20 de dezembro de 2024
Senado adquire software de reconhecimento facial com IA controverso; entenda
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O Senado Federal oficializou, em novembro, a compra de uma licença para o uso do programa de reconhecimento facial Clearview AI, desenvolvido pela empresa estadunidense de mesmo nome. A ferramenta será utilizada pela Polícia do Senado para aprimorar a identificação de pessoas e fortalecer ações de segurança.

Apesar do potencial da tecnologia, a aquisição gerou polêmica. Segundo o g1, especialistas apontam que o sistema, alimentado por mais de 50 bilhões de imagens supostamente coletadas sem consentimento na internet, pode ferir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil e comprometer o direito à privacidade.

Contratação pelo Senado foi realizada sem licitação (Imagem: Alexandre Siqueira/Shutterstock)

Como funciona o Clearview AI

O software permite identificar indivíduos comparando fotos de rostos com vasto banco de dados que reúne imagens públicas obtidas de redes sociais, sites e outras fontes. Embora a Clearview AI afirme que sua precisão supera 99%, o método de coleta é alvo de críticas e disputas judiciais em diversos países.

Especialistas destacam que o sistema não opera em tempo real, mas, sim, como ferramenta de investigação. Ou seja, é utilizado após a ocorrência de crimes ou eventos, não como solução de vigilância ativa.

Contrato sem licitação

O Senado adquiriu a licença do software por R$ 87.680, sem licitação, justificando a decisão pelo fato de haver apenas uma representante oficial da Clearview AI no Brasil, com sedes em Belo Horizonte (MG) e Brasília (DF). A contratação foi solicitada pela Secretaria de Polícia do Senado, que argumentou que a ferramenta supre “lacuna” na capacidade de resposta às infrações.

O contrato, válido até novembro de 2025 e passível de renovação, inclui consultas ilimitadas ao sistema, treinamento operacional e suporte técnico.

Controvérsias envolvendo o banco de dados

O banco de dados da Clearview AI, supostamente formado sem consentimento dos titulares das imagens, está no centro das polêmicas. A prática é alvo de ações judiciais nos Estados Unidos e foi criticada por gigantes da tecnologia, como Google e Meta, que solicitaram à empresa que parasse de coletar dados de suas plataformas.

Nos Estados Unidos, um processo coletivo em andamento pode obrigar a Clearview AI a destinar parte de suas receitas ou ações para cidadãos que tiveram seus direitos de privacidade violados.

Escrito "LGPD" em fundo amarelo ao lado de um cadeado aberto com a bandeira do Brasil impressa
Especialistas afirmam que conduta da Clearview AI fere a LGPD (Imagem: SkazovD/Shutterstock)

Uso no Senado

  • A Polícia do Senado afirmou que a ferramenta será empregada apenas como “filtro inicial” para identificação de pessoas;
  • A análise e validação das informações continuarão sendo realizadas por agentes humanos;
  • Em nota ao g1, o órgão destacou que o uso do Clearview AI permitirá identificação “rápida e precisa”, aumentando a segurança no Senado e protegendo autoridades, servidores e visitantes;
  • O documento citou os atos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023 como exemplo de situação em que a ausência de mecanismos ágeis dificultou a localização de suspeitos;
  • “A demora criou sensação de ineficiência dos aparatos policiais, tendo em vista a impunidade lastreada no anonimato da multidão”, apontou a justificativa.

Conformidade com a LGPD

Especialistas em direito digital questionam a conformidade do uso do Clearview AI com a LGPD, que exige o consentimento do titular para o uso de seus dados.

Luiz Augusto D’Urso, advogado e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destacou ao portal que, mesmo sendo dados disponíveis na internet, a coleta sem autorização viola a legislação brasileira. “Entendo que o Senado não deveria utilizar esse banco de dados. Esse contrato pode ser questionado pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados [ANPD)”, afirmou D’Urso.

Apesar disso, o contrato exige que a empresa assegure o cumprimento da LGPD, incluindo a proteção de dados coletados no Senado e a comunicação de eventuais violações em até 24 horas.

O que dizem as partes envolvidas

Senado

Em resposta às críticas, o Senado afirmou que o contrato inclui cláusulas que garantem a observância da LGPD, visando equilibrar a atividade policial com a proteção à privacidade.

“A previsão de cláusulas que garantam o correto uso da informação é mais que uma exigência legal: é um equilíbrio entre a atividade policial e a garantia de privacidade”, declarou a Casa.

O Senado também ressaltou que o uso de reconhecimento facial já é adotado por outras instituições públicas no Brasil, como o Ministério da Justiça e a Polícia Federal, e que o Clearview AI será empregado exclusivamente para analisar dados disponíveis em fontes abertas na internet.

“O intuito é fortalecer ações de inteligência e segurança pública, auxiliando na análise de ameaças ao Senado Federal”, afirmou a nota oficial.

Assim como o g1, o Olhar Digital entrou em contato com o Senado e aguarda resposta.

Logo da Clearview AI em um smartphone, com o site da empresa ao fundo em uma tela de computador
Clearview AI é acusada de utilizar dados de usuários sem consentimento para melhorar sua IA (Imagem: T. Schneider/Shutterstock)

Clearview

Também acionamos a Clearview e estamos aguardando um posicionamento. Tão logo recebamos as respostas, atualizaremos esta reportagem.

O post Senado adquire software de reconhecimento facial com IA controverso; entenda o caso apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/12/19/pro/senado-adquire-software-de-reconhecimento-facial-com-ia-controverso-entenda-o-caso/