Chama-se Stefani Joanne Angelina Germanotta, mas foi como Lady Gaga que construiu a sua carreira, que começou num universo próprio de excentricidade. No início, a cantora chamava atenção tanto pelo talento quanto pelo estilo excêntrico e controverso — como o inesquecível vestido de carne no MTV Video Music Awards de 2010. No entanto, ao longo dos anos transformou-se numa artista consensual e admirada, reconhecida tanto na música quanto no cinema.
Antes de Lady Gaga se tornar num nome conhecido do público, Stefani Germanotta já se dedicava à música. Criada em Nova Iorque, começou a tocar piano aos quatro anos e, aos 13, escreveu a sua primeira canção. Frequentou a Tisch School of the Arts da Universidade de Nova Iorque, mas abandonou o curso para se focar na sua carreira musical.
Aos 19 anos, assinou com a Def Jam Recordings, mas saiu após três meses. Depois, começou a colaborar com o produtor RedOne, com quem compôs a canção Boys Boys Boys, uma música inspirada por Girls, Girls, Girls de Mötley Crüe, e T.N.T. dos AC/DC. Com alguns amigos da universidade, formou a Stefani Germanotta Band, explorando o neoburlesco. Foi nessa altura que começou a experimentar drogas, o que gerou conflitos com a sua família.
Em 2007, adotou o nome Lady Gaga, inspirado na canção Radio Ga Ga dos Queen, com o incentivo do produtor Rob Fusari. Gaga desenvolveu a sua estética de palco com a artista Lady Starlight, e juntas atuaram no Lollapalooza. A parceria com Vincent Herbert, da Streamline Records, impulsionou a sua carreira, levando-a a escrever para vários artistas, incluindo Britney Spears.
Foi depois de Akon a recomendar à Interscope que a carreira de Lady Gaga começou a ganhar forma, especialmente após o lançamento do álbum The Fame, em 2008. O projeto, com sucessos como Just Dance e Poker Face, rapidamente colocou Lady Gaga sob os holofotes. A cantora conquistava então milhões de fãs ao redor do mundo e o álbum vendeu cerca de 12 milhões de cópias. Lady Gaga ganhou o prémio de Melhor Gravação de Dance nos 52.º Grammy Awards por Poker Face, que também foi nomeada para Canção do Ano e Gravação do Ano. O álbum The Fame foi nomeado para Álbum do Ano e venceu o prémio de Melhor Álbum Eletrónico/Dance, consolidando ainda mais a sua posição como uma das maiores artistas da música pop.
Embora a sua primeira digressão tenha sido como ato de abertura para a banda New Kids on the Block, foi com a sua própria digressão, The Fame Ball Tour, iniciada em março de 2009, que Gaga realmente se destacou e consolidou a sua identidade enquanto artista.
Em 2009, o álbum foi relançado com The Fame Monster, uma versão extendida independente, com oito músicas, incluindo clássicos como Bad Romance e Alejandro.
A revista Time destacou The Fame Monster como um dos dez melhores álbuns de 2009. Em 2015, a Spin classificou o álbum na 197.ª posição entre os 300 melhores dos últimos trinta anos, chamando-o de “mini obra-prima” e o melhor trabalho da artista. Gaga também recebeu o prémio de Outstanding Music Artist no GLAAD Media Awards de 2010.
Com estes dois lançamentos, Gaga demonstrou um talento inegável para criar sucessos e usar a sua imagem para desafiar convenções. Além de cantora, Lady Gaga tornou-se numa artista capaz de transformar cada aparição pública numa experiência teatral.
A maquilhagem e cabelos exagerados, os figurinos icónicos e as atuações intensas definiam a sua personalidade artística, fazendo de Lady Gaga uma estrela pop que não seguia tendências, mas criava o seu próprio caminho, com determinação e irreverência.
Esta imagem única e ousada chamou a atenção do mundo inteiro e, em maio de 2010, o museu Madame Tussauds inaugurou oito figuras de cera da artista, expostas simultaneamente em Londres, Amesterdão, Berlim, Nova Iorque, Hollywood, Las Vegas, Xangai e Hong Kong. Considerado pelos organizadores como o projeto mais ambicioso da história do museu, fundado em 1835, cada modelo de cera foi vestido com um visual único da artista.
Com o álbum Born This Way, lançado em 2011, Lady Gaga partilhou a sua visão sobre a liberdade e inclusão, defendendo a ideia de que todos merecem um lugar no mundo. A música que deu nome ao álbum não foi apenas um sucesso musical. Foi mais que isso. Foi um manifesto a favor da auto aceitação e da diversidade.
