O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com os diretores-gerais da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, e da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, para discutir as denúncias de espionagem contra autoridades do Paraguai. A informação foi divulgada inicialmente pela Folha de S.Paulo e confirmada pelo O Globo. O encontro, realizado no Palácio do Planalto, contou também com a participação do ministro da Casa Civil, Rui Costa, responsável institucional pela Abin.
A convocação do presidente ocorre em meio à crescente pressão após vir à tona o conteúdo do depoimento de um agente da Abin à PF, no qual ele admite ter utilizado um “e-mail espião” para invadir sistemas de autoridades paraguaias, incluindo membros da Presidência e do Congresso. O objetivo seria colher informações sensíveis sobre as negociações envolvendo a energia da Usina de Itaipu, que é administrada em regime binacional por Brasil e Paraguai. O depoimento, revelado pelo UOL e confirmado por O Globo, faz parte das investigações sobre o uso indevido da inteligência estatal durante o governo de Jair Bolsonaro.
Segundo o agente, a ferramenta de invasão foi desenvolvida dentro da própria Abin. A acusação reacende preocupações sobre a existência de uma estrutura paralela de espionagem no interior da agência, tema que já vinha sendo apurado desde março de 2023.
Nesta quinta-feira (17), Luiz Fernando Corrêa prestou depoimento à Polícia Federal para esclarecer seu eventual envolvimento tanto na operação de espionagem quanto na tentativa de obstrução das investigações. De acordo com um servidor da Abin ouvido pela PF, Corrêa teria sugerido uma “intervenção” na corregedoria da agência durante a realização de uma operação de busca e apreensão, em janeiro de 2023.
“Na reunião, Luiz Fernando falou em tom de desgosto; falou num tom agressivo; falou que deveria fazer uma intervenção na corregedoria”, relatou o servidor, que também afirmou que, naquele momento, a corregedoria colaborava com a diligência da PF.
Reportagem da colunista Bela Megale, publicada no mesmo mês, já havia apontado que membros da atual gestão da Abin teriam dificultado o acesso dos policiais federais a informações críticas para o avanço das investigações. Um dos principais pontos de atrito foi o acesso ao Centro de Inteligência Nacional, uma área estratégica dentro da agência.
A tensão entre os comandantes da Abin e da PF, ambos nomeados pelo atual governo, se reflete na condução das investigações. Corrêa e Rodrigues são vistos como adversários políticos dentro da estrutura federal, o que intensifica a complexidade da crise.
O Planalto ainda não divulgou nota oficial sobre os desdobramentos da reunião. Nos bastidores, aliados de Lula avaliam que o caso pode comprometer a credibilidade do governo em temas sensíveis como relações exteriores, segurança institucional e uso legal da máquina de inteligência.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/lula-cobra-explicacoes-da-pf-e-da-abin-sobre-espionagem-contra-o-paraguai/
