A vitória de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos trouxe uma nova onda de reações entre aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A notícia foi recebida com apreensão entre auxiliares do governo brasileiro, que enxergam na eleição de Trump um sinal de fortalecimento do conservadorismo e do avanço da direita, fatores que podem impactar diretamente o cenário político no Brasil e a agenda internacional de Lula.
Após a confirmação dos resultados, Lula se manifestou no X (antigo Twitter), parabenizando o ex-presidente americano. “Meus parabéns ao presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e retorno à presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada. O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz, desenvolvimento e prosperidade. Desejo sorte e sucesso ao novo governo”, afirmou. Contudo, o discurso diplomático contrasta com as críticas recentes do presidente brasileiro ao republicano, quando Lula chegou a citar o ataque ao Capitólio como um exemplo de “comportamento impensável” em uma democracia consolidada.
Com a vitória de Trump, a direita norte-americana conquistou não apenas a presidência, mas também possivelmente o controle do Senado e da Câmara dos Representantes. Esse cenário pode tornar o ambiente ainda mais hostil para pautas progressistas e identitárias, tanto nos EUA quanto no cenário internacional, incluindo a agenda de Lula no Brasil.
No Brasil, o Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula sofreu derrotas significativas nas recentes eleições municipais, elegendo apenas 252 prefeitos. Esse resultado reforça a necessidade de repensar a estratégia política e comunicação da esquerda.
A possível maioria republicana no Congresso dos EUA pode abrir espaço para críticas direcionadas ao Brasil, especialmente em temas como a atuação do Supremo Tribunal Federal e a inelegibilidade de figuras da direita, como o ex-presidente Jair Bolsonaro. De acordo com o cientista político Antônio Testa, a nova composição do Congresso americano permite que Trump e seus aliados pressionem por mais “transparência” e “justiça” no sistema político e judiciário brasileiro, cobrando ações concretas.
“Os republicanos terão condições de exigir um posicionamento mais firme dos EUA em relação ao sistema eleitoral brasileiro e à atuação do judiciário”, disse Testa.
A vitória de Trump nos EUA é vista por analistas como um resultado da insatisfação popular com pautas identitárias. Conforme observou o economista e analista de mercado Rui São Pedro, temas como impostos, imigração e economia de mercado ganharam destaque, enquanto pautas progressistas, como direitos das mulheres e políticas de inclusão, perderam relevância para uma parcela significativa dos eleitores.
“O crescimento da direita em países como Argentina e Estados Unidos acende um alerta para a esquerda no Brasil. O foco em questões identitárias não trouxe os resultados esperados, enquanto temas econômicos e de segurança dominaram o debate”, pontuou.
A eleição de Trump também representa um desafio direto para a agenda internacional de Lula, que inclui questões ambientais e a taxação de super-ricos. Durante o governo de Joe Biden, Lula conseguiu avanços significativos, como a obtenção de repasses para o Fundo Amazônia. No entanto, com Trump no poder, esses recursos podem ser reavaliados ou mesmo cortados, visto que o republicano possui uma abordagem mais cautelosa em relação ao meio ambiente, priorizando o crescimento econômico sobre a regulação climática.
Além disso, Trump já expressou o desejo de reduzir impostos em vez de implementar políticas redistributivas, o que vai de encontro aos planos de Lula de promover uma maior taxação de fortunas globalmente. A conferência do clima COP-30, que acontecerá no Brasil, também pode ser impactada, já que Trump retirou os EUA do Acordo de Paris em seu primeiro mandato e pode seguir uma linha similar agora.
Sinais de alerta para o governo Lula
A vitória de Trump, somada aos recentes eventos políticos, sugere um enfraquecimento da esquerda no cenário internacional. No Brasil, Lula e seus aliados encaram esse resultado como um “sinal de alerta”, especialmente em relação à comunicação com a população e às estratégias de políticas públicas.
Para o analista político Leandro Gabiati, da Consultoria Dominium, o governo brasileiro precisará repensar sua abordagem econômica, dada a insatisfação com a inflação e o alto custo de vida. “O recado das urnas nos EUA reflete a necessidade de adaptação às demandas dos eleitores sobre economia e mercado de trabalho. O governo Lula precisa observar isso de perto e reagir”, concluiu Gabiati.
Fonte: https://oimparcial.com.br/brasil/2024/11/retorno-de-trump-ao-poder-envia-recado-para-o-governo-lula/