclinações, centro-direita um pouco mais radical, o campo da esquerda com as suas inclinações e o centro, o centro democrático com as suas inclinações. Um partido de centro ele apanha mais porque ele apanha dos radicais de esquerda e dos radicais de direita. Mas ele tem mais facilidade de diálogo. Na hora que ele dialoga com a esquerda, ele apanha a direita. Mas é próprio disso.
O ser humano tem a orelha esquerda, a orelha direita e a cabeça no centro. E o PSD, ele está no centro, o PSD tem capacidade de diálogo, isso falando em Curitiba e Belo Horizonte.
Mas o Ricardo Nunes é um candidato com o mesmo perfil, então não há nenhuma incoerência. O candidato de centro tem facilidade, por isso que, em geral, quando um candidato de centro vai para o segundo turno, ele vence as eleições. Foi assim quando eu venci a Marta Suplicy aqui para prefeitura. No primeiro turno, Geraldo Alckmin, ele não conseguiu ir pro segundo turno. Todo eleitor dele veio comigo.
Foi assim com o Fernando Henrique Cardoso nas eleições que ele ganhou no primeiro turno, onde foi se consolidando uma tendência de centro. E tá sendo assim com o Ricardo Nunes. O Ricardo, que tem uma posição de centro, o Boulos de esquerda. A direita jamais vai votar na esquerda, então sobe o centro. Essa é a razão do Ricardo.
E a mesma coisa em Curitiba. Curitiba não tem nenhum sentido. Isso aqui é um candidato de direita, uma candidata de direita, um candidato que está se associando ao centro. A direita vota nele. A esquerda não vai votar na direita, vota no centro.
O senhor está, assim, é o chefe de governo e de relações institucionais do governo de Tarcísio, que foi do governo Bolsonaro e sempre diz, sempre quando ele é perguntado, ele diz que o líder dele é Jair Bolsonaro. Mas o senhor está com três ministros no governo do Lula. Até quando o senhor acha que consegue manter esse um pé em cada canoa?
Gilberto Kassab: Vamos lá. Que partido é o do Tarcísio?
Republicanos.
Gilberto Kassab: O Republicanos tem ministro. Que partido é o MDB? O MDB tem ministro, inclusive está me apoiando. Que partido é o PP? O PP tem ministro. O PL não tem ministro, mas tem uma boa relação. Então, não há nenhuma incoerência.
A democracia brasileira, infelizmente, porque eu sou contra a coligação, trabalhei muito para acabar as coligações das proporcionais, vereador, deputado estadual, deputado federal, acabaram, e trabalho muito para que acabe no Brasil as coligações majoritárias. Na medida que elas existem, existe naturalidade nas alianças estaduais, em alguns momentos, incompatíveis com as federais.
O PSD, aqui em São Paulo, foi a única força política que apoiou o então candidato Tarcísio, tanto é que indicamos o vice. O resto tudo estava com o Rodrigo Garcia, você lembra bem. Fizemos o vice e estamos participando do governo até porque era para participar mesmo, eleição é para isso.
No plano federal, em 2018, por exemplo, o PSD apoiou o Geraldo Alckmin para presidente. Perdemos as eleições, ficamos quatro anos sem participar do governo Bolsonaro. Agora é diferente, o PSD não teve candidato. Nós tentamos, você sabe disso, quantas vezes eu vim aqui na Globo com o Rodrigo Pacheco, o PSD fez de tudo para lançar o Rodrigo Pacheco, candidato a presidente. Quando ele abriu mão da sua pré-candidatura, fizemos de tudo para lançar o Eduardo Leite, não foi possível. Acabamos ficando sem candidato, liberando as nossas lideranças, os nossos diretórios estaduais, para cada um seguir o seu caminho. Um caminho também totalmente correto, politicamente correto.
Aqueles que apoiaram o presidente Lula, corretamente, estão participando do governo. Só falta eu pedir para o Otto Alencar não participar do governo. Ele, desde o primeiro momento, esteve com o presidente Lula. Eu acho que o governador Ratinho, que não apoiou, não vai sentir a vontade de participar do governo do presidente Lula. Então, não há nenhuma incoerência, não.
Ao contrário, o PSD, ele tem pautado a sua conduta pela coerência e isso que tem feito ele crescer.
E ele crescendo assim, ele tem um projeto presidencial? Ele quer ser como o PSDB, ter um projeto presidencial?
