Humor em transformação: entre a comédia e a crítica social

Essencial para o bem-estar humano, viver momentos de alto astral possibilita uma maior qualidade de vida para as pessoas. Com o papel de garantir boas risadas, o humor foi transformado ao longo dos anos, com mudanças que ampliaram o grau de dificuldade para aqueles que desejam trabalhar com a comédia — seja em peças teatrais, shows de stand-up, filmes ou outros produtos.

Com as inúmeras perspectivas presentes na sociedade, o humor teve que se adaptar para não oprimir nem insultar minorias. Comediantes e humoristas desenvolveram novas formas de fazer o público rir sem ofender. O ator maranhense Adeilson Santos, que interpreta a icônica personagem Dijé, da peça Pão com Ovo, relata as mudanças que viveu durante sua trajetória como artista. Segundo ele:

“Quando começamos a fazer Pão com Ovo, há 13 anos, o mundo tinha uma visão das coisas diferente dos dias atuais. Havia textos que, hoje em dia, deixaram de ser considerados piadas — afirmações discretamente ofensivas que a gente não faz mais. A evolução do humor passa por essa consciência, que é fruto do amadurecimento social conquistado durante todos esses anos”, disse.

Devido ao alto nível de mudanças no perfil do público — e também no processo de produção —, o contexto da comédia passou a operar de formas distintas. Criando diferentes produtos, o mercado se transformou em um cenário com várias características. Ao ser questionado sobre as variações presentes dentro do humor, Adeilson afirma:

“Eu acredito que existe espaço para diversos tipos de comédia. Eu prefiro fazer humor consciente, com uma pitada de crítica, porém existe público para outros estilos, e o trabalho dos artistas precisa ser respeitado”, expressa.

Mesmo diante das inúmeras preferências do público em geral, Adeilson reforça a importância de usar o humor como um instrumento para o bem da sociedade, de forma que humoristas e comediantes não negligenciem as questões sociais presentes ao redor da comédia. O ator relata:

“Eu vejo o humor com a responsabilidade de criticar e de comunicar de forma muito rápida. Mesmo com as mudanças na sociedade, a comédia ainda possui essa missão de conscientizar”.

Humor teatral como instrumento social

A promoção da cultura teatral também é uma das muitas contribuições e responsabilidades sociais agregadas ao humor. Por meio de peças e espetáculos, a comédia pode — e deve — agir como incentivo para muitas pessoas frequentarem esses espaços pela primeira vez, promovendo, assim, conhecimento e acessibilidade cultural. Ao abordar o tema, Adeilson conta que:

“A periferia não possui referências teatrais. Diversos movimentos culturais chegam ali naquele contexto, mas, infelizmente, o teatro ainda não chega com força dentro das regiões periféricas. Muitos dizem que pobre não gosta de assistir a peça, mas eu digo que não tem acesso. Como as pessoas vão afirmar que não gostaram, se não possuem acesso?”, expressa o ator.

Diante das inúmeras formas de entretenimento disponíveis para a sociedade, a população como um todo tende a se direcionar aos meios digitais, como filmes, séries, entre outros. Logo, a falta de acessibilidade e incentivo à cultura teatral acaba agravando essa realidade — contexto em que muitas pessoas morrem sem antes ter pisado dentro de um teatro. Segundo Adeilson:

“Tem pessoas que vão pela primeira vez ao teatro com 70 anos. Ao fim de nossas apresentações, a gente costuma perguntar quem veio ao teatro pela primeira vez, e, em diversas ocasiões, vimos idosos levantando a mão, afirmando que ainda não haviam visitado um espaço teatral”, relata.

Por fim, o ator pode ser considerado uma prova viva de que o humor, o teatro e a arte como um todo possuem a força de transformar não apenas a vida dos profissionais da área, mas também a sociedade — fato que enfatiza os benefícios e transformações sociais que a cultura pode proporcionar à sociedade. Em despedida, o ator expressa:

“A comédia transforma vidas, assim como transformou a minha. O teatro me formou e me levou da Madre Deus, em São Luís do Maranhão, para a cidade de Madrid, na Espanha. Por conta desse poder de transformação, o humor também possui a capacidade e a responsabilidade de incentivar o teatro e a cultura, para que assim vidas possam continuar sendo transformadas”, conclui Adeilson.