O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou novamente nesta sexta-feira (6) que se arrepende de algumas declarações e decisões tomadas em sua gestão no âmbito da segurança pública. O governador participou de um evento promovido pela faculdade IDP, em São Paulo, que reuniu autoridades como o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, para discutir políticas públicas na área.
Durante sua fala, Tarcísio destacou que a segurança pública é atualmente a maior preocupação da população paulista, enfatizando os impactos dos crimes patrimoniais na sensação de insegurança.
– Hoje a maior preocupação do paulista é a segurança pública, é uma ferida aberta, uma chaga. Nós temos os crimes patrimoniais que trazem essa sensação de insegurança – declarou.
Na ocasião, Tarcísio voltou a comentar sua posição sobre o uso de câmeras corporais pelos policiais militares. Após admitir, na quinta-feira, que tinha uma “visão completamente errada” sobre a tecnologia no passado, ele retomou o tema no evento, reforçando a necessidade de revisitar políticas para aprimorar a segurança no estado.
— A gente comete erros também. Tem hora que a gente quer parar para pensar e fazer uma reflexão. Às vezes a gente erra no discurso, a gente dá o direcionamento errado e isso é fácil de ser percebido hoje — disse o governador. — A política de câmeras é uma política que eu particularmente me arrependo muito da postura reativa que tive lá atrás. Hoje eu percebo que ela ajuda o agente da segurança pública, eu percebo que ela é um fator de contenção e nós precisamos, sim, de contenção. E de equilíbrio, porque o grande desafio é como garantir a segurança jurídica daquele agente que está lá na ponta — disse o governador.
O evento contou ainda com a presença do ex-ministro Raul Jungmann e da professora Joana Monteiro, coordenadora do Centro de Ciência Aplicada à Segurança Pública da Fundação Getúlio Vargas. Joana fez falas duras sobre a revisão da política das câmeras corporais em curso no estado de São Paulo, que vão parar de gravar de forma ininterrupta as ações policiais, e chamou atenção que o discurso dos governantes tem impacto na conduta da tropa.
— O que os senhores falam importa muito. A mensagem que os senhores passam para a tropa às vezes importa mais que qualquer aparelho tecnológico. Discursos populistas de que se pode usar a força prontamente, quem sofre mais com isso é o policial. Esse é discurso que é ineficaz e o que estamos vendo é o processo de deslegitimação da polícia — disse Joana.
Tarcísio reconheceu que ainda busca modular o discurso sobre o tema:
— Como modular o discurso para garantir, de fato, segurança jurídica, mas também o atendimento às normas, o atendimento aos procedimentos operacionais? Como não permitir o descontrole? Como deixar claro que não existe salvo-conduto? Então, observem que eu tenho, no final das contas, uma série de dúvidas. Não tenho respostas — analisou o governador.
O secretário de segurança pública, Guilherme Derrite, acompanhou o governador ao evento. Os dois, no entanto, ao saírem do local, não responderam às perguntas da imprensa.
Novo recuo
Pressionado pela crise envolvendo o aumento de episódios de violência policial em São Paulo, o governador já havia declarado na quinta (5) que estava “completamente errado” ao criticar a adoção de câmeras corporais por agentes da Polícia Militar (PM) durante operações. Ele disse estar “convencido” de que é preciso ampliar o uso dos equipamentos para proteger a sociedade.
— Eu era uma pessoa que estava completamente errada nessa questão [das câmeras corporais]. Eu tinha uma visão equivocada, fruto da experiência pretérita que eu tinha, que não tem nada a ver com a segurança pública. Hoje, eu estou absolutamente convencido que é um instrumento de proteção da sociedade e do policial. Vamos não só manter o programa, como ampliá-lo e tentar trazer o que tem de melhor em termos de tecnologia — disse Tarcísio em entrevista à CBN ao visitar obras do metrô da estação Santa Clara, na Zona Leste de São Paulo.
Na campanha eleitoral de 2022, quando venceu o petista Fernando Haddad no segundo turno, Tarcísio chegou a dizer que acabaria com os equipamentos acoplados aos uniformes da PM, alegando que a “turma”, em referência aos policiais militares, tinha de “perceber que o estado está do lado dele”.
Em entrevista à Jovem Pan News, alegou que as câmeras colocariam os policiais em situação de “desvantagem em relação ao bandido”. Diante da repercussão negativa, reavaliou a fala poucos dias depois, declarando que tomaria a decisão “do ponto de vista técnico” conversando com especialistas.
Em março, questionado sobre o alto número de mortes em operações na Baixada Santista, que provocou queixas de grupos de direitos humanos à ONU, Tarcísio afirmou que não estava “nem aí” para as críticas:
— Pode ir na ONU, na Liga da Justiça, que eu não tô nem aí — disse, na ocasião.
Com informações de O Globo.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/tarcisio-volta-a-dizer-que-se-arrepende-de-visao-errada-sobre-seguranca-e-esta-modulando-discurso/