O encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden, marcado para o próximo dia 19, terá como destaque uma iniciativa conjunta sobre transição energética, confirmaram fontes oficiais. Apesar da vitória de Donald Trump nas eleições americanas e do provável retorno do republicano à Casa Branca em janeiro de 2025, o governo Lula manteve firme a agenda em parceria com os Estados Unidos, enfatizando que a relação estratégica será levada adiante independentemente de mudanças no governo americano.
A parceria, que vem sendo elaborada desde o início de 2024, terá foco em promover alternativas renováveis e modificar as matrizes energéticas do Brasil e dos EUA. Biocombustíveis, hidrogênio verde, carros elétricos e outras energias limpas serão temas centrais da discussão, em oposição direta às políticas pró-combustíveis fósseis defendidas por Trump.
O modelo segue o precedente da Parceria pelos Direitos dos Trabalhadores e Trabalhadoras, firmada entre Lula e Biden em setembro de 2023. A implementação inicial da iniciativa de transição energética está prevista para começar em 2025, mas especialistas e fontes internas admitem que o futuro do projeto pode ser incerto com Trump, um conhecido cético das mudanças climáticas, assumindo a presidência.
O combate às mudanças climáticas é um eixo estratégico da política externa brasileira sob o governo Lula, alinhado ao compromisso de Biden com a sustentabilidade. A reunião também incluirá discussões sobre o avanço de políticas climáticas conjuntas, destacando o Brasil como um potencial líder global em energias renováveis e na defesa de pautas ambientais.
Embora o resultado das eleições americanas tenha gerado preocupações no Palácio do Planalto, o Brasil pretende demonstrar resiliência e manter sua liderança na agenda climática, independentemente do desinteresse que a administração Trump possa manifestar. “O Brasil continuará promovendo a agenda que acredita ser essencial para o futuro do planeta”, enfatizou uma fonte do governo.
Com Trump no horizonte, o anúncio da parceria no dia 19 pode servir tanto como um marco da colaboração Brasil-EUA sob Biden quanto como um esforço para consolidar avanços antes da possível reversão dessas políticas no futuro. Lula terá a missão de equilibrar a implementação de ações sustentáveis com os desafios que o negacionismo climático de Trump poderá trazer a partir de 2025.
Antes de desembarcar no Rio, Biden visitará Manaus, no domingo, onde visitará a Floresta Amazônica “para conversar com líderes locais, indígenas e outros que trabalham para preservar e proteger esse ecossistema crítico”, informou a Embaixada dos EUA. Será, como a parceria com Lula, uma sinalização clara de que a agenda do governo democrata sobre clima será mantida até o último dia de governo.
O governo Biden vem expressando sua preocupação pelo futuro das políticas de combate às mudanças climáticas a partir de janeiro. Segundo o New York Times, “assessores do governo Biden estão correndo para conceder centenas de milhões de dólares em subsídios e finalizar regulamentações ambientais em um esforço para garantir a agenda climática” do democrata antes que Trump retorne. A informação foi confirmada ao jornal por John Podesta, conselheiro sênior de Biden sobre energias limpas.
Na mesma reportagem, Podesta, um dos principais representantes dos EUA na COP 29, em andamento no Azerbaijão, afirma que durante o evento buscará acalmar aliados de seu país sobre o futuro das políticas de transição energética, ponto central da iniciativa que será anunciada por Lula e Biden no Rio, no âmbito da cúpula de líderes do G20. “Não há dúvida de que ter alguém liderando o governo federal que acha que a mudança climática é uma farsa é um impedimento para acelerar a ação”, disse o Podesta ao New York Times. E acrescentou: “Este não é o fim da nossa luta por um planeta mais limpo e seguro.”
Segundo relatório elaborado pela Universidade Johns Hopkins e publicado pelo jornal The Guardian, a ameaça de Trump de revogar as principais políticas sobre mudanças climáticas aprovadas no governo Biden poderia implicar a transferência de cerca de US$ 80 bilhões em investimentos para outros países, e custar aos EUA até US$ 50 bilhões em exportações perdidas, cedendo terreno à China e a outras potências emergentes na corrida para construir carros elétricos, baterias e energia solar e eólica.
Para o governo Lula, anunciar uma iniciativa sobre energias limpas após um encontro com Biden é uma sinalização importante, que, segundo fontes oficiais, “reafirma que as prioridades do Brasil não são negociáveis”. O governo brasileiro, frisaram as fontes, “está disposto a conversar com o futuro governo Trump sobre a parceria, inclusive fazer ajustes. Mas também sabemos que a iniciativa poderia simplesmente nunca sair do papel”.
Os detalhes finais do acordo estão sendo negociados. A ideia é que seja divulgada uma declaração conjunta assinada pelos dois presidentes, apresentado a iniciativa. Até agora, participaram das conversas representantes dos ministérios do Meio Ambiente, Agricultura e Fazenda, entre outros. A dimensão do financiamento, afirmaram as fontes, “é fundamental para que iniciativas sobre clima avancem”.
Biden e Lula também conversarão sobre os conflitos geopolíticos globais, e os avanços na parceria sobre trabalho, entre outros temas. A ideia dos dois governos é incorporar novos países ao entendimento lançado em 2023, que visa defender uma “agenda de justiça e sustentabilidade na economia global e garantir que o crescimento econômico não deixe ninguém para trás”, de acordo com o comunicado divulgado na época.
Com informações de O Globo.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/encontro-de-lula-e-biden-no-g20-marcara-iniciativa-conjunta-sobre-transicao-energetica-apesar-da-vitoria-de-trump/