Na primeira semana de vendas nos Estados Unidos, Born This Way atingiu cerca de 1 milhão e 108 mil cópias, entrando diretamente para o topo da tabela Billboard 200. Além disso, o álbum conquistou o primeiro lugar em mais de 20 países ao redor do mundo. Com mais de 8 milhões de unidades vendidas globalmente, o disco foi um sucesso estrondoso e rendeu a Lady Gaga três nomeações aos Grammy, incluindo a sua terceira nomeação para Álbum do Ano.
Ao longo de 2011, Gaga expandiu ainda mais os seus horizontes musicais ao colaborar com artistas consagrados. Gaga juntou-se a Tony Bennett para gravar uma versão jazz de The Lady Is a Tramp e também colaborou com Cher numa música que nunca chegou a ser lançada. Além disso, ainda participou num dueto original com Elton John para a banda sonora do filme de animação Gnomeo & Juliet.
Lady Gaga continuou a promover Born This Way, incluindo um concerto exclusivo no Sydney Town Hall e uma atuação no 65.º aniversário de Bill Clinton, onde fez referência a Marilyn Monroe. Gaga também apareceu em dois especiais televisivos: Lady Gaga Presents the Monster Ball Tour: At Madison Square Garden, pela HBO, e A Very Gaga Thanksgiving, que explorava a sua vida e influências musicais, acompanhado pelo lançamento do EP A Very Gaga Holiday. O especial de Ação de Graças foi bem recebido pela crítica, com uma audiência programada de 5,8 milhões de espetadores.
Sempre disposta a experimentar, Gaga lançou o álbum Artpop em 2013, que, embora menos bem-sucedido a nível comercial, representou um momento de experiência criativa. Artpop foi concebido como um projeto que pretendia combinar música, arte e tecnologia, de forma a oferecer uma experiência visual e sensorial ousada. O single Applause foi o ponto alto do álbum. Lançada como o primeiro single, a música rapidamente ganhou popularidade e tornou-se um hino para os fãs.
No mesmo ano, Lady Gaga estreou-se no cinema, ao interpretar La Chameleón, no filme Machete Kills. A participação demonstrou o seu interesse em expandir a sua carreira para a área da atuação, no entanto, o papel rendeu-lhe uma nomeação para o prémio de pior atriz secundária nos Razzie Awards. A sua carreira no cinema estava ainda longe de ser um sucesso. Mas, anos mais tarde, isso haveria de mudar.
Continuando a experimentar coisas novas e a mostrar a sua versatilidade, Lady Gaga aventurou-se pelo jazz em Cheek to Cheek (2014), parceria com o lendário Tony Bennett. Lady Gaga provava assim que o seu talento vai muito além da pop, tendo surpreendido o público com o alcance e a profundidade da sua voz. A colaboração rendeu-lhes um Grammy e mostrou um lado mais clássico e intimista da cantora, que começava a deixar de lado a excentricidade que esteve muito presente no início da sua carreira.
Em 2018, Gaga deu um novo salto na sua carreira, ao protagonizar o filme A Star is Born. Na pele de Ally, Gaga mostrou uma vulnerabilidade que encantou a crítica e o público, e a música Shallow, incluída no filme, tornou-se num dos grandes momentos musicais da década. A sua atuação rendeu-lhe uma nomeação ao Oscar de Melhor Atriz, e Shallow venceu o Oscar de Melhor Canção Original. Com essa conquista, Gaga tornou-se na primeira artista musical a ganhar cinco prémios numa temporada: Oscar, Grammy, Globo de Ouro, Bafta e Critics’ Choice. Este foi um marco na sua carreira, pois mostrou ao mundo que ela é muito mais do que uma popstar extravagante: Lady Gaga é uma artista multifacetada.
Em março de 2018, Lady Gaga assinou contrato para uma residência de dois anos no MGM Park Theater, composta por duas versões do espetáculo: Enigma, com os seus maiores sucessos pop, e Jazz & Piano, com interpretações mais íntimas e músicas do Great American Songbook. Os espetáculos ocorreram entre dezembro de 2018 e 2020.
Em 2020, Gaga lançou o álbum Chromatica, que combina sonoridades eletrónicas e temas de cura emocional, assim como questões de saúde mental e autoconhecimento. Chromatica foi um regresso às raízes, uma vez que trouxe de volta o lado dançante de Gaga e deu origem a sucessos como Rain on Me, com Ariana Grande, que venceu o Grammy de Melhor Colaboração Pop.
