Interessado no apoio do Palácio do Planalto e nos votos da bancada do PT na disputa pela sucessão de Arthur Lira (PP-AL), o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), vem adotando uma guinada estratégica em direção à esquerda. O deputado, que anteriormente costumava se envolver em embates com o PT, seu tradicional adversário em várias eleições na Bahia, agora tem investido em uma aproximação com o partido. Essa mudança é visível em suas recentes aparições ao lado do presidente Lula, em visitas frequentes ao Planalto e em encontros com movimentos como o MST e líderes sindicais.
Embora esses acenos já ocorressem de forma mais discreta, eles se tornaram mais evidentes e regulares a partir de setembro, quando Arthur Lira retirou seu apoio a Elmar Nascimento e passou a buscar um consenso em torno da candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB).
Desde essa reviravolta, Elmar intensificou sua presença no Palácio do Planalto e passou a manter um diálogo constante com o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Apesar do histórico de desentendimentos entre os dois, especialmente durante o início do governo, quando Elmar criticou a condução das emendas parlamentares, ele e Rui Costa conseguiram superar as divergências e restabeleceram uma relação de trabalho.
A tentativa de aproximação com a esquerda extrapola o governo. Nesta segunda-feira, por exemplo, o parlamentar se reuniu com membros do Movimento Sem Terra (MST) e ontem foi a São Bernardo do Campo, no ABC paulista, para um encontro com metalúrgicos — a atuação no sindicato foi a origem da trajetória política de Lula.
Na semana passada, durante os festejos do Círio de Nazaré, em Belém, Elmar postou uma foto ao lado de Lula e do deputado Antônio Brito (PSD-BA). Recentemente, o parlamentar chegou a “fazer o L”, durante ato de apoio à candidatura de Lurdinéia do Zé Branco, petista que concorreu à prefeitura de Andorinha, no norte da Bahia.
Além dos acenos aos governistas, a posição de Elmar como líder partidário permitiu gestos mais concretos. No mês passado, o partido dele, o União Brasil, moveu membros da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, com o objetivo de obstruir a PEC da Anistia, que tramita no colegiado, por exemplo.
Depois da reviravolta na eleição da Câmara que direcionou o apoio de Lira a Hugo Motta, Elmar passou a ver no Planalto e no PT os principais trunfos.
O partido de Lula tem uma bancada de 68 deputados, só atrás do PL na Casa, e tem à mesa uma oferta de ocupar a primeira-vice-presidência se o líder do União Brasil assumir o comando da Câmara. Ele e o líder do PSD, Antônio Brito, que também almeja a cadeira de Lira, têm alinhavado um acordo de apoio em caso de segundo turno da disputa.
Os dois parlamentares tentam construir suas candidaturas com o apoio governista e têm tentado isolar Motta do Planalto.
A aliados, entretanto, Lira já afirmou que pretende contar com o apoio dos petistas. O líder do PT na Câmara, Odair Cunha, já declarou que o partido de Lula tende a estar ao lado da candidatura de Motta, que compõe o “blocão” da Câmara, formado em 2023, na reeleição de Lira.
Sob reserva, petistas ainda veem a movimentação de Elmar com cautela e lembram que o deputado tem uma trajetória de apoio a pautas que vão na contramão dos desejos da esquerda. A bancada liderada por Elmar foi favorável a pautas caras ao Planalto, como o marco temporal para a demarcação das terras indígenas, se posicionou como oposição na CPI do MST e ajudou a derrubar o decreto de Lula que atualizava o marco legal do saneamento básico, por exemplo.
Voltando mais no tempo, Elmar apoiou o impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016 e foi ácido na crítica ao PT.
— Para extirpar da vida nacional esta organização criminosa que sequestrou o Brasil e a Bahia — disse o parlamentar, que na época integrava o DEM, ao defender a cassação da ex-presidente.
Com informações de O Globo.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/elmar-nascimento-tenta-se-aproximar-do-pt-em-busca-de-apoio-a-sucessao-na-camara-e-mantem-encontros-com-sindicalistas-e-mst/