Marte, hoje um lugar árido e frio, já teve água líquida em abundância. Evidências geológicas indicam a presença de antigos rios, lagos e sistemas de drenagem na superfície do planeta.
Agora, um novo estudo aponta que um grupo de montes na região de Chryse Planitia, uma área de transição entre o hemisfério norte e sul, são os últimos remanescentes de antigas terras altas, esculpidas pela ação da água há bilhões de anos.
Liderada pelo astrofísico Joseph McNeil, do Museu de História Natural de Londres, Inglaterra, sugere que esses montes preservam um registro geológico valioso para futuras explorações. “A pesquisa mostra que Marte tinha um clima muito diferente no passado”, afirma o cientista em um comunicado. “Os montes são ricos em minerais de argila, o que indica que a água líquida esteve presente nessa região por um longo período, há quase quatro bilhões de anos”.
A descoberta foi publicada este mês na revista Nature Geoscience e pode ajudar a responder uma questão fundamental: Marte já teve um oceano? A missão do rover Rosalind Franklin, da Agência Espacial Europeia (ESA), prevista para explorar áreas próximas nos próximos anos, pode trazer pistas sobre a possibilidade de vida no passado marciano.
O mistério da dicotomia marciana
Os montes de Chryse Planitia se localizam ao norte de uma das características mais intrigantes de Marte: a chamada “dicotomia marciana”. Essa divisão separa as terras altas do sul, antigas e acidentadas, das planícies do norte, mais jovens e planas. A origem dessa diferença ainda não foi completamente explicada.
Na Terra, as placas tectônicas modelam os continentes e oceanos. Mas Marte não possui placas tectônicas, o que torna sua formação geológica um mistério. Uma das hipóteses sugere que o hemisfério norte do planeta sofreu impactos de grandes asteroides no passado, criando as vastas planícies. Outra possibilidade é que processos internos, semelhantes às placas tectônicas terrestres, tenham ocorrido no início da história marciana e depois cessado.
A forma como essa dicotomia se manifesta varia ao longo do planeta. Em alguns lugares, há um declive suave ligando os dois terrenos. Em outros, a transição é um penhasco abrupto, com até 500 metros de altura.
O que os montes revelam sobre o passado de Marte?
Para entender a formação dos montes, McNeil analisou imagens captadas por satélites da NASA e da ESA que orbitam Marte e possuem sensores capazes de mapear sua geologia. As imagens revelam que cada monte é composto por camadas de rochas sobrepostas, registrando eventos geológicos ao longo do tempo.
“As camadas mais antigas, na base dos montes, têm cerca de quatro bilhões de anos”, explica o pesquisador. “Para um geólogo, examinar essas camadas é como ler as páginas de um livro — cada uma conta uma parte da história”.
Os montes têm até 350 metros de sedimentos ricos em argila, evidência de que a água esteve presente na superfície por um longo período. Uma possibilidade é que esses depósitos sejam vestígios de um antigo oceano que cobriu parte do hemisfério norte de Marte, embora essa ideia ainda seja debatida entre os cientistas.
Com o tempo, as terras altas da região foram erodidas pela ação da água, deixando apenas os montes como testemunhas desse processo. Mas determinar com exatidão quanto tempo essa transformação levou não é simples.
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Como os cientistas datam a superfície do Planeta Vermelho?
Diferentemente da Terra, onde amostras podem ser coletadas e analisadas em laboratório, a datação de formações geológicas em Marte depende da contagem de crateras de impacto. Regiões com mais crateras são consideradas mais antigas, enquanto áreas com poucas crateras são mais recentes.
McNeil estima que a formação e erosão dos montes tenham ocorrido ao longo de 100 a 200 milhões de anos. “Isso pode indicar que o acúmulo de sedimentos foi rápido e a erosão lenta, ou o contrário”, explica. Para obter respostas mais precisas, será necessário trazer amostras de Marte para análise na Terra – algo que as agências espaciais planejam para a década de 2030.
Além de revelar a história de Marte, essas descobertas ajudam os cientistas a entender melhor a própria Terra. Como Marte não possui placas tectônicas, sua superfície preserva traços de sua geologia primitiva, algo que não acontece no nosso planeta devido ao constante movimento das placas.
“Estudar Marte nos permite enxergar como a Terra pode ter sido em seus primórdios”, conclui McNeil. “Com mais missões exploratórias, poderemos desvendar não apenas a história do Planeta Vermelho, como também aspectos fundamentais da evolução da Terra”.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/01/30/ciencia-e-espaco/montes-misteriosos-de-marte-podem-ser-a-prova-de-um-antigo-oceano/