A história dinástica da China abrange 13 períodos de governo, desde 2070 a.C. até a abdicação do último imperador, em 1912 d.C. As transições entre dinastias foram influenciadas por uma complexa combinação de fatores ambientais, sociais e econômicos, com a mudança climática frequentemente apontada como elemento importante nesses processos geopolíticos.
Isso ocorre porque, antes da era industrial, a China dependia amplamente da agricultura, o que a tornava vulnerável a mudanças climáticas abruptas, com impactos sociais e econômicos significativos.
Uma nova pesquisa, publicada na Quaternary Science Reviews, investigou o papel da mudança nos padrões de precipitação, especialmente em relação à variabilidade das monções asiáticas. Esses fenômenos naturais causam invernos frios e secos, resultando em secas, e verões quentes e úmidos, com chuvas fortes entre maio e setembro, além de ciclones tropicais que podem causar destruição.
Detalhes sobre o estudo que liga clima às mudanças políticas na China
- O estudo, conduzido pelo Dr. Haowen Fan, da Universidade de Geociências da China, e sua equipe, analisou registros de espeleotemas da Caverna Heshang, no centro da China, com dois mil anos de dados;
- Esses depósitos minerais se formam em cavernas, acumulando-se a partir da água subterrânea e dando origem a estalactites e estalagmites;
- Por meio da análise de isótopos de oxigênio (δ 18 O) nesses espeleotemas, os pesquisadores puderam estimar as variações nas precipitações das monções ao longo do tempo;
- Durante o período de 1 a 400 d.C., por exemplo, o δ 18 O foi mais baixo, o que coincidiu com o Período Quente Romano, caracterizado por maior precipitação, enquanto entre 400 e 800 d.C., o δ 18 O aumentou, correspondendo ao Período Frio da Idade das Trevas, com menor precipitação;
- A pesquisa revelou que períodos de monções mais intensas, com aumento de precipitação no oeste da China e diminuição no leste, coincidiam, frequentemente, com mudanças dinásticas em escalas de tempo multidecadeis (com ciclos de pico de 13, 35 e 75 anos);
- Secas prolongadas no leste da China, região com maior densidade populacional e agrícola, afetaram a produção de grãos, causando crises alimentares e econômicas.
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Segundo o Phys.org, Dr. Fan destaca que, em vez de uma mudança climática uniforme em todo o país, as variações regionais nos padrões climáticos tiveram um papel crucial na instabilidade social e política. Desde 221 a.C., mais de 80% da população da China vive no leste, onde se localizam as dinastias mais influentes, como Han, Tang, Song do Norte, Yuan, Ming e Qing. Esse território foi especialmente vulnerável aos impactos climáticos nas esferas sociais e econômicas.
Por exemplo, as dinastias Wei, Jin e Norte-Sul (181–540 d.C.) e a dinastia Tang (618–907 d.C.) ocorreram em períodos mais frios, quando as monções eram mais fracas. Já as dinastias Ming e Qing (1321–1920) floresceram durante períodos relativamente mais quentes, com monções mais intensas.
A monção mais fraca registrada, entre 1500 e 1650 d.C., coincidiu com o colapso da dinastia Ming, quando a Pequena Idade do Gelo causou queda significativa nos rendimentos agrícolas, com perdas de 20% a 50% na produção per capita. Esse declínio, agravado por secas, gerou revoltas que contribuíram para a queda da dinastia.
Essas evidências revelam como a variabilidade nas monções, com suas secas e escassez de água, afetou diretamente a produção agrícola e, consequentemente, a estabilidade social e política, levando a crises econômicas e agitação civil que alteraram o curso da história da China.
O post Arma secreta da natureza: como o clima escreveu a história da China apareceu primeiro em Olhar Digital.
Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/12/09/ciencia-e-espaco/arma-secreta-da-natureza-como-o-clima-escreveu-a-historia-da-china/