
Há algumas semanas, o mercado de tecnologia passou por verdadeiro frisson com o lançamento do chatbot de inteligência artificial (IA) chinês DeepSeek, da empresa de mesmo nome. Essa iniciativa parece estar causando um boom entre startups do país asiático, que visam captar recursos para surfarem na onda do DeepSeek, além da demonstração de apoio do presidente Xi Jinping às empresas privadas da China.
Estão, entre essas empresas, a startup de ótica com tecnologia de IA Rid Vision, a companhia de interface cérebro-computador AI CARE Medical e a fabricante de robôs Shanghai Qingbao, informou à Reuters o capitalista de risco e CEO da New Access Capital, Andrew Qian, que investiu nas três.
“Muitas pessoas estão batendo nas portas dessas empresas de IA, metade discutindo cooperação empresarial, a outra metade falando sobre investimentos. Você pode ver no caso do DeepSeek que um grupo de inovadores chineses com tecnologias disruptivas está surgindo… Anteriormente, as startups chinesas eram quase todas ‘eu também’”, disse Qian, referindo-se aos imitadores.
Capitalização de startups: renascimento do setor de capital de risco chinês
- A gigantesca quantidade de roadshows e anúncios de negócios realizados por empresas de IA, como fabricantes de chips, provedores de serviços de nuvem e apps de IA, ressuscitou o setor de capital de risco chinês;
- Mas ainda existe um problema: ainda é nebulosa a chance de investimentos por empresas de capital de risco e private equity;
- Isso porque a China tem política de verificação regulatória de Oferta Pública Inicial (OPI, ou IPO, na sigla em inglês) bastante rigorosa, sem contar as crescentes tensões geopolíticas envolvendo China e Estados Unidos, ameaçando listagens offshore;
- Apesar disso, os investidores deram uma animada com o avanço do DeepSeek e com uma rara reunião realizada entre Jinping e líderes empresariais de tecnologia este mês.
A New Access Capital, de Qian, investiu, há pouco, em uma startup fabricante de chips e em outra que fabrica antenas de ondas milimétricas. Agora, a empresa planeja investimentos em uma empresa com foco em tecnologia de recuperação de foguetes, apostando que, nesses setores, surgirá um novo DeepSeek, disse o CEO.
Na última rodada de investimentos, o foco foram as empresas observadas como grandes beneficiadas pelo avanço da IA. Um exemplo é a plataforma de geração de imagens por IA LibLib AI, que comunicou a obtenção de centenas de milhões de yuans nessa nova rodada de financiamento, realizada na segunda-feira (24). A empresa chamou o ocorrido de “ritmo recorde de financiamento“.
Por sua vez, a SenseCare, startup médica alimentada por IA, afirmou, na semana passada, que conseguiu 100 milhões de yuans (R$ 80,84 milhões, na conversão direta), seguida pelas fabricantes de chips Aspiring e Hyseim, que também anunciaram novas arrecadações de fundos.
Entre as demais startups que foram atrás de investimentos nos últimos tempos estão a fornecedora de infraestrutura de IA Siliconflow, a fabricante de robôs Ruichi Smart Technology e a startup de tecnologia médica Neurodome, segundo informações da consultoria Zero2IPO.
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Retomada após anos sombrios
O interesse dos chineses em investir em capital de risco voltou após desempenho abaixo do esperado nos anos passados. Dados da Preqin mostram que a captação de recursos e investimentos em capital de risco no país asiático caíram fortemente desde o pico em 2021.
Já em 2024, 67 fundos levantaram US$ 12,5 bilhões (R$ 73,1 bilhões), valor distante dos US$ 141 bilhões (R$ 824,59 bilhões) arrecadados em 2021. Fundos denominados em dólar, por sua vez, obtiveram apenas US$ 1 bilhão (R$ 5,84 bilhões) em 2024, apontam os dados.
Negócios de risco, por sua vez, totalizaram US$ 229 bilhões (R$ 1,33 trilhão) no ano passado, representando queda de 36% ano a ano e pouco mais de um quarto dos US$ 816 bilhões (R$ 4,77 trilhões) obtidos em 2021.
Isso se deve muito ao fato de que o setor depende, em especial, de IPOs para sair de seus investimentos, mas com as regras rigorosas de IPO introduzidas pela China, além das tensões entre o país e os EUA, complicaram as listagens offshore das empresas da nação asiática.

Contudo, desde que o fenômeno DeepSeek surgiu, “o sentimento melhorou muito“, contou Huo Zhongyan, fundador da Bonanza Capital, que investiu em startup de design e marketing de vestuário com tecnologia de IA. “As pessoas estão mais otimistas sobre o futuro da China… O otimismo das ações deixou os empreendedores mais confiantes e os investidores mais dispostos a fazer apostas“, complementou.
Na terça-feira (25), o Morgan Stanley, instituição financeira que oferece serviços de investimento e consultoria financeira, afirmou que vê sinais de normalização nos IPOs no mercado de ações A.
Já Huo duvida que os reguladores da China vão flexibilizar os critérios adotados com IPOs tão cedo. Ele também avisou sobre as listagens offshore, dizendo que elas são vulneráveis às questões geopolíticas e à instabilidade do mercado — mesmo que elas tenham mostrado sinais de recuperação.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/02/28/pro/startups-chinesas-buscam-aportes-milionarios-para-aproveitar-efeito-deepseek/