
O novo álbum do acordeonista João Barradas, “Unfolding”, é constituído exclusivamente por obras de Luís Tinoco, entre as quais Concerto para Acordeão e orquestra, composto para o músico que o estreou em 2023.
Barradas, em entrevista à agência Lusa, referiu-se a Luís Tinoco, Prémio Pessoa 2024, como “um mentor” e um dos “mais importantes compositores portugueses”.
O álbum, a editar este mês, é resultado de uma residência artística que João Barradas efetuou na Casa da Música, no Porto, e da qual resultará ainda um álbum de jazz, “Aperture”, a editar no próximo 10 de junho.
A encomenda, pelo Centro Cultural de Belém (CCB) e pela Casa da Música, ao compositor Luís Tinoco, de uma obra para acordeão e orquestra sinfónica, foi o ponto de partida deste álbum, tendo o concerto sido estreado na sala de Belém, em Lisboa.
Esta peça “espoletou todo o trabalho com o Luís Tinoco”, disse João Barradas.
Tinoco e Barradas conhecem-se há mais de uma década, como recordou o acordeonista à Lusa. “Eu conheço o Luís [Tinoco] há uns 15 anos. Ele é professor na Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudei, e é o diretor do Prémio Jovens Músicos no qual participei, e estabeleceu-se logo uma amizade grande e ele veio a transformar-se num professor e num mentor que muito prezo”.
Luís Tinoco é “um dos compositores favoritos” do músico ao qual se referiu como “um orquestrador de mão cheia”.
Tinoco “escreve para o instrumento que tem à frente de uma forma muito correta e assertiva, e com conhecimento”, disse Barradas. “A pesquisa que faz é incessante, e isso nota-se quando nos entrega o seu texto. Está tudo muito bem escrito para a formação [instrumental] que tem na mente”.
À exceção do “Concerto para Acordeão” (“Accordion Concert”), todas as outras obras de Tinoco foram transcritas para acordeão acústico, um trabalho conjunto do músico com o compositor.
Uma das obras adaptadas, “Mind the Gap”, foi originalmente composta para percussão, para o músico e regente Pedro Carneiro, e abre o álbum.
Outras peças escolhidas são “Ends Meet”, escrita para quarteto de cordas, e “Dreaming of the Unseen”, concebida para o Maat Saxophone Quartet.
A transposição de obras para nova instrumentação sustenta a abertura de outras perspetivas sobre a música, traduzida pelo título “Unfolding”.
No álbum, João Barradas é acompanhado pela Orquestra Sinfónica do Porto, sob a direção da maestrina Joana Carneiro.
Nas notas que acompanham a edição física do álbum, o compositor Sérgio Azevedo afirma que ouvir a capacidade de Barradas para a improvisação é “surpreendente”.
“Ouvi-lo transformar sonoridades complexas em interpretações translúcidas, num estilo melódico muito fluído, de contorno rico e sofisticado, cativa a minha atenção há mais de uma década”, escreveu Azevedo. “Esta característica encaixa, a meu ver, de forma perfeita nas linhas melódicas de Tinoco, já que, também elas ricas e complexas no contorno, geram um resultado sempre muito natural, quase como se fossem improvisadas”.
Para Azevedo, “estamos perante um projeto discográfico que alia a excelente e rigorosa interpretação de João Barradas a um conjunto de obras de grande mestria de Luís Tinoco”.
João Barradas tem-se apresentado em projetos inscritos tanto na tradição clássica, como na música improvisada. Tocou em recitais em Wiener Konzerthaus, na capital austríaca, na Fundação Calouste Gulbenkian e no Festival d’Aix-en-Provence, em França.
O músico apresentou-se como solista com a London Philharmonic Orchestra, a Tonhalle-Orchester Zurich, a Sinfónica de Hamburgo e a Orquestra de Câmara de Colónia, sob a direcção de maestros como Edward Gardner, Alondra de la Parra, Sylvain Cambreling e Christoph Poppen.
No Jazz, tem trabalhado com músicos como Mark Turner, Peter Evans, Aka Moon, Greg Osby, David Binney e Gil Goldstein e a Brussels Jazz Orchestra.
Em 2019, fez parte da lista “Rising Star”, da European Concert Hall Organization (ECHO). Recentemente foi distinguido com o Prémio Sir Jeffrey Tate, estabelecido pela Orquestra Sinfónica de Hamburgo.
O álbum “Unfolding” vai ser apresentado ao vivo no próximo dia 03 de setembro no Festival de Lausitz, na Alemanha.
Fonte: https://comunidadeculturaearte.com/novo-album-de-joao-barradas-abre-perspetivas-sobre-obras-de-luis-tinoco/