Os três jornais mais importantes do país buscaram repercutir com analistas e economistas do mercado as medidas anunciadas na noite desta quarta feira em pronunciamento em rede nacional do ministro da Fazenda Fernando Haddad.
O resultado em reportagens publicadas é muito semelhante em O Globo, Folha de São Paulo e Estadão: dúvidas sobre a eficácia e impacto das medidas, apreensão e expectativa pelo detalhamento e aprofundamento das ações anunciadas.
No jornal Estado de são Paulo, Estadão, o assunto é tratado em reportagem que tem o título “Pacote traz dúvidas ao mercado e sensação de que não será suficiente para alcançar superávit” e no subtítulo alerta que a “Isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil tem desafio de conseguir uma compensação financeira e que economistas aguardam detalhamento do plano”.
E prossegue a reportagem do “Estadão”:
O anúncio do pacote fiscal pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na noite desta quarta-feira, 27, trouxe muitas dúvidas ao mercado e, apesar da falta de detalhamento, a sensação de que não será suficiente para alcançar o resultado primário do arcabouço. “O corte de despesas mostra a dificuldade política do governo em enfrentar a necessidade de revisão mais ampla dos gastos, incluindo programas sociais que tiveram crescimento acelerado e pro-cíclicos nos últimos dois anos”, afirma a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória.
Ela calcula que as medidas anunciadas são insuficientes para zerar o déficit primário, estimado por ela em R$ 110 bilhões em 2025. Mais que isso, apontam também para um desafio político do governo. Há, contudo, medidas que vão em direção correta, ainda que insuficientes. Na visão de Vitória, entre elas estão a revisão do abono, a limitação do reajuste do salário mínimo e uso de emendas para cumprir o piso de gastos da saúde.
“Por outro lado, o anúncio da isenção de Imposto de Renda (IR) traz mais incerteza para a trajetória fiscal em 2026, e indica que o governo deve ter nova expansão fiscal no próximo ano eleitoral”, disse.”
Outro especialista ouvido pelo “Estadão” também manifestou preocupação: “o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, avalia que o aumento da tributação para quem tem renda superior a R$ 50 mil deve ser insuficiente para compensar a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil. “Acho bem complicado, não me parece muito provável”, diz.
Na Folha de São Paulo, a repercussão do anúncio das medidas não é muito diferente. Sob o título “Pacote de Haddad não traz novidades e tem potencial fiscal menor, dizem economistas” a reportagem começa afirmando que “Analistas criticam poucos detalhes de pronunciamento do ministro e questionam capacidade de cumprir equilíbrio fiscal”.
Segundo a Folha, a partir do pensamento dos especialistas ouvidos pela reportagem, “o pacote de medidas econômicas para cortar gastos anunciado nesta quinta-feira (27) pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) não trouxe novidades, segundo economistas.
Eles dizem esperar mais detalhes nos próximos dias, e alguns afirmam ter dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir a economia de R$ 70 bilhões para os próximos dois anos prometida pelo chefe da Fazenda.
Dentre as medidas citadas por Haddad, estão a restrição do pagamento do abono salarial a trabalhadores que ganham até 1,5 salário mínimo, mudanças em regras para Previdência de militares e a proibição de benefícios fiscais em caso de déficit primário.
Continua a reportagem com depoimentos muito semelhantes aos especialistas ouvidos pelo Estadão:
“Além do pacote fiscal, Haddad também anunciou a ampliação da faixa de isenção do IR (Imposto de Renda) para quem ganha até R$ 5.000. Para compensar a medida, o governo também vai propor uma alíquota mínima de até 10% no IR (Imposto de Renda) para quem ganha mais de R$ 50 mil por mês, o equivalente a R$ 600 mil por ano.
Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos, diz que as expectativas do mercado com o anúncio foram desidratadas. Segundo ele, a potência fiscal do pacote parece menor do que o esperado.
“Ficaram dúvidas na minha cabeça e é preciso entender e dimensionar como a isenção do IR impactará no líquido do pacote. A tributação de quem ganha mais de R$ 50 mil será aprovada pelo Congresso? Os R$ 70 bilhões serão efetivamente viáveis? O mercado vai se debruçar para ter essas respostas”, afirma.”
Por fim, o jornal O Globo ouviu também analistas que levaram os editores a publicar a reportagem com o seguinte título: “Impacto de medidas para conter gastos pode ficar aquém do necessário e mudança no IR preocupa, dizem economistas”.
E prossegue no subtítulo com o mesmo pessimismo sobre os cortes e medidas, na mesma linha do apurado pelo Estadão e pela Folha: “Para especialistas, pacote poderá ser insuficiente para acalmar investidores e taxa de câmbio poderá continuar em alta”
Segundo o Globo, “Nas primeiras análises após o anúncio de medidas de contenção do crescimento dos gastos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em pronunciamento oficial em cadeia nacional na TV, economistas avaliaram que o impacto financeiro nas contas do governo poderá ficar aquém do necessário. Além disso, causou preocupação o fato de que, junto das medidas, foram anunciadas as linhas gerais da reforma do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF)”.
Praticamente sintetizando os depoimentos colhidos pelos três jornais junto a analistas, especialistas e economistas do mercado, o Globo afirma em sua reportagem:
“Agora, fica a dúvida se o governo conseguirá a economia de R$ 70 bilhões em dois anos, estimativa anunciada pelo governo, não poderá acabar desidratada após o anúncio da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil.
Vale acrescentou que as demais medidas anunciadas já estavam dentro do que esperavam os analistas, e, por isso, não deve conseguir acalmar o mercado nos próximos meses e até os próximos dois anos:
— É o início de discussão que o governo coloca, mas não tem espaço político e dentro do governo para conseguir muito mais do que isso. A gente vai precisar esperar 2027, num próximo governo para tocar em medidas muito mais estruturais, muito mais profundas (em relação aos gastos públicos).
A íntegra das reportagens publicadas em suas edições online e impressas podem ser lidas nos links abaixo, em que podem haver restrições para não assinantes do veículos.:
Estadão: https://www.estadao.com.br/economia/pacote-duvidas-mercado-nao-sera-suficiente-alcancar-superavit/
Folha de São Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2024/11/pacote-de-haddad-nao-traz-novidades-e-tem-potencial-fiscal-menor-dizem-economistas.shtml
O Globo:
Fonte: https://agendadopoder.com.br/analistas-e-economistas-do-mercado-veem-com-apreensao-e-muitas-duvidas-impacto-das-medidas-anunciadas-por-haddad/