Gilberto Kassab: Lógico, o partido que não tem projeto é um partido que está condenado a ser dissolvido, a desaparecer. Temos bons quadros do PSD. Tem o Topázio em Florianópolis, que ganhou a eleição no primeiro turno, um excelente prefeito. Tem o Ratinho, tem o Eduardo Pimentel em Curitiba. Tem o Eduardo Paes do Rio de Janeiro, o Pedro Paulo. Temos uma aliança aqui em São Paulo com o Tarcísio, que é a grande revelação da política brasileira. Hoje eu entendo o Tarcísio, ao lado do presidente da República, lógico, como um dos maiores líderes do país. Temos o Antônio Brito, temos o prefeito de São Luís, o Braide.
Então, é um partido que está se preparando, sim. É um partido com uma posição clara de centro, onde abraça na economia o liberalismo, mas vê com muito cuidado a questão social, defende investimentos expressivos no ensino público, na saúde pública, na defesa, na segurança.
Então, está crescendo por sua coerência e por estar conquistando bons quadros para a vida pública brasileira.
Por falar em Antônio Brito, qual o seu esforço? Com quem o senhor vai negociar para defender seu candidato na presidência da Câmara dos Deputados?
Gilberto Kassab: A presidência da Câmara é um colégio eleitoral fechado, são 513 deputados. A minha participação é muito mais na torcida. O Antônio Brito tem muita credibilidade, é um quadro de primeira linha, globalizado, culto, fala cinco línguas.
Mas você gosta tanto de articular, você não vai negociar ali após a ele, de outros partidos?
Gilberto Kassab: Não, mas daí é quem está à frente mesmo, Antônio Brito, com a sua qualidade, com a sua liderança, muito respeitado, muito ligado às questões sociais, às santas casas. Eu entendo ser ele um candidato muito forte e torço muito que ele ganhe a eleição.
Se ele ganhar a eleição, vai ganhar o Brasil, vai ganhar o Congresso pelo que representa ele como ser humano, como liderança política muito respeitada.
Teve 81% de reeleição de prefeitos que concorrem à reeleição e os analistas concordaram num ponto que as emendas parlamentares tiveram um jogo muito importante. Eu queria saber se o senhor concorda com esse raciocínio e o que o senhor acha das emendas nesse volume em que está que praticamente toma do executivo algumas de suas funções.
Gilberto Kassab: É evidente que concordo, porque um prefeito que recebe recursos e utiliza bem esses recursos, ele ganha credibilidade e aumenta a sua aprovação.
Em relação às emendas, é evidente que precisa de um freio de arrumação, precisa mais equilíbrio, precisa mais transparência, precisam estar vinculadas a programas de governo, a infraestrutura do país. E eu acho que, felizmente, hoje esse diálogo está acontecendo, isso é muito importante, porque são recursos públicos muito expressivos e que não podem ser desperdiçados em projetos que não contribuem para o avanço da infraestrutura brasileira.
O governo federal tem essa responsabilidade, o seu Orçamento precisa também está voltado para melhorar a nossa infraestrutura, porque é essa melhora na infraestrutura que vai gerar desenvolvimento, que vai gerar crescimento, que vai gerar geração de emprego.
Você acha que tem que continuar com esse volume tão alto de emendas ou esse freio de arrumação significa reduzir um pouco o volume?
Gilberto Kassab: A questão não é volume. Se você tiver o mesmo volume, mais ou menos…
É transparência.
Gilberto Kassab: Não, nem só transparência. Transparência é a premissa. Direcioná-lo para projetos específicos. Eu acho que a gente tem um projeto que está vinculado ao Orçamento do governo federal, vinculado a um programa de governo que prevê com o seu investimento a melhoria da infraestrutura brasileira, o deputado encaminha sua emenda para aquele projeto.
Não pode é desperdiçar pulverizando os recursos e o Brasil deixando de ter o seu recurso do orçamento federal vinculado à melhoria da nossa infraestrutura. Seja infraestrutura logística, de mobilidade, seja ela na qualidade do ensino público, da saúde pública, mas não pode se jogar o dinheiro para lá e para cá sem nenhuma coerência.
Presidente, o senhor acha que o Jair Bolsonaro vai continuar inelegível na sua avaliação? O senhor tem muita capacidade de análise política.
Gilberto Kassab: Olha, eu lamento muito que um ex-presidente da República esteja nessa condição. Não é bom para o país, não é bom para a nossa imagem no exterior. O Judiciário tem que cumprir suas funções. Eu torço que tudo isso que aconteceu tenha sido um grande equívoco, mas, na verdade, o que eu vejo é muita pouca vontade do Judiciário de mudar sua decisão.
Mas o senhor acha que há motivos? O que houve foi uma tentativa de golpe, tudo o que aconteceu?. Como é que o senhor avalia o que aconteceu?
Gilberto Kassab: Eu avalio com muita tristeza. Eu gosto da vida pública. Uma carreira, até já longevo, fui vereador em São Paulo, deputado estadual, duas vezes Federal, prefeito. Disputei eleições, venci. Fui ministro, hoje sou secretário do governador Tarcísio, com muita honra.