Mostrando toda a sua versatilidade e capacidade de alternar entre estilos musicais, em outubro de 2021, Lady Gaga regressou ao Jazz, ao lançar o álbum Love for Sale, a sua segunda colaboração com Tony Bennett. O álbum, que marcou a despedida de Bennett dos palcos devido à sua saúde, foi amplamente elogiado e recebeu nomeações aos Grammy. Lady Gaga mostrava ser uma artista musicalmente versátil, consolidando assim, mais do que nunca, a sua carreira musical. Mas o seu sucesso e reconhecimento não ficam pela música.
Lady Gaga, que já tinha feito sucesso no cinema com o filme A Star is Born, voltou a ter grande destaque ao interpretar Patrizia Reggiani em House of Gucci. A atuação rendeu-lhe a aclamação da crítica e nomeações ao Critics’ Choice e ao BAFTA.
Em 2024, Lady Gaga continuou a explorar as fronteiras entre o cinema e a música, duas áreas em que continua a dar cartas. Juntando-se a Bruno Mars, Gaga surpreendeu os fãs com Die With a Smile, uma balada romântica e nostálgica que marca a primeira colaboração entre os dois cantores e o regresso de ambos ao cenário musical.
A música foi um enorme sucesso, e continua a bater vários recordes. Die With a Smile está há mais de 60 dias no topo do Spotify Global e é a única música na história do Spotify a permanecer durante 10 semanas acima de 70 milhões de reproduções filtradas no Spotify Weekly Chart.
Die With A Smile também rendeu à dupla duas nomeações para os Grammy Awards de 2025, nas categorias de Canção do Ano e Melhor Performance de Dupla/Grupo Pop. Com estas duas nomeações, Lady Gaga conquista o marco de 38 nomeações aos Grammy, no total, tendo já levado a estatueta para casa por 13 vezes.
No entanto, o trabalho de Lady Gaga em 2024 não ficou por aí. A cantora está a ter um ano repleto de novidades. Depois de lançar o sucesso Die With a Smile, a cantora anunciou Harlequin, um álbum inspirado na sua personagem em Joker: Folie à Deux (Joker: Loucura a Dois), a sequela do realizador Todd Phillips a Joker. No filme, Gaga interpreta Harley Quinn, uma terapeuta musical e o par romântico de Joker. O álbum complementar, Harlequin, conta com uma coleção de 13 músicas — todas as músicas do filme e algumas músicas originais — que revelam o lado mais introspetivo da cantora.
Com um dueto de sucesso, um filme e um álbum, o ano poderia muito bem estar completo para Lady Gaga ao nível de lançamentos, porém a artista continua a brindar os fãs com novidades.
A cantora anunciou o sétimo álbum de estúdio, previsto para fevereiro de 2025. Ainda sem nome oficial, o álbum foi carinhosamente apelidado de LG7 e teve o seu primeiro single revelado no dia 25 de outubro.
Disease, o primeiro single do álbum, foi escrito por Michael Polansky — noivo da cantora — Lady Gaga, Andrew Watt e Cirkut, sendo que os três últimos também foram creditados como produtores.
O jornal britânico The Guardian definiu Disease como o “regresso à sua forma e à sua sonoridade clássica”, afirmando que o single é capaz de “evocar memórias da Gaga do final dos anos 2000 e ainda encaixar-se com o ambiente caótico do pop pós-Brat”. Já o The Independent declarou que o single é “o melhor [de Lady Gaga] em muito tempo”, porque oferece “uma dose potente de electropop extremamente sombrio”.
O ano de 2024 tem tido altos e baixos para Lady Gaga. O seu dueto com Bruno Mars, Die With a Smile, foi um sucesso estrondoso a nível global, tendo batido vários recordes. No entanto, o filme Joker: Folie à Deux (Joker: Loucura a Dois) está longe de ser considerado um sucesso, e o álbum Harlequin parece ter sido rapidamente esquecido.
No entanto, o novo single Disease foi bem recebido e, se servir como indicação, o prognóstico parece excelente para o próximo álbum. Fãs e críticos defendem que a música Disease poderia ter sido incluída no álbum de estreia de Gaga, The Fame. E é isso que esperam do álbum que será lançado em 2025: um regresso às origens. O próximo ano poderá muito bem ser o ano em que dizemos: Bem-vinda de volta, Mother Monster!
Fonte: https://comunidadeculturaearte.com/lady-gaga-a-trajetoria-de-uma-artista-multifacetada/