16 de janeiro de 2025
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Com a posse iminente de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem adotado uma postura pragmática em relação ao próximo líder da Casa Branca, apesar da proximidade de Trump com Jair Bolsonaro e de sua agenda política consideravelmente mais à direita em comparação aos seus antecessores republicanos. Segundo informa a colunista Malu Gaspar, do jornal O GLOBO, os assessores de Lula acreditam que, devido aos laços históricos entre Brasil e EUA, os dois países manterão um diálogo cordial.

No círculo próximo ao presidente Lula, a relação amigável com o presidente George W. Bush (2001-2009), também do Partido Republicano, durante boa parte dos mandatos do petista, é lembrada como exemplo de que o pragmatismo deve prevalecer nas interações entre Brasília e Washington. Os Estados Unidos são o segundo maior importador de produtos brasileiros, e ambos os países possuem uma longa história de cooperação em temas estratégicos.

Um dos maiores defensores dessa abordagem pragmática é o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que acredita que os interesses comuns entre as nações superarão as divergências ideológicas.

“As relações Brasil-EUA vão ser sempre ótimas, como sempre foram. São relações de Estado, o presidente Lula mesmo já teve as melhores relações possíveis com o Bush, como todos os outros. Os interesses dos Estados são sempre maiores”, declarou o chanceler à reportagem.

Bush visitou o Brasil em duas ocasiões durante seu mandato, em 2005 e 2007, repetindo o feito de seu pai, George H. Bush (1989-1993). Eles só são superados por Franklin Roosevelt, que esteve no país por três vezes, mas governou os EUA por 15 anos – o que não é mais permitido pela Constituição do país. O último presidente dos Estados Unidos a fazer uma visita de Estado no país foi Barack Obama, em 2011, durante o governo Dilma Rousseff. Joe Biden esteve no Rio e em Manaus em novembro passado, mas a pretexto da cúpula do G20, presidido pelo Brasil em 2024.

A relação pragmática com Bush filho a despeito da posição do Brasil contra a guerra no Iraque e no Afeganistão, por exemplo, é frequentemente citada pelo petista. O bom diálogo com o estadunidense também é destacado pelo seu ex-chanceler e atual assessor especial da Presidência, Celso Amorim, em seus livros.

Mas os Estados Unidos mudaram muito desde 2009, bem como o Partido Republicano de Trump. O presidente eleito não contou com o apoio formal de Bush, justamente a principal referência do governo Lula na torcida por um bom relacionamento com a Casa Branca, nas três eleições que disputou (2016, 2020 e 2024) e representa um divisor de águas nos rumos da legenda.

Durante seu primeiro mandato, Trump manteve uma relação fria com o então presidente Michel Temer (MDB), enquanto sua política externa para a América Latina se concentrou nas crises migratórias da Venezuela e Nicarágua. Com a eleição de Bolsonaro em 2018, o magnata se aproximou do líder brasileiro, conhecido nos EUA como o “Trump tropical”, e designou o Brasil como um aliado extra-Otan – título que permite, entre outras coisas, acordos militares e econômicos entre o Estado brasileiro e o bloco militar do Atlântico Norte.

Em dezembro, já na condição de eleito, Trump ameaçou taxar produtos brasileiros e criticou a tributação do país latino-americano.

“O Brasil cobra muito. Se eles querem nos cobrar, tudo bem, mas vamos cobrar a mesma coisa”, declarou na ocasião.

Antes disso, o estadunidense já havia ameaçado cobrar 100% de tarifas sobre exportações dos países que compõem o Brics pelo interesse do bloco em construir uma alternativa ao dólar no mercado internacional.

Além da pauta econômica divergente e do discurso isolacionista na geopolítica internacional, há ainda uma identificação com a extrema direita brasileira.

Reconhecimento da vitória

Bolsonaro foi o último líder estrangeiro democrático a reconhecer a vitória de Biden diante das acusações infundadas de fraude eleitoral por parte de Trump. Na eleição presidencial de 2022, o ex-presidente dos EUA gravou um vídeo pedindo voto pela reeleição do aliado do Brasil.

Em novembro passado, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) acompanhou a apuração da eleição presidencial estadunidense na seleta festa do candidato republicano, que acabaria vencendo a atual vice-presidente, Kamala Harris, na Flórida.

Além disso, mais de 30 parlamentares bolsonaristas pretendem acompanhar a posse do futuro presidente em Washington e participarão de uma série de eventos na capital, incluindo um comício convocado por Trump na véspera de sua investidura no cargo.

Lula não foi convidado para a cerimônia, ao contrário de Bolsonaro. A participação de chefes de Estado ou de governo não é uma tradição nos EUA, mas Trump convidou outros líderes incumbentes como Javier Milei, da Argentina, e Giorgia Meloni, da Itália, ambos situados na extrema direita.

A regulação de redes sociais e o enquadramento das big techs deve ser um dos principais pontos de atrito entre Brasília e a Casa Branca. O alinhamento da Meta e suas redes sociais, como Facebook e Instagram, com Trump provoca temores no Palácio do Planalto e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de retrocesso no enfrentamento da disseminação das fake news.

O presidente brasileiro tem feito gestos cautelosos. Um dia após as eleições nos EUA, Lula foi às redes sociais parabenizar Trump pela vitória, desejando-lhe sorte e sucesso.

“Meus parabéns ao presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e retorno à presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada. O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz, desenvolvimento e prosperidade. Desejo sorte e sucesso ao novo governo”, afirmou.

Lula empregou um tom bem diferente daquele que usou ao declarar apoio a Kamala em entrevista ao canal francês TF1, quando afirmou que o nazismo e o fascismo estão voltando a funcionar “com outra cara”.

“Com Kamala Harris é muito mais seguro para a gente fortalecer a democracia. Nós vimos o que foi o presidente Trump (…), aquele ataque ao Capitólio. Uma coisa que era impensável acontecer nos EUA, porque se apresentavam ao mundo como modelo de democracia. E esse modelo ruiu”, disse na ocasião.

“E, como eu sou amante da democracia, acho a democracia a coisa mais sagrada que nós conseguimos construir para bem governar os nossos países, eu, obviamente, fico torcendo para a Kamala ganhar as eleições”, acrescentou Lula.

Ao que tudo indica, o Itamaraty sob Lula suará muito a camisa para manter o diálogo com Washington dentro dos parâmetros da normalidade política.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/as-vesperas-da-posse-de-trump-chanceler-brasileiro-diz-que-as-relacoes-entre-brasil-e-eua-serao-otimas-como-sempre-foram/