China reforça sua estratégia para conter apostas contra o renminbi, enfrentando a pressão de Wall Street, a desaceleração econômica e o impacto das ameaças tarifárias de Trump
A China se prepara para realizar sua maior venda de títulos offshore em uma tentativa de apoiar o renminbi, enquanto Wall Street aumenta suas apostas contra a moeda devido à fraqueza da segunda maior economia do mundo e à ameaça de tarifas por parte de Donald Trump.
O Banco Popular da China anunciou na quinta-feira que venderá 60 bilhões de renminbi (US$ 8,2 bilhões) em títulos em Hong Kong em janeiro, marcando sua maior venda única desde o início dos leilões no território em 2018.
A venda de títulos terá o efeito de reduzir a liquidez do renminbi e tornar mais caro para os traders apostarem contra a moeda em mercados fora da China.
O renminbi enfraqueceu, ultrapassando 7,33 renminbi por dólar nos primeiros dias de negociação de 2025, atingindo seu nível mais baixo desde setembro de 2023. Isso representa um desafio para as autoridades chinesas, que prometeram manter a moeda em um nível estável.
No entanto, investidores acreditam que o banco central tolerará um enfraquecimento gradual da moeda. Bancos globais preveem que o renminbi atingirá 7,5 por dólar ou mais até o final do ano, um nível visto pela última vez em 2007, com sérias implicações para o comércio global.
Se alcançar esse nível, a China possui US$ 3,2 trilhões em reservas oficiais e cerca de US$ 1 trilhão adicionais em suporte não oficial de bancos estatais e exportadores, que podem ser usados para proteger a moeda.
Com o anúncio da venda de títulos na quinta-feira, “eles estão enviando um sinal de que, mesmo com a situação tarifária, estão fazendo o possível para proteger a moeda”, disse Ju Wang, chefe de estratégia de taxas e câmbio da China no BNP Paribas.
O renminbi enfraqueceu apesar do Banco Popular da China manter sua taxa de câmbio fixa — uma taxa oficial diária em torno da qual o renminbi negociado na China continental pode variar em até 2% — estável em cerca de 7,19 renminbi por dólar no último mês.
Fora da China continental, o renminbi é negociado livremente e não está sujeito à banda de negociação. O banco central chinês tem tentado gerenciar a desvalorização em mercados offshore por meio de orientações não oficiais e intervenções discretas.
Um sinal dessas intervenções ocorreu na terça-feira, quando a taxa overnight para emprestar renminbi offshore em Hong Kong disparou para mais de 8%, o maior nível em três anos, tornando mais caro para investidores apostarem contra a moeda.
O banco central consegue provocar esses aumentos drenando o mercado de renminbi offshore, por exemplo, por meio da emissão de títulos.
Ainda assim, vários investidores disseram ao Financial Times que estão optando por vender a descoberto o renminbi offshore, acreditando que a moeda enfraquecerá ainda mais.
Os movimentos recentes da moeda “indicam uma estratégia de política onde as autoridades estão relativamente confortáveis com um enfraquecimento lento e gerenciado em relação ao dólar, mantendo alguma estabilidade em relação a uma cesta mais ampla de moedas”, disse um gestor de fundo de hedge.
A maioria dos investidores espera que o maior enfraquecimento ocorra quando as novas políticas tarifárias da administração Trump forem mais claras. Trump será empossado em 20 de janeiro.
JPMorgan, Barclays e BNP Paribas preveem que o renminbi cairá para 7,5 por dólar até o final de 2025. O Nomura prevê que atinja 7,6 até maio, enquanto o Bank of America estima que chegue a 7,4 até o final do ano.
Alguns acreditam que a moeda pode enfraquecer além de 7,5. “Nossa suposição de trabalho é que a moeda caia para entre 8 e 8,1 até o meio de [2025], condicionado a este choque tarifário relativamente grande”, disse Robert Gilhooly, economista sênior de mercados emergentes da Abrdn.
Comparado à rodada anterior de tarifas de Trump em 2017, “os riscos estão inclinados para uma desvalorização maior desta vez”, ele acrescentou. Isso “permitirá um ajuste considerável da moeda para aliviar a pressão das tarifas; foi o que vimos na última vez”.
Um renminbi mais barato ajudaria os exportadores chineses a permanecerem competitivos frente às tarifas mais altas nos EUA, mas também poderia deixar a China vulnerável à acusação de manipulação cambial, uma crítica feita pela administração Trump anterior.
Com informações do Financial Times*
Fonte: https://www.ocafezinho.com/2025/01/09/china-reforca-protecao-de-sua-moeda-contra-ataques-de-wall-street/
