3 de março de 2025
Corpo de Rubens Paiva foi lançado ao mar preso numa
Compartilhe:

Um ex-militar, que atuou durante a década de 1970, quebrou o silêncio e revelou informações inéditas sobre o destino dos restos mortais do deputado Rubens Paiva, assassinado durante a ditadura militar.

Em entrevista ao Intercept Brasil, Valdemar Martins de Oliveira afirmou ter testemunhado ações que, até hoje, alimentam um enigma histórico de mais de 50 anos.

Valdemar, veterano paraquedista, prestou serviços de busca, apreensão e espionagem para o Exército, muitos deles realizados sob coação. Segundo ele, as memórias dos crimes praticados pelos órgãos de segurança do regime permaneceram com ele ao longo dos anos, impactando profundamente sua trajetória.

Uma das revelações mais chocantes foi sobre o tratamento dado ao corpo de Rubens Paiva. “Disseram que o corpo foi arremessado ao mar com um peso amarrado, uma roda de caminhão”, afirmou Valdemar, trazendo uma peça crucial para o quebra-cabeça que cerca o assassinato do deputado.

Ele detalhou que dois de seus colegas de regimento, Jurandyr Ochsendorf e Jacy Ochsendorf, participaram da operação de ocultação dos restos mortais, sob ordens de Paulo Malhães, chefe da equipe. “O corpo foi levado no mesmo dia da morte por um barco da Marinha”, relatou Valdemar, evidenciando a rapidez e a frieza com que o crime foi encoberto.

Os membros da Casa da Morte: Paim (esquerda, em pé), Perdigão (ao lado, agachado), Malhães (ao centro, de barba), Camarão (atrás, calvo e de barba). Foto: Reprodução

Valdemar também destacou o paradoxo de que os mesmos militares envolvidos na ocultação foram agraciados com honrarias. “Os irmãos Ochsendorf receberam a Medalha do Pacificador, assim como o tenente Antônio Fernando Hughes de Carvalho, que completou o serviço”, disse ele, mostrando como a violência do regime foi institucionalizada e até premiada.

O ex-militar relatou ainda que vive em uma espécie de limbo jurídico-militar, sendo rotulado como desertor – uma acusação que o impediu de ser transferido para a reserva, apesar de ele afirmar categoricamente que “nunca desertou”. Ele lamentou: “Fiquei calado por muito tempo. Dizem que a pena máxima é 30 anos, mas estou numa prisão há 50 anos”, evidenciando o peso das acusações e o impacto de décadas de silêncio imposto.

Decidido a quebrar o silêncio para proteger sua família e contribuir para a verdade histórica, Valdemar optou por revelar esses detalhes que, segundo ele, nunca deveriam ter sido enterrados no esquecimento.

As informações fornecidas, conforme o Intercept Brasil, acrescentam mais um fragmento à complexa narrativa do crime de Rubens Paiva e reforçam a necessidade de revisitar e responsabilizar os abusos da ditadura militar.

Com informações do portal Diário do Centro do Mundo

Fonte: https://agendadopoder.com.br/corpo-de-rubens-paiva-foi-lancado-ao-mar-preso-numa-roda-de-caminhao-revela-ex-militar/