
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira, que a decisão do presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, de impor tarifas sobre parceiros comerciais não deve afetar a relação com o Brasil. Porém, Haddad, ressaltou que há um cenário de incerteza global e que o governo norte-americano tem emitido sinais contraditórios em relação às suas políticas econômicas.
— Existe hoje uma instabilidade, uma incerteza um pouco maior e às vezes o governo atual [dos EUA], que tem 30 dias [desde que Trump tomou posse], dá sinais trocados do que ele efetivamente vai fazer — disse.
Mas apesar dos “sinais trocados” que o ministro citou, ele disse não acreditar que as medidas adotadas por Trump representem uma mudança drástica nas relações comerciais entre os dois países.
— Há incerteza do que eles vão fazer no mundo inteiro, mas não acredito que a mudança de governo vá implicar em uma mudança drástica. Até porque nossas relações comerciais são muito equilibradas. Então não faz muito sentido arrumar confusão com o Brasil.
Haddad também destacou que a guerra na Ucrânia gerou instabilidade no sistema financeiro global, o que, segundo ele, contribuiu para a atual incerteza econômica.
Do céu ao inferno
O ministro também comentou sobre os desafios do cargo que ocupa, citando a necessidade de se ter equilíbrio para enfrentar as dificuldades na função. Segundo Haddad, a experiência no Ministério é uma verdadeira “montanha-russa”.
— Você vive os extremos, às vezes no prazo de três meses. Você vai do céu ao inferno em três semanas. Isso aí é normal, não precisava ser essa montanha-russa, mas você vai se calejando, vai aprendendo a se proteger espiritualmente — destacou.
Ele ressaltou que, apesar da pressão e dos ataques que recebe, aprendeu a lidar com a situação através de hábitos que protejam sua saúde física e mental como: hora da leitura, ginástica e família.
— Você começa a aprender a não levar problema para casa. Você começa a entender que por maior que seja o desafio, a melhor maneira de enfrentar é ter um mínimo de afastamento, de resguardo — disse.
Relação com o Congresso
Haddad disse ainda que os resultados do governo na economia são fruto de um entendimento político entre Poderes e do diálogo com o Congresso.
— Penso que os resultados que estamos tendo, em certa medida, já é o resultado de um começo de conversa em que as forças políticas e os poderes da republica começam a perceber que tem muita coisa em risco e que não podemos nos manter mais nesse tipo de controvérsia
Haddad falou sobre o assunto em entrevista ao podcast Flow. A declaração do ministro ocorre após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar que a economia brasileira cresceu 3,4% em 2024, segundo os dados do Produto Interno Bruto (PIB).
O crescimento foi impulsionado principalmente pelos investimentos e pelo consumo das famílias. No entanto, a demanda por bens e serviços perdeu força no último trimestre, resultando em uma desaceleração da economia no fim do ano.
Em valores correntes, o PIB alcançou R$ 11,7 trilhões, enquanto o PIB per capita registrou um expressivo avanço, chegando a R$ 55.247,45 – um crescimento real de 3% em relação ao ano anterior.
Apesar do desempenho positivo ao longo do ano, os dados do quarto trimestre apontam um arrefecimento da atividade econômica. Nos últimos três meses de 2024, o PIB avançou apenas 0,2%, sinalizando que 2025 pode ter um crescimento mais modesto em comparação aos anos anteriores.
Haddad também afirmou que o ministério da Fazenda prevê um crescimento de 2,5% para a economia brasileira em 2025 — há três semanas a projeção havia sido revisada pela pasta para 2,3%.
— A previsão do ministério da fazenda é de 2,5% para esse ano e até aqui as previsões da fazenda tem se confirmado. Acredito que vamos continuar crescendo com um pouquinho mais de moderação por conta da inflação.
Preço dos alimentos
Ao ser questionado sobre os preços dos alimentos, Haddad disse que espera uma redução nos preços dos alimentos com a chegada da supersafra deste ano e a recente queda do dólar.
— Eu acredito que uma série de produtos, que estão mais caros, vão ter preços reduzidos com a entrada da safra deste ano, que, ao que tudo indica, será uma supersafra.
Nesta quinta-feira o governo federal anunciou um pacote de medidas para conter os preços, incluindo a isenção de impostos de importação para produtos como café, açúcar e carnes, além de incentivos para a produção de itens da cesta básica. Já o presidente Lula afirmou que, se necessário, adotará medidas mais drásticas para controlar a inflação dos alimentos.
Com informações de O Globo
Fonte: https://agendadopoder.com.br/haddad-acredita-que-nao-faz-sentido-eua-arrumarem-confusao-com-o-brasil-sobre-tarifas/