É muito triste porque…
É muito triste Bolsonaro ser inelegível ou ter havido uma tentativa de golpe?
Gilberto Kassab: É muito triste ver essa situação de esses grandes equívocos ou tentativas de golpe ou golpe com tantas pessoas envolvidas. Eu gostaria muito que isso não tivesse acontecido. Então, vamos aguardar o Judiciário se definir, vamos ver como vai acabar esse processo. Ainda não existe algo definitivo, mas eu acho que não vejo nada no horizonte que mude a decisão do judiciário.
Apesar de o senhor ter dito que tem um projeto presidencial, o senhor tem falado sempre que está no projeto do Tarcísio de Freitas, que é do Republicanos, então, se chegar em 2026, se houver a possibilidade de lançar um candidato próprio, o senhor ficará longe do Tarcísio de Freitas?
Gilberto Kassab: Se ele se lançar candidato a presidente? Primeiro, essa é a decisão dele, sair ou não candidato. Eu acho que o Tarcísio é a grande renovação da política brasileira. Eu tenho nele hoje o melhor quadro da política brasileira, muito bem preparado, muito inteligente, com capacidade de estruturar a equipe, por onde passou, saiu muito bem avaliado, e em governos totalmente diferentes do ponto de vista ideológico.
Foi muito bem no DNIT com a presidente Dilma, foi muito bem com o Michel Temer, no trabalho de concessões, foi muito bem com o presidente Bolsonaro, um governo totalmente oposto ao da presidente Dilma, um de direita, um de esquerda, e hoje vai muito bem no governo de São Paulo. São Paulo está se transformando sob o seu comando. Muitas inovações na infraestrutura, na saúde, no ensino, nas reformas administrativas que ele vem impondo ao estado.
Então, ele na hora certa vai definir se é candidato a governador, se é candidato a presidente. Eu espero que ele saia candidato, que ele continue na vida pública, não é?
Mas se for a presidente, aí o senhor não tem candidato próprio ou terá?
Gilberto Kassab: Não. A minha admiração pela qualidade do trabalho do Tarcísio, pela pessoa, me move do ponto de vista pessoal, porque eu não sou dono do partido, a sempre defender e acompanhá-lo.
Se o partido quiser outro caminho?
Gilberto Kassab: A questão é pessoal no primeiro plano. Eu sou presidente do partido e, na hora certa, o partido vai discutir qual é o rumo do partido. É importante hoje falar a minha opinião pessoal.
Por que os dois, o presidente Lula e o ex-presidente Bolsonaro ficaram tão afastados dessas eleições? Foi uma estratégia ou porque eles não puderam?
Gilberto Kassab: Eu acho que eles perceberam ao longo do caminho que o eleitor estava preocupado, como toda eleição municipal, preocupado com a questão municipal mesmo, com a iluminação pública, com o buraco na rua, com o posto de saúde, com a creche, com o recapeamento das ruas, um pouco com a segurança, porque a segurança é mais estado do que Prefeitura. Não tem muito discurso para a ideologia numa eleição de prefeito. A questão é local mesmo, de gestão.
Eu lembro, eu fui candidato a prefeito contra o Geraldo Alckmin, tinha sido três vezes governador, duas vezes e meia e tinha sido candidato a presidente da República, ele veio com discurso nacional, perdeu as eleições. O presidente Lula, naquela época, vinha com a Marta, falando do PT, do Brasil, perdeu a eleição. Dois anos depois, o Lula elege a Dilma e o Geraldo vira governador.
Você vê como a cabeça do eleitor, ela está focada na eleição municipal, nos problemas da cidade e, possivelmente, o Lula e o Bolsonaro perceberam isso.
Como é que você ouviu as críticas tão fortes que foram feitas ao senhor pela direita bolsonarista durante o primeiro turno? Até eu vi uma defesa forte que o governador Tarcísio fez do senhor numa entrevista.
Gilberto Kassab: Processo eleitoral, disputa eleitoral. Cada um querendo ganhar a eleição, uns se manifestam de um jeito, com mais ideologia, outros com mais gestão.
Mas isso não o agride?
Gilberto Kassab: Não, porque na verdade, realmente, eu não sou de direita, eu sou do centro. E o centro dialoga com a esquerda em vários momentos, como dialoga com a direita, como se compõe com a direita, nós estamos aqui apoiando o Tarcísio.
Acabei de falar que nós vamos acompanhar o Tarcísio, pelo menos pessoalmente, então não vejo… As extremidades têm muita dificuldade com o diálogo, essa é verdade.
Mas o motivo era não apoio ao impeachment de Alexandre de Moraes. O que o senhor acha dessa proposta de impeachment?
