![Terra, luta e esperança: o drama das famílias do Assentamento](https://gazetadoleste.com/wp-content/uploads/2025/02/Terra-luta-e-esperanca-o-drama-das-familias-do-Assentamento.jpeg)
Na região tocantina do Maranhão, gritos ecoam entre as palmeiras de babaçu e os roçados de mandioca. É o lamento de quem vê décadas de raízes ameaçadas por uma sentença judicial fria e o avanço de monoculturas que não conhecem a cor do suor humano.
Na tarde desta terça-feira (11), em Cidelândia, o correspondente do Jornal O Impacial na região, Carlos Leen esteve com o Vice-Governador Felipe Camarão e ouviu histórias que a terra guarda há 40 anos – e que agora correm risco de ser apagadas pelo rastro da Suzano Papel e Celulose.
Do Assentamento Sapucaia, em Vila Nova dos Martírios, nos chega o desespero de 500 famílias que, de repente, descobriram-se com um prazo de validade.
Há dois meses, uma ordem de despejo expedida pela Justiça local colocou um relógio de areia sobre suas casas, suas lavouras, suas memórias.
A empresa Suzano, gigante do setor de celulose, alega direitos sobre a área. Os moradores, porém, contam outra história: a de que a terra, ocupada há quatro décadas, é seu único atlas para navegar a vida.
“Toda a nossa vida está aqui. Até o pão nosso de cada dia sai dessa terra”, diz Dona Raimunda, voz embargada, enquanto segura um neto no colo. Suas mãos calejadas, acostumadas a colher feijão e a quebrar coco babaçu, agora tremem diante do abismo do “para onde ir?”. Ao seu lado, Seu Hermenegildo, olhar firme mas voz quebrada, resume: “Essa empresa não sente dó de ninguém. Ameaça e destrói por onde passa”.
A Suzano, segundo os relatos, entrou no território para substituir a agricultura diversa – arroz, milho, abacaxi, melancia – por fileiras infinitas de eucalipto, árvore-estrangeira que não alimenta, não abraça, não conversa com o cerrado. “Atividade que não gera renda pra gente nem benefício pra natureza”, resmungam os trabalhadores rurais.
O conflito não é novo. A região, cobiçada desde os tempos do projeto Ceumar – que décadas atrás disse que traria um “progresso” que nunca chegou para os pequenos –, repete agora o mesmo roteiro de dor.
As 150 famílias que transformaram o assentamento em um mosaico de resistência alimentar (são produtores de farinha, melancia, feijão e guardiões do babaçu) veem a história se repetir, como um pesadelo em loop.
Mas nesta terça-feira, o cenário ganhou um respingo de esperança. Felipe Camarão, Vice-Governador, ouviu cada palavra e comprometeu-se a intermediar pessoalmente o conflito e já acionou o INCRA para mapear a situação fundiária. “Não vamos abandonar vocês”, garantiu, enquanto anotava nomes, datas, detalhes que a burocracia costuma cobrar.
Enquanto isso, o povo da Sapucaia segue resistindo. Plantando, colhendo, quebrando coco, tecendo redes de solidariedade. Sabem que, nesta guerra entre o eucalipto e o babaçu, entre o despejo e a permanência, sua maior semente é a união.
Resta saber se a Justiça, desta vez, será capaz de enxergar que algumas raízes são tão profundas que nem o dinheiro consegue arrancar.
O outro lado
Nota Suzano:
A Suzano reafirma ser a real proprietária do imóvel denominado Fazenda Jurema já tendo apresentado todos os documentos que comprovam a sua posse e propriedade nos autos do processo judicial em que, inclusive, já foram reconhecidos os direitos da Suzano e, ainda, sua legitima posse e propriedade (inclusive pelo próprio INCRA-MA).
O imóvel é objeto de processo de reintegração de posse com decisão definitiva (validada pelo Tribunal do Maranhão e transitada em julgado) desde 2014 (há mais de 10 anos), de forma que a invasão existente desrespeita decisões judiciais que já reconheceu a ilegalidade da invasão.
Importante mencionar, ainda, que a área invadida faz parte de uma reserva legal considerada de Alto Valor de Conservação (AAVC), havendo no processo evidências de desmatamento, queimadas e furto de madeira nativa, causando danos significativos ao meio ambiente e às comunidades do entorno.
A empresa reforça que cumpre rigorosamente a legislação brasileira e continuará conduzindo suas atividades econômicas para contribuir com o desenvolvimento sustentável do país e do Estado do Maranhão.
Após a retomada da posse de sua propriedade, a Suzano realizará um trabalho de recuperação dos danos causados, assegurando a preservação da área de reserva, que não será destinada para o plantio de eucalipto no estado do Maranhão.
Quer receber as notícias da sua cidade, do Maranhão, Brasil e Mundo na palma da sua mão? Clique AQUI para acessar o Grupo de Notícias do O Imparcial e fique por dentro de tudo!
Siga nossas redes, comente e compartilhe nossos conteúdos:
Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/02/terra-luta-e-esperanca-o-drama-das-familias-do-assentamento-sapucaia/