A defesa de militares investigados por envolvimento em um suposto plano golpista entrou em confronto com a tese defendida pelos advogados de Jair Bolsonaro, de que ele não seria o beneficiário do golpe, mas sim uma “junta militar”, caso as investigações se confirmem. Bolsonaro e outras 36 pessoas, incluindo 24 militares, foram indiciados pela Polícia Federal pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. Em resposta à insatisfação gerada, outros defensores tentaram suavizar a situação.
O advogado de Bolsonaro, Paulo Bueno, tem argumentado que, com base nas investigações da PF, o ex-presidente não estava previsto para assumir um cargo no gabinete de crise que seria criado após o golpe. Ou seja, ele não seria beneficiado pelo plano.
– Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mário Fernandes, seria uma junta criada após a ação do Plano Punhal Verde e Amarelo, e o presidente Bolsonaro não estava incluído nessa junta – afirmou Bueno, em entrevista à GloboNews. – Não tem o nome dele lá. Ele não seria beneficiado disso. Não é uma elucubração da minha parte. Isso está registrado. Se o plano tivesse dado certo, quem assumiria o governo não seria Bolsonaro, mas aquele grupo – completou o advogado.
Essas declarações causaram reações entre os defensores de oficiais alvos da investigação que viram na fala uma forma de Bolsonaro se esquivar da responsabilidade pelo plano golpista, apontando o dedo para os militares do seu entorno. O advogado Marcus Vinicius Figueiredo, que defende o ex-secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência Mario Fernandes, rebateu os argumentos do advogado do ex-mandatário.
— A colocação dele é irresponsável. Ele é advogado de defesa ou promotor? Está atuando como promotor. Como faz isso? Me causa perplexidade — disse Figueiredo à coluna de Lauro Jardim.
Outro defensor de Fernandes, o advogado Raul Livino, tentou botar panos quentes na rixa.
— Ele [Paulo Bueno] agiu na função dele de defender o seu cliente. Ainda não temos linha de defesa fixa. Estou fazendo agora uma releitura de todo o conteúdo para definir a linha – disse o advogado.
Preso preventivamente há duas semanas, o general Mário Fernandes é apontado pela PF como o responsável pelo plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa a morte do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice Geraldo Alckmin. Ele também seria o autor do texto que previa a instituição de um “Gabinete Institucional de Gestão da Crise”, com o comando do então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, do ex-ministro da Defesa general Walter Braga Netto, e de Mário Fernandes – sem menção a Bolsonaro.
Apesar de atribuir papel de relevância a Braga Netto e Augusto Heleno, a PF afirma que Bolsonaro “planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva” de uma trama para mantê-lo no poder e impedir a posse de Lula.
Advogados consideram que a situação do general Mário Fernandes se assemelha à do tenente-coronel Mauro Cid. Assim como ocorreu com Cid, a PF teve acesso a mensagens de seu celular e a documentos impressos por ele no Planalto que mostram a sua suposta participação na trama.
O incômodo entre as defesas de Mário Fernandes e de Bolsonaro foi tão grande que um advogado próximo de ambos entrou em campo para intermediar uma conversa entre os dois e aparar as arestas. Segundo um interlocutor, Paulo Bueno teria deixado claro que falou de forma hipotética – “se os planos forem realmente confirmados pela Justiça” -, sem culpar os militares.
Procurados sobre qual seria a linha de defesa de Bolsonaro, Bueno não se pronunciou. Os defensores de Braga Netto e Augusto Heleno também não quiseram se manifestar.
Logo após sair o indiciamento da PF, a defesa de Braga Netto veio a público para ressaltar que o general sempre foi “leal” a Bolsonaro “até o final do governo” e nos “dias atuais”. Em nota, ele repudiou “veementemente” a tese considerada por ele como “fantasiosa” de que haveria “um golpe dentro do golpe”.
A defesa de outros militares e ex-assessores de Bolsonaro têm tentado diminuir a relevância de seus clientes na trama golpista. O advogado Eduardo Kuntz, que defende os ex-auxiliares Marcelo Câmara e Tércio Arnaud, afirmou eles desempenhavam um “papel secundário” no governo e não participavam de “discussões estratégicas”.
— O Tércio não é militar, o Câmara não é general. Eles não participavam de nenhum grupo ou setor específico de setores estratégicos. Eles são secundários, não tinham credencial para participar de uma conversa minimamente mais séria — disse o defensor.
Com informações de O Globo.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/tese-da-defesa-de-bolsonaro-de-que-ele-nao-seria-beneficiado-pelo-golpe-desagrada-militares-indiciados-pela-pf/