Gilberto Kassab: O PSD deixou liberado cada senador de acordo com a sua convicção. O senador Ciro Nogueira, que foi chefe da Casa Civil do Bolsonaro, não defendeu, não assinou.
O senhor defenderia isso se estivesse lá?
Gilberto Kassab: Eu examinaria com muito cuidado.
Muito cuidado a favor ou muito cuidado contra?
Gilberto Kassab: Não, com muito cuidado para ver a minha posição. Não sou senador, não examinei com cuidado as justificativas, quem pede, quem não pede. São questões, tanto é que o partido liberou. Essa foi uma decisão que eu participei, eu sou o presidente do partido. Foi cobrada uma posição do partido e o partido tomou a posição, liberou.
Aí você vê como é eleitoral, porque se for para criticar o PSD porque alguns senadores não assinaram, alguns assinaram. Então deveria ter criticado o Ciro Nogueira, o Romário, o Davi Alcolumbre, que eles estão apoiando para ele no Senado.
Então é o processo eleitoral. As redes sociais, elas comportam tudo.
O senhor, uma vez, chegou até a fazer uma frase que virou uma brincadeira, que o PSD não era partido nem de esquerda, nem de direita, nem de centro. Agora, o senhor define, é de centro.
Gilberto Kassab: É de centro.
Agora, o que é o projeto dele mesmo para o país? Por exemplo, na área de conservadorismo dos costumes, que é uma pauta muito forte no bolsonarismo, o senhor concorda com isso?
Gilberto Kassab: Você vê que temos diferenças em relação à direita. E essa frase, “não é de esquerda, nem de direita, nem de centro”, foi num contexto que ela foi extraída, onde o partido ainda não estava fundado. Eu falei, olha, está sendo construído um programa, estão sendo ouvidos todos. Esse programa está sendo construído pelo Guilherme Afif Domingos, depois foi consolidado e num momento certo nós vamos definir, se depender de mim, será um partido de centro. E acabou se tornando um partido de centro.
Mas aí qual é o projeto para o país?
Gilberto Kassab: Projeto de poder, como eu disse, um partido de centro, um projeto que é liberal na economia, defende do capital privado, defende as parcerias, defende um Estado voltado para as questões sociais, com investimentos expressivos no ensino público, na saúde, na segurança, não é?
E dessa maneira, com essas posições, com essa clareza, com lideranças que tenham conteúdo, que saibam defender essas posições, a gente vem crescendo.
Comparado com o início do PSDB, seria um PSDB ou mais a direita do PSDB?
Gilberto Kassab: Não, seria…O PSD não seria mais a direita, não. Seria mesmo mais o centro do PSDB.
Então tem um projeto social também forte, de inclusão?
Gilberto Kassab: Posso lhe afirmar.
O senhor é considerado uma pessoa muito hábil, que tem qualidades de habilidade política que meio que estão desaparecendo. A política está ficando muito mais bruta, às vezes, principalmente com a polarização. Com que político do passado o senhor se identifica?
Gilberto Kassab: O Elio Gaspari, com quem eu tenho uma relação muito boa, fala, Kassab você me lembra o Thales Ramalho. Eu não convivi com o Thales Ramalho. Outros falam o Tancredo Neves, o Juscelino Kubitschek. Eu acho que eu sou o Gilberto Kassab mesmo. Filho, com muito orgulho, do Pedro Kassab e da Yacy Kassab.
O senhor volta a disputar algum cargo?
Gilberto Kassab: Eu gosto de disputar eleições, sempre disputei, venci. Venci eleições para vereador na maior cidade do país, fui vereador, para deputado estadual, duas vezes federal, prefeito de São Paulo, eu gosto de disputar, gostaria muito, mas não é nenhuma obsessão, nenhuma obstinação não, eu gosto da vida pública.
Para 2026 tem algum projeto de candidatura ainda?
Gilberto Kassab: Se tiver circunstância eu gostaria muito, mas se não tiver eu vou compreendendo.
Mas no Legislativo ou no Executivo?
Gilberto Kassab: Tanto faz, porque eu me identifico muito com os dois. Eu gostei muito dos cargos executivos que eu tive, e não foram poucos. Foram, em todos os níveis, secretário municipal de Planejamento na cidade de São Paulo, secretário do estado de Governo, ministro de três pastas, Cidades, Comunicações, Ciência e Ecologia. E, por outro lado, no parlamento, também nos três níveis, vereador, estadual e federal. Gostei muito do Executivo e do Legislativo. Estou feliz hoje e serei feliz amanhã, seja no Legislativo, seja no Executivo. Eu gosto da vida pública.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/kassab-usa-a-expressao-tentativa-de-golpe-para-definir-o-que-houve-no-brasil-e-lamenta-que-tenha-acontecido/