23 de novembro de 2024
30 anos do estouro do Britpop dos Blur
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Capa do disco / DR

A 25 de Abril de 1994, os Blur lançavam o seu terceiro álbum de estúdio, intitulado Parklife. Depois do disco de estreia Leisure em 1991 e do sucesso de Modern Life Is Rubish em 1993, os Blur afirmavam-se com uma das bandas mais notórias da década de 90, e um dos principais impulsionadores do Britpop, o estilo pop-rock britânico que teve um enorme sucesso durante esta época. O conjunto londrino formado pelo vocalista Damon Albarn, rosto principal da banda, e com Graham Coxon na guitarra, Alex James no baixo e Dave Rowntree na bateria, com o seu estilo muito próprio, facilmente levariam as suas canções a serem devoradas pelo público em todos os seus trabalhos de originais. Contudo, e apesar de cada álbum dos Blur ter até hoje o seu sucesso e apreço pelas mais variadas razões, Parklife é amplamente reconhecido por muitos como o mais bem-sucedido trabalho de originais dos Blur, com mais de cinco milhões de vendas em todo o mundo.

Parklife foi gravado nos estúdios Maison Rouge e RAK em Londres, entre o Verão de 1993 e o início de 1994, sob a alçada dos já habituais produtores Stephen Street, Stephen Hague e John Smith, com quem a banda já tinha trabalhado nos dois trabalhos de originais anteriores. A capa do álbum, uma fotografia que exibe dois galgos em competição, foi tirada em 1988 pelo fotógrafo Bob Thomas que mal queria acreditar que viesse a ser usada num álbum de originais de uma promissora banda britânica. Dada a sua enorme qualidade e riqueza musical, Parklife tornou-se facilmente num álbum de culto dos anos 90. Girou inúmeras vezes em aparelhagens, walkmans e discmans, e marcou aqueles que testemunharam a ascensão de uma banda que viria a ser uma das mais bem-sucedidas da década. Apesar de toda esta tecnologia se encontrar ultrapassada nos dias que correm, Parklife é um álbum que marca presença em qualquer playlist nas plataformas streaming ou até mesmo, para os fiéis seguidores que se deixaram levar pelo vynil revival, em qualquer gira-discos. Parte das canções apresentadas tiveram como grande inspiração as peripécias de Samson Young, personagem da célebre obra London Fields de Martin Amis.

É com uma das mais emblemáticas canções dos anos 90, dada a conhecer no formato single em Março de 1994, que Parklife se inicia. Girls & Boys, que exibe toda uma envolvente do Britpop, quer com o conteúdo lírico e musical, quer também com o videoclip onde os membros se apresentam de t-shirt, fato de treino e jeans, com vídeos de rapazes e raparigas em diversas pool parties, acaba por nos trazer o verdadeiro espírito dos anos 90 sempre que a escutamos. Com uma letra que aborda abertamente a sexualidade e as relações casuais entre jovens da época, Girls & Boys tornou-se num hino para uma geração, sendo também uma presença assídua nos concertos da banda devido ao ritmo de dança e ao espírito animado e vívido que contagia a plateia. Existe ainda uma versão remix com os Pet Shop Boys, que viria a ser conhecida meses mais tarde. Tracy Jacks, segunda faixa do álbum, consegue também facilmente transcender para o Britpop característico da banda, dando continuidade ao estilo que os Blur já tinham apresentado nos seus trabalhos anteriores.

Em tom de balada, End of Century trata-se também de uma canção notória deste álbum, com vários versos que abordam temas pertinentes num século prestes a fechar portas como a enorme dependência da televisão, o medo da solidão, e até mesmo questões sobre a saúde mental. Parklife, canção que dá título ao álbum surge na quarta faixa. Trata-se de uma canção interpretada a meias pelo actor Phil Daniels, conhecido por interpretar a personagem Jimmy no filme do álbum Quadrophenia dos The Who, que proclama frases à medida que a voz de Damon Albarn vai cantarolando o título da canção, “Parklife”, alternando com o refrão interpretado pelo mesmo. A letra acaba por abordar aquela que é a vida de um parque, tal como o nome indica, retratando os elementos que o formam como as aves que por lá passam, os varredores que tratam da manutenção, a cerveja que é degustada, os romances que surgem, e a quantidade diferenciada de pessoas que por lá passam, sendo esta uma das canções mais ilustres do currículo musical dos Blur. O videoclip, também bastante alusivo à época e que conta também com a presença de Phil Daniels ao volante de um Ford Granada com Damon Albarn a seu lado, foi gravado em River Way, Greenwich, a região de Londres onde actualmente se encontra a Arena O2.

