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A inteligência artificial vai roubar nossos empregos? Como integrar a tecnologia no dia a dia? E quais os riscos? Esses foram alguns dos questionamentos levantados no painel “IA e os desafios da economia criativa” do Spotlight, evento que celebrou os 20 anos do Olhar Digital.
Ao lado de Wharryson Lacerda, publisher do OD, três especialistas do setor discutiram os impactos da inteligência artificial em suas áreas de trabalho: Ana Paula Passarelli, diretora de negócios da agência de influenciadores Brunch e fundadora da agência Toast; Yuri Mannes, diretor de inovação da agência BR Media Group; e Yuri Mussoly, head do Creative Lab da América Latina no TikTok.
Confira os destaques da conversa.
Painel “IA e os desafios da economia criativa”
A inteligência artificial já chegou no dia a dia?
Para Ana Paula Passarelli, sim – e isso pode ser assustador. A executiva afirmou que, por um lado, a IA nos mostra que pode realizar algumas tarefas até melhor do que nós, ou nos ajudar a administrar melhor o tempo. Basicamente, funciona como uma assistente. Já por outro lado, a tecnologia requer cautela, uma vez que sabemos pouco sobre o funcionamento das ferramentas.
Tem mais de um ano que eu uso o ChatGPT e ele ajuda bastante no dia a dia. Incentivo as pessoas que trabalham comigo a usar, ao mesmo tempo que reforço: tenham cautela e cuidado com dados sensíveis. A gente ainda não tem controle de onde isso pode chegar.
Ana Paula Passarelli
Em seguida, Yuri Mussoly destacou que a IA não é uma onda passageira, mas também não vai roubar nossos empregos. A especialista acredita que as ferramentas já estão em nossas vidas e devem ser usadas – e quem não está usando, está atrasado. No entanto, apesar de facilitar o trabalho, a tecnologia pode causar dependência e exige utilização com responsabilidade.
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Já Yuri Mannes chama atenção para duas esferas na hora de se pensar o uso da inteligência artificial. A primeira é individual: cada pessoa tem que fazer um esforço próprio para integrar a IA no dia a dia e, no começo, ela pode não ser de grande ajuda. A segunda esfera é a das empresas: ele destaca que não basta adotar a tecnologia apenas por adotar, mas que ela precisa fazer sentido e agregar valor dentro do trabalho ou para o cliente final.
Nesse segundo caso, são duas opções: é possível criar uma IA própria, refinada para atender às demandas da empresa, ou assinar uma ferramenta terceirizada. O primeiro caso é mais personalizável, mas o segundo é mais rápido e barato. Tudo depende do objetivo final, que, para ele, é sempre melhorar o produto.
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Como anda a adoção de IA na economia criativa?
Passarelli dá um exemplo interessante para explicar a adoção da IA na economia criativa: um romancista deu uma palestra explicando como escrever histórias usando inteligência artificial. O que mais chamou a atenção da especialista é que o próprio profissional, que tem seu sustento na escrita, aceita a possibilidade de dividir espaço com a tecnologia, ao invés de ter medo.
“Quando a gente olha para a indústria criativa, são pessoas apavoradas com a adoção de tecnologia”, afirma. No entanto, ainda é possível distinguir o que foi feito por um humano ou por uma IA generativa. Mas isso vai mudar: “em breve, não vamos mais conseguir distinguir o que foi feito pela máquina ou pelo ser humano”.
Nesse sentido, é importante estabelecer regras. Especialmente porque o trabalho criativo tem relação com o tato humano, com a identidade e expressão humana.
A questão não é ser criado ou não por IA. A questão é a capacidade do público entender se aquilo foi criado por um ser humano ou não.
Ana Paula Passarelli
Mussoly dá um exemplo de ferramenta de IA que já é usada no mercado: o TikTok Symphony. Com ele, é possível gerar briefings de um conteúdo e pedir que a tecnologia o torne realidade. Ela destaca a utilidade do recurso para pequenas agências e marcas, ou criadores de conteúdo que ainda não têm esse suporte. “Facilita muito a nossa vida no âmbito da comunicação”, destaca.
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Para Mannes, a IA é um investimento a longo prazo e, como qualquer investimento, requer uma cadeia de priorizações (afinal, os recursos são limitados). No entanto, o objetivo é sempre usar a tecnologia para melhorar a qualidade do produto.
Ele também falou sobre a IA no âmbito criativo:
Deixar o [aspecto] criativo só na mão da IA é péssimo. Qualquer um que já usou, mesmo o ChatGPT na versão o3, sabe que é super limitado, porque ele não tem o seu contexto. Ele não sabe o que você quer, ele não tem as informações da sua empresa. Inclusive, é por isso que as empresas constroem seus próprios modelos. A ideia não é tirar o humano do looping, a ideia é que esse humano fique cada vez mais eficiente e consiga ter mais tempo para fazer a parte criativa.
Yuri Mannes
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Qual o maior risco da IA?
Wharryson Lacerda destaca como a segurança é uma grande preocupação que deve estar na mente de quem trabalha com ambientes digitais no geral – e a IA só potencializa isso. Mas quais são os riscos para quem trabalha com economia criativa?
Para Yuri Mussoly, é o uso preguiçoso:
A massificação e a facilitação que isso traz. Algumas pessoas podem acabar achando que vão fazer uma tarefa inteira com IA sozinha… o que é um erro. Isso [IA] que não substitui um humano. Você precisa operar a tecnologia de uma maneira responsável e isso pode te auxiliar, mas não substitui o produto criativo, a cabeça pensante. (…) A ferramenta sozinha não faz nada.
Yuri Mussoly
Já para Ana Paula Passarelli, o risco é acabar olhando demais para o passado (como os bancos de dados) e deixar a inovação de lado. Ambas ainda citam a preocupação com a repetição de ideias.
Mannes vai por outro lado e acredita que dificilmente o humano será substituído pela máquina, o que diminui o risco da perda de autenticidade e massificação. Para ele, o maior desafio é garantir que uma pessoa saiba que o conteúdo que ela consome é real ou não.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/02/25/pro/em-breve-nao-vamos-distinguir-o-que-foi-feito-pela-maquina-ou-ser-humano/