15 de novembro de 2024
Celular nas escolas: Discussão vai além das salas de aulas
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Não encontrar, na atualidade, uma criança, adolescente ou jovem com um aparelho celular, ou tablet nas mãos, é uma raridade. Hoje em dia, qualquer tela digital é capaz de monopolizar a atenção dos pequenos, principalmente. E apesar dos benefícios, como o acesso a informações educativas e jogos interativos que estimulam o raciocínio lógico, o uso excessivo dos dispositivos pode gerar uma série de malefícios para o desenvolvimento infantil, levando ao sedentarismo, à redução das interações sociais e ao comprometimento das habilidades cognitivas, motoras e até emocionais.

Um levantamento recente da McAfee, de 2022, mostra que crianças e adolescentes brasileiros são os mais expostos a aparelhos eletrônicos no mundo. 

São mais de 95% dos jovens com acesso a smartphones – uma taxa 19% acima da média global – e 26% das crianças entre 4 e 6 anos em posse do próprio celular.

Projeto de lei proíbe uso de celulares em escolas

O assunto virou pauta na Câmara dos Deputados, que aprovou um projeto de lei que proíbe o uso de celulares em escolas públicas e privadas de todo o país. O uso fica proibido inclusive no recreio e crianças de até dez anos não poderão sequer portar consigo o aparelho. A Unesco, a agência de educação, ciência e cultura da ONU, afirma que o uso excessivo de celulares está relacionado a um desempenho educacional reduzido.

Além de proibir o uso, o texto proíbe também o porte de celular por alunos da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, como forma de proteger a criança de até 10 anos de idade de possíveis abusos.

A proposta autoriza, por outro lado, o uso de celular em sala de aula para fins estritamente pedagógicos, em todos os anos da educação básica. Permite ainda o uso para fins de acessibilidade, inclusão e condições médicas.

Sobre o assunto, O Imparcial conversou com Thalyta Machado Fróes, Pedagoga e Psicóloga, especialista Supervisão, Gestão e Orientação Educacional, para saber como a comunidade escolar deve proceder diante desse tema, que provavelmente vai tomar todo o país, assim como já ocorre em outros.

A Assembleia Legislativa de São Paulo, por exemplo, aprovou na última terça-feira (12), lei que segue para sanção do governador do estado. Para virar lei no país, a proibição precisa ser aprovada pelos deputados e pelos senadores.

Thalyta Machado Fróes, Pedagoga e Psicóloga, especialista Supervisão, Gestão e Orientação Educacional

1. Qual sua opinião sobre uso do celular nas escolas?

É uma ferramenta pedagógica. O celular interfere no desempenho do aluno se for trabalhado de forma pedagógica, de forma que ele tem uma contribuição para o aprendizado do aluno, como: realizar pesquisa, como uso de aplicativos que são desenvolvidos para melhorar o aprendizado do aluno, por exemplo.

A grande questão que nós estamos vivendo na atualidade sobre o uso do celular, é que isso é o resultado do que vivemos na pandemia, por conta do uso das telas, como o tablet, o próprio celular, enfim, que as escolas tiveram que se adaptar ao uso para fazer as aulas de modo online. Os alunos foram expostos, as crianças muito pequenas, crianças, às vezes, em nível de 4, 5 anos foram expostas ao uso de telas por um tempo excessivo. E as crianças, elas não estão preparadas para isso. Então, o que nós estamos vivendo atualmente é o resultado da pandemia. Os alunos já se adaptaram, então ele deixou de ser uma ferramenta pedagógica e se perdeu um pouco o uso que deveria ser de participar da metodologia da escola, como hoje nós temos metodologias ativas, por exemplo, que faz uso desse recurso. Então, os alunos precisam ser educados, precisam ser psicoeducados dessa interferência do celular em sala de aula, por exemplo.

2. Quais riscos do uso imoderado de celulares?

O que a gente tem hoje de riscos que são para esse uso excessivo é: os alunos passam a ter questão de dificuldade de aprendizado. O que às vezes tem acontecido também com isso muitos diagnósticos de TDAH que não são corretos por conta que o aluno começa a ter tantos estímulos que ele não consegue se adequar a isso. Então, ele acaba ficando mais agitado por exemplo. Por isso que nós temos hoje um ‘boom’ de crianças tendo diagnósticos precoces de TDAH, quando na verdade está errado. É em decorrência do uso do celular. Entãom, esse é um risco que hoje estamos correndo em decorrência do uso imoderado do celular.

3. É uma lei que ainda será aprovada em definitivo, mas a escola como um todo precisará ser orientada quanto a isso, caso a lei entre em vigor? De que forma?

Eu acredito que nós precisamos entender que o celular ainda é uma ferramenta pedagógica se bem trabalhada. Eu acredito que vai ser difícil para a escola retirar isso 100%. A gente vai precisar fazer uma educação com os alunos para que eles tenham momentos adequados para o uso do aparelho, por exemplo. E de que forma esse aluno tá usando o aparelho celular dentro da escola? Então, a escola vai precisar fazer campanhas de conscientização sobre o uso moderado do celular; vão existir talvez momentos em que a criança pode usar o celular. Então, há que se ter grande uma grande orientação por parte da escola, com campanhas, com rodas de conversa, com palestras com os alunos para que todos possam entender quais são os benefícios e o que a gente tem perdido, porque o aluno precisa participar desse processo educacional. Ele precisa participar como protagonista da sua educação, como protagonista do ensino da escola em que ele precisa ser ouvido também e principalmente, isso vai contribuir com a conscientização do aluno, não só proibindo, mas fazendo com que o aluno entenda, fazendo com que esse ensino tenha sentido. O principal foco da escola é fazer com que o aluno veja sentido porque ele está estudando, e por que tá sendo retirado o celular sendo que foi, e eu coloco aqui entre aspas, uma certa obrigação, uma imposição que as escolas colocaram na época da pandemia para os alunos, para que eles usassem os recursos tecnológicos, e agora né, por conta desse uso indiscriminado, vai ser retirado. Então, a gente precisa fazer um trabalho extenso com as crianças, principalmente com os adolescentes, que eles é que vão sentir mais.

4. Como a comunidade escolar pode abordar esse tema? as vantagens e desvantagens do uso do celular?

A escola pode fazer um projeto interdisciplinar para que ela possa trabalhar as vantagens e desvantagens do uso do celular. Através disso, os alunos inclusive podem elaborar formas maneiras de usar o celular. Qual é a melhor forma de se usar o celular? Por que que eles querem tanto usar o celular? e principalmente, é importante que a comunidade escolar entenda: do que o aluno está fazendo uso, é de jogos indiscriminadamente? Que aí a gente já vem com outra questão que é muito importante hoje, o vício, o transtorno em relação ao uso excessivo de jogos. Estamos em alerta, a comunidade da saúde mental, em alerta por conta do uso excessivo de celular. Os alunos, as crianças, os jovens estão tendo muito contato com jogos de apostas, por exemplo. Então, é importante abrir este leque de assunto para os jovens para eles saberem do que se trata essa proibição, o porquê deles serem proibidos de usar.

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Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2024/11/celular-nas-escolas-discussao-vai-alem-das-salas-de-aulas/