Na última sessão de trabalho da cúpula do G20, no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo aos demais líderes do bloco para que antecipem suas metas de neutralidade de emissões de gases estufa “de 2050 para 2040 ou até 2045”. A pauta ambiental foi um dos principais pilares da presidência brasileira do G20, e Lula, além de ter pressionado pela inclusão de ações climáticas na declaração final do encontro, divulgada ontem, afirmou que a Conferência da ONU para o Clima do ano que vem, que será realizada em Belém, será a “COP da virada”.
— Aos membros desenvolvidos do G20, proponho que antecipem suas metas de neutralidade climática de 2050 para 2040 ou até 2045. Sem assumir suas responsabilidades históricas, as nações ricas não terão credibilidade para exigir ambição dos demais — disse Lula. — Aos países em desenvolvimento, faço um chamado para que suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas, em inglês) cubram toda a economia e todos os gases de efeito estufa.
Na declaração final do G20, adotada na segunda-feira, apesar de objeções iniciais da Argentina, o capítulo sobre “Desenvolvimento Sustentável, Transições Energéticas e Ação Climática” foi um dos mais extensos, e reiterou que todas as ações devem ser adotadas levando em conta as dimensões “econômica, social e ambiental”, com decisões tomadas no âmbito multilateral. Na fala desta terça, o presidente defendeu a criação de um Conselho de Mudança do Clima na ONU, “que articule diferentes atores, processos e mecanismos que hoje se encontram fragmentados”, e lembrou que os países cujas lideranças estavam sentadas à mesa hoje são responsáveis por 80% das emissões globais.
—— A esperança renasce a cada compromisso e ato de coragem em defesa da vida e da preservação das condições em que ela nos foi dada — afirmou Lula.
O presidente reiterou a meta de acabar com o desmatamento ilegal até 2030, afirmando que houve uma queda de 45% na destruição das matas nos últimos dois anos, e instou a comunidade internacional “a fazer a sua parte” no combate às mudanças no clima.
— Mesmo que não derrubemos mais nenhuma árvore, a Amazônia continuará ameaçada se o resto do mundo não cumprir a missão de conter o aquecimento global — declarou. — Os oceanos são outro importante regulador climático e fonte potencial de soluções. Eles também devem ser objeto prioritário das nossas preocupações.
Lula criticou o volume de contribuições globais para ações ambientais, considerado abaixo do necessário: segundo ele, há 9 anos, durante a conferência que sagrou os Acordos de Paris, se falava em um volume de US$ 100 bilhões anuais, mas o valor hoje chegar “a trilhões” de dólares.
— Esses trilhões existem, mas estão sendo desperdiçados em armamentos, enquanto o planeta agoniza — disse o presidente.
Em um chamado por soluções na COP29, no Azerbaijão, Lula disse que a próxima conferência, a COP30, a ser realizada em Belém, “será nossa última chance de evitar uma ruptura irreversível no sistema climático”.
— Conto com todos para fazer de Belém a COP da virada — disse Lula.
Efeito Trump
No domingo, em um evento privado às margens do G20 no Rio, na noite de domingo, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que há uma expectativa de que o governo do presidente Joe Biden anuncie, antes de deixar a Casa Branca, a sua NDC.
— Esse anúncio vai ser importante tanto para internamente para os Estados Unidos, para orientar aqueles que têm ação climática no setor privado, da academia, dos estados subnacionais, mas também para a opinião pública internacional — disse a ministra.
Na semana passada, o presidente eleito, Donald Trump, anunciou Chris Wright, executivo do setor de petróleo e gás e negacionista das mudanças climáticas como seu novo secretário de Energia, e o próprio Trump expressa suas dúvidas quanto aos efeitos do aquecimento global — em seu primeiro mandato, o republicano deixou o Acordo de Paris para o clima, e tem sinalizado que fará o mesmo ao assumir em janeiro do ano que vem.
Questionada sobre um possível esvaziamento da pauta climática nos EUA após o retorno de Donald Trump à Presidência, e os impactos que isso teria para o mundo, a ministra foi taxativa:
— Um governo só termina quando outro toma posse — declarou. — Os compromissos de Estado são compromissos de Estado.
Na visão da ministra, uma possível retirada dos EUA de fóruns de debates e acordos importantes sobre o clima nos próximos anos é “obviamente um prejuízo muito grande”, mas não é o fim do mundo.
— [Os EUA] são o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do mundo e o país com maior volume de recursos e base tecnológica, então é um prejuízo enorme. Mas não vamos esquecer que os EUA não estavam no Protocolo de Kyoto e que a entrada deles no Acordo de Paris foi um processo bem posterior aos demais, e a agenda climática andou — ponderou.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/no-ultimo-dia-da-cupula-do-g20-lula-propoe-que-paises-antecipem-suas-metas-para-reduzir-gases-do-efeito-estufa/