19 de abril de 2025
“Estou mais aberto, reconheço mais o erro, estou a entregar-me
Compartilhe:


por Lusa,    18 Abril, 2025


Bispo / DR

O ‘rapper’ Bispo edita hoje “Entre nós”, álbum no qual volta a rodear-se de outros artistas, com temas em que se mostra mais aberto e em que entrega, ainda mais, a sua verdade, sem receio do que isso possa trazer.

O rap de Pedro Bispo, de 33 anos, anda muito à volta de amor por amigos, família, a de sangue e a que se vai criando ao longo da vida, uma ou outra injustiça, dificuldade ou revolta, que possa sentir. Sentimentos, no fundo.

“Eu começo o álbum a dizer ‘sobre mim, outra vez’. Mas aqui eu estou mais aberto, reconheço mais o erro, estou a entregar-me mais, a entregar mais os meus sentimentos, a minha verdade, sem receio do que isso trará”, disse, em entrevista à agência Lusa.

Capa do disco / DR

Entre o álbum anterior, “Mais Antigo”, e o que é hoje editado passaram cinco anos e nesse tempo Bispo fortaleceu a ideia de finitude.

“Hoje estamos aqui, amanhã não sei. Isto está mais cimentado do que estava anteriormente, por causa de amigos que já não estão aqui comigo. Ou faleceram, ou estão presos, ou emigraram. E isso faz-me estar mais conectado com o presente. E faz-me ter uma noção maior de que eu tenho que estar presente, viver e dar às pessoas que tenho ao meu lado. E ‘Entre Nós’ também é mostrar isso”, referiu.

Entre os 16 temas que compõem o álbum há alguns em que Bispo abraça um amigo que já não está. Ou a mãe.

Os amigos, a família, pessoas que tem como referência, que representam o mesmo que ele, e outras que viu vencer, estão representados na capa de “Entre Nós”, numa colagem de fotografias de várias pessoas.

“O ‘Entre Nós’ é ‘entre os nós da vida, nós continuamos aqui’, mas também é algo que nos liga a todos, porque todos somos seres com sentimentos, com amor para dar, às vezes com medo de dar, porque não sabemos o dia de amanhã, e acho que isto nos une muito”, disse.

O álbum é também de superação na partilha de sentimentos. “Em 2020 eu não faria [o tema] ‘O teu cheiro”’, guardaria para mim”, contou.

Com “Entre nós”, o ‘rapper’ de Mem Martins, no concelho de Sintra, inicia um novo ciclo. O anterior foi encerrado no final de março com três concertos, um no Coliseu do Porto e dois no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, todos com lotação esgotada.

“Há muitos anos que queria estes concertos. Lembro-me de estar no público [no Coliseu dos Recreios] em 2014, num concerto do Regula, olhar para o palco e dizer ‘daqui a uns anos vou estar aí’”, recordou.

No ano seguinte subiu ao palco do Coliseu, mas inserido num festival do projeto Hip-Hop Sou Eu. “Cantei quatro músicas, mas sonhava estar com o meu álbum, o meu caminho. E isso finalmente aconteceu”, recordou.

Questionado sobre outros palcos que sonha um dia pisar, respondeu: “Como se diz no futebol, estou focado nos próximos jogos. Tenho concertos muito importantes para fazer, várias queimas [das fitas]. É nisso que estou focado e estou a preparar”. Com a resposta remeteu para os anos em que foi jogador de futebol no Mem Martins Sport Clube, entre 2001 e 2011.

Este mês, Bispo atua nas ‘queimas’ de Viseu, no dia 24, de Bragança, no dia 25, de Barcelos, no dia 26, e de Aveiro, no dia 30. Em 05 de maio, na do Porto.

As novas músicas que irá apresentar foram fruto de muita colaboração, à semelhança de álbuns anteriores.

Entre ‘cromos repetidos’, como o ‘rapper’ Papillon e os produtores Fumaxa, Mizzy Miles, Lazuli e Holly, surgem também estreantes, como Pablo, que fez a gravação do álbum e foi “uma contratação de luxo nesta equipa de galáticos”, o guitarrista Gemiinyy, o saxofonista Samsacion, os produtores Tommas e Mateus Beaucham, os ‘rappers’ Chyna, Gama e Benjamin Epps e o cantor Olavo Bilac.

Benjamin Epps, um ‘rapper nascido no Gabão e radicado em França, é o único com quem Bispo nunca esteve ao vivo, mas que vai conhecer em pessoa em maio.

Bispo / DR

Olavo Bilac surgiu porque Bispo precisava de “uma voz grossa, rouca para um refrão”. Do encontro dos dois em estúdio surgiu “uma música que nem saiu, está na gaveta e um dia vai ver luz”, e “Dimeu”, criada para as respetivas mães.

“No final da música ele perguntou se eu precisava de mais alguma coisa. Eu tinha ‘O teu cheiro’ e disse que precisava de um reforço no refrão. Ele fez e eu do outro lado [do vidro no estúdio de gravação] pedia ‘diz fala-me de amor’ [refrão de uma música com o mesmo nome dos Santos & Pecadores, banda da qual Olavo Bilac é vocalista]. E acabei por ter aquilo que eu estava a idealizar desde 2017, de maneira diferente mas era a maneira certa”, recordou.

Bispo começou a fazer música em 2003, mas só em 2012 editou o primeiro trabalho, a ‘mixtape’ “Recomeço”.

Os Da Blazz, coletivo também da linha de Sintra, foram a sua maior inspiração naquela altura para fazer música.

Sam The Kid, Mind Da Gap, BTG, Boss AC, Chullage, Allen Halloween, Loreta, Landim, Primero G, os brasileiros Racionais MC’s e os norte-americanos Eminem, Tupac Shakur e Notorious B.I.G. são outros nomes que aponta como “maiores inspirações” no rap.

“E fora da música tive pessoas que inspiraram muito e me acompanharam e puxaram por mim e que me passaram valores. E também foram pilares importantes para desenvolver a minha arte”, disse.

Valores que tenta passar também aos outros, estando consciente de que é um exemplo para que segue o seu trabalho.

“Mas isso não tem nada que ver com música. Tem que ver com os meus valores. Independentemente se faço música ou não, eu preocupo-me com isso e passo boa educação, bons valores. O respeito pelo próximo é muito importante. Eu sou assim e tento passar às minhas filhas, aos meus irmãos, a pessoas que estão à minha volta”, afirmou.

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Fonte: https://comunidadeculturaearte.com/entrevista-bispo-estou-mais-aberto-reconheco-mais-o-erro-estou-a-entregar-me-mais-a-entregar-mais-os-meus-sentimentos/