Judiciário de Açailândia agenda júri de acusado de tentar matar rapaz confundido com ladrão

O Poder Judiciário de Açailândia, por meio da 1ª Vara Criminal, agendou para o dia 2 de abril o julgamento de um homem que tentou matar um rapaz que, possivelmente em função da sua cor de pele, teria sido confundido com um ladrão. No caso, a vítima estava dentro do próprio carro, e teria sido retirada à força pelo denunciado e agredida no meio da rua. O caso tomou grande repercussão, sendo veiculado nacionalmente na imprensa. Trata-se do réu Jhonnatan Silva, que, acompanhado de uma mulher, teria tentado contra a vida de Gabriel Nascimento. 

De acordo com apuração da polícia e narrado na denúncia, no dia 18 de dezembro de 2021, por volta das 06h20min, em frente a um condomínio de apartamentos, no centro de Açailândia, Jhonnatan Barbosa e Ana Paula Vidal, teriam tentado matar Gabriel, por motivo torpe, com emprego de asfixia e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, não consumando seu intento por causa de interferência de terceiros. A vítima saiu de seu apartamento para realizar prévia verificação em seu automóvel, no caso um veículo Ágile, pois ainda naquela manhã sairia em viagem.

Ao adentrar em seu automóvel, que, na ocasião, estava estacionado em frente ao prédio residencial em que morava, Gabriel sentou-se inicialmente no banco do motorista, deslocando-se após até o banco do passageiro. Nesse momento, os dois denunciados aproximaram-se do local, ambos a bordo de um veículo BMW, o qual foi logo estacionado um pouco mais a frente do automóvel da vítima. Ato contínuo, o casal desceu do carro e, já presumindo que Gabriel, em razão sua raça e cor da pele, estava subtraindo itens de valor do automóvel, partiram em direção à vítima.

Os dois, então, perguntaram o que o rapaz fazia dentro do carro. Em resposta, Gabriel disse ser morador do prédio em frente e proprietário do veículo, esclarecendo ainda que estava em seu automóvel para verificar alguns itens antes de viajar. Não acreditando na resposta, o casal mandou a vítima sair do carro. Gabriel, então, levantou as mãos para demonstrar que não oferecia perigo e tentou mais uma vez esclarecer a situação. Os dois, em vez de tentarem confirmar as informações do rapaz, teriam iniciado agressões, com empurrões, socos e chutes contra a vítima, tentando, inclusive, o emprego de asfixia e mediante recurso que dificultou a defesa de Gabriel.

Imagens de câmara

Conforme comprovado pelas imagens obtidas de uma câmera de segurança que havia no local, o primeiro golpe desferido contra Gabriel partiu de Jhonnatan, o qual, inicialmente, aparece empurrando e depois puxando a vítima com violência, para longe de seu próprio carro, aplicando, após, uma rasteira para provocar a sua queda. Na sequência, o denunciado chuta e pisa na vítima. Ato contínuo, a mulher passa a pressionar o tórax e o braço direito da vítima com o joelho esquerdo, ao mesmo tempo em que também pressiona o abdômen da vítima com o joelho direito. Gabriel não mais consegue se defender, passando a ter parte de sua capacidade respiratória suprimida.

Somente ao perceber a aproximação no local de uma motocicleta com dois ocupantes, é que a mulher para de pressionar com seus joelhos o corpo de Gabriel e se afasta da vítima. O homem, no entanto, permanece pisando o pescoço do rapaz, que então consegue colocar as mãos sobre o pé daquele para tentar se defender, ainda sem efetivo êxito. A vítima tentou se levantar, mas leva uma gravata do denunciado. Ana Paula observa toda a ação, incentivando a conduta com dizeres do estilo “não deixa ele escapar”. Nesse momento, um vizinho de Gabriel se aproxima do local, perguntando o que estava acontecendo. A mulher responde que Gabriel estava roubando pertences do Ágile, possivelmente motivada pela cor da vítima. 

A testemunha confirma que Gabriel é o proprietário do automóvel e que, inclusive, reside no imóvel em frente, pedindo, em seguida, calma para o casal. Jhonnatan permaneceu pressionando o pescoço de Gabriel, tentando aplicar uma rasteira e provocar sua queda. 

Os denunciados somente soltam o pescoço da vítima depois das intervenções insistentes da testemunha, que gesticulou para o veículo e para o edifício, na tentativa de fazê-los entender que Gabriel é o proprietário do automóvel e reside logo em frente. Apenas nesse instante é que o denunciado se afasta de Gabriel, passando Ana Paula a justificar a conduta, dizendo que só pretendiam reguardar a segurança do local. Os fatos chegaram ao conhecimento da Polícia Civil por iniciativa da vítima. Em depoimento, a mulher disse que não tentou asfixiar a vítima. O interrogatório de Jhonnatan não se fez presente, uma vez que, apesar de intimado, ele não compareceu à Delegacia de Polícia.

O júri será presidido pelo juiz Nelson Luiz Dias Dourado Araújo, Titular da unidade judicial. Ana Paula Vidal foi desmembrada do processo e não será submetida a júri.

* Fonte: TJMA

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