
No dia 26 de abril, será lançada a campanha “Resex Tauá-Mirim Já!”, que visa reforçar a mobilização das comunidades da zona rural de São Luís, pela criação da Reserva Extrativista (Resex) Tauá-Mirim. O evento acontecerá a partir das 8h, no Sindicato dos Bancários de São Luís, e reunirá lideranças comunitárias, movimentos sociais, pesquisadores e apoiadores da causa ambiental e dos direitos dos povos tradicionais.
A área pleiteada para a Resex Tauá-Mirim, que abrange mais de 16 mil hectares na costa amazônica do Maranhão, é habitat de cerca de 2.200 famílias. Entre as comunidades que fazem parte dessa região estão Taim, Rio dos Cachorros, Cajueiro, Limoeiro, Amapá, Jacamim, Tauá-Mirim, entre outras. As atividades econômicas locais incluem a pesca artesanal, a mariscagem, a agricultura familiar e o extrativismo vegetal — práticas que, além de garantir a subsistência das famílias, promovem a cultura, a sustentabilidade e a soberania alimentar.
Luta e resistência por mais de duas décadas
A mobilização pela criação da Resex Tauá-Mirim começou em 2003, com o apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Após a conclusão de estudos favoráveis à criação da unidade, o processo foi encaminhado em 2007 ao Ministério do Meio Ambiente, mas até hoje não houve avanços no reconhecimento oficial da reserva. Sem a decretação da Resex, as comunidades permanecem vulneráveis ao avanço de grandes empreendimentos, como portos privados, ferrovias, rodovias e zonas industriais, muitos deles voltados ao escoamento de commodities do Matopiba — a região que abrange os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Ao longo dessas duas décadas, as comunidades enfrentaram impasses jurídicos e diversos conflitos no território. A ameaça constante do grande capital, que busca transformar a zona rural da Ilha de Upaon-Açu em área industrial e portuária, coloca em risco o modo de vida dessas populações e a preservação ambiental da região. Em sua luta, as comunidades têm resistido com o apoio de movimentos sociais e ambientais, que defendem a importância de proteger a biodiversidade e os modos de vida tradicionais da região.
“A luta pela Resex é também contra as mudanças climáticas”
Beto do Taim, pescador tradicional e membro do Movimento Nacional dos Pescadores (Monape), e da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas (Confrem), explica que a criação da Resex é fundamental para proteger as atividades sustentáveis que garantem a alimentação e o sustento das populações locais. Ele destaca, ainda, os impactos ambientais causados pelo avanço da mineração e do agronegócio na região, que afetam diretamente a pesca e o extrativismo.
“A pesca tradicional e o extrativismo, fontes de alimento e vida para as populações da Resex e regiões próximas, sofrem os impactos de indústrias da mineração e do agronegócio voltadas à exportação. Estão transformando São Luís numa zona de sacrifício ambiental, marcada pela poluição e pela degradação. Proteger esse território é cuidar das raízes da cultura e da natureza, para o bem viver de hoje e das gerações futuras”, afirmou Beto.
Em 2015, as comunidades realizaram uma Assembleia Popular na comunidade do Taim, onde se auto proclamaram parte da Resex Tauá-Mirim e criaram um Conselho Gestor próprio, que desde então articula a defesa do território. Para as lideranças locais, é urgente a decretação oficial da reserva, que garantiria a proteção legal da área e da biodiversidade.
A Resex como refúgio de vida e cultura
Além da biodiversidade, a Resex Tauá-Mirim abriga a tradição cultural e espiritual de diversas comunidades. A região é morada de Encantados da tradição afro-indígena do Maranhão, que têm papel fundamental na preservação de florestas, manguezais e nascentes, essenciais para a regulação climática e para a manutenção da vida. Dona Maria Máxima Pires, liderança ancestral da região, costumava dizer que “a Resex é o pulmão de São Luís”, refletindo a importância vital da área para a saúde ambiental da capital maranhense.
Fonte: https://oimparcial.com.br/meio-ambiente/2025/04/campanha-resex-taua-mirim-ja-sera-lancada-no-maranhao/