Blur / Fotografia via Facebook da banda

Bank Holliday traz-nos um rock acelerado, uma canção de curta duração que viria a ser dar conteúdo a Parklife. Badhead transporta-nos para um registo inicialmente sinfónico que rapidamente transcende para uma leve melodia, que conjuga a voz de Damon Albarn e os restantes instrumentos do conjunto. O mesmo acontece com a canção seguinte, The Debt Collector, onde os instrumentos de sopro também emergem, num instrumental que se assemelha a uma valsa. Alguns dos concertos dos Blur ainda hoje têm esta melodia como canção introdutória, quando a banda começa a entrar em palco. Far Out, curta faixa num estilo mais progressivo, é interpretada pela voz de Alex James que acaba por deixar uma marca sua neste álbum muito para além do seu baixo.

To the End, que surge em tom calmo e melodioso, tem como marca os vocais em francês interpretados por Lætitia Sadier dos Stereolab que criam uma enorme harmonia com a voz de Damon Albarn. Com uma letra que aborda alguém que tenta recuperar uma má fase na sua relação de forma leve e romântica, esta é considerada ainda hoje como uma das mais belas canções dos Blur. Existe ainda uma versão gravada em 1995, intitulada La Comedie, e incluída nas faixas bónus do álbum The Great Scape, na qual Damon Albarn faz um dueto com Françoise Hardy, uma das mais emblemáticas vozes da música francesa que interpreta To The End em francês. London Loves, remete para a cidade mãe dos Blur, e por aquilo que Londres mais gosta. Com a guitarra bem presente, ao ritmo do trânsito na capital inglesa que é bem retratado, esta é uma canção que acaba por aumentar o conteúdo e a versatilidade de Parklife.

Trouble in a Message Centre, leva-nos a um estilo mais rock numa canção que os problemas diários de um centro de mensagens. Ao som das gaivotas, segue-se Clover Over Dover, que junta o som do cravo tocado por Damon Albarn que a torna numa canção distinta neste álbum. Magic America, traz-nos a magia da América numa canção quase ao estilo da Broadway, com uma forte marca do sintetizador no seu decorrer. Jubilee, trata-se de uma canção bastante enérgica e animada, que acaba por alavancar o reportório deste álbum, com uns Blur numa caminhada para aquele que viria a ser o seu auge musical.

This is a Low, a mais longa canção de Parklife, surge em tom melódico e algo melancólico abordando uma maré baixa no sentido figurado. A letra bastante pertinente tem como referências algumas das áreas portuárias e ainda Land’s End, o ponto mais ocidental do Reino Unido, com um verso visto à época como controverso e algo anti monárquico :”And the Queen, she’s gone round the bend, jumped off Land’s End“. Contando com um sublime solo de guitarra a meio de Graham Coxon no seu decorrer, a canção é fortemente marcada pelas palavras proclamadas por um rádio, “And The Radio Says”, e interpretadas por Damon Albarn: “This is a low / But it won’t hurt you / When you are alone / It will be there with you / Finding ways to stay solo”. Por fim, Lot 105, uma canção que se assemelha a um evento festivo e de enorme alegria, encerra aquela que é a verdadeira Parklife retratada pelos Blur.

A década de 90 foi essencialmente marcada pelas variantes da moda, pelos avanços da tecnologia que se tornou acessível às massas e ainda pelo aparecimento de bandas que conseguiram aperfeiçoar o estilo mais pop que fora introduzido na década anterior, mas tendo também como referência algum do repertório de intérpretes dos anos 60 ou 70. No Reino Unido, bandas como os Blur foram pioneiras desse estilo que ficaria conhecido por Britpop, conseguindo ter um sucesso que ainda hoje nos remete para o fim de um século repleto de acontecimentos e onde a indústria musical teve uma enorme influência sobre a sociedade. Passados 30 anos, e embora os membros da banda se encontrem ligados a outros projectos e parcerias, os Blur continuam a produzir música sempre que podem, com trabalhos originais e inovadores que consigam transgredir para os novos tempos. No caso de Parklife, este será sempre um álbum associado ao que melhor houve na música durante os últimos suspiros de um século de grandes revoluções, onde a música não foi excepção.

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Fonte: https://comunidadeculturaearte.com/parklife-30-anos-do-estouro-do-britpop-dos-blur/