29 de abril de 2025
Guerra comercial entre EUA e China impulsiona mineração no Brasil
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A intensificação da disputa comercial entre Estados Unidos e China está abrindo uma janela de oportunidades para o Brasil no setor de minerais estratégicos, essenciais para indústrias de alta tecnologia e para a transição energética, informa reportagem do jornal O GLOBO. Com a imposição de novas tarifas e restrições, o Brasil vem se tornando destino de interesse para empresas e governos que buscam alternativas ao fornecimento chinês.

O país é um dos principais produtores mundiais de níquel, lítio, nióbio, grafite e terras raras. A expectativa é de que, entre 2025 e 2029, os investimentos no setor somem ao menos US$ 14 bilhões, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Especialistas avaliam que esse número poderá crescer ainda mais se as tensões geopolíticas se agravarem.

Recentemente, a China restringiu a exportação de minerais estratégicos para os Estados Unidos, elevando a preocupação global com a segurança das cadeias produtivas. Para Márcio Pereira, sócio da área de Ambiente, Clima e Mineração do BMA Advogados, o cenário cria uma oportunidade sem precedentes para o Brasil:

“A China é uma grande processadora dessas substâncias, principalmente terras raras, lítio e grafite, e domina o refino desses elementos. Assim, os EUA deverão buscar outras parcerias para suprir suas demandas internas. E o Brasil pode ser um alvo oportuno tanto pelo potencial geológico quanto pelas vantagens competitivas, como energia a preço reduzido e mão de obra a preços competitivos.”

Pereira também aponta que empresas chinesas podem ampliar investimentos no Brasil, trazendo tecnologia de refinamento de minério, enquanto a União Europeia e outros blocos devem buscar parceiros considerados mais estáveis:

“Outros países, como os da União Europeia, provavelmente buscarão parceiros comerciais considerados mais estáveis para garantir suas cadeias produtivas, e o Brasil possui uma boa imagem entre os investidores.”

Interesse internacional crescente

A movimentação no setor já é perceptível. Segundo Raul Jungmann, diretor-presidente do Ibram, o Brasil vem recebendo uma série de consultas de empresas e governos estrangeiros. Entre os países que manifestaram interesse recentemente estão Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos.

“Não damos conta das solicitações que recebemos, tanto de empresas quanto de países. Há um enorme apetite. Joe Biden já mostrava interesse em buscar parceria com o Brasil. E com Donald Trump não é diferente. O que muda é a finalidade. Antes, o objetivo era a transição para baixo carbono. Agora, a preocupação é defesa, tecnologia e inovação”, relatou Jungmann.

Ele lembra que o Ibram recebeu recentemente uma delegação dos EUA para discutir novas parcerias no setor mineral:

“Há uma busca da Europa, EUA e países desenvolvidos em assegurar o suprimento de mineral crítico. Isso tende a levar a um avanço na disputa e ao aumento de parcerias. No caso da União Europeia, Ursula von der Leyen declarou recentemente que os países do bloco querem acesso aos minerais críticos da América Latina, inclusive do Brasil.”

A avaliação é compartilhada por Rafael Marchi, sócio-diretor da A&M Infra, que destaca a busca por fontes alternativas de suprimento em meio à instabilidade geopolítica:

“O país pode se beneficiar duplamente, vendendo mais para os EUA e para mercados deixados pela China. Porém, esses ganhos são incertos e pontuais, com o menor crescimento global.”

Projetos em expansão

Grandes mineradoras também se preparam para atender à possível explosão da demanda. A Vale, por exemplo, criou uma divisão especial para minerais estratégicos e planeja expandir sua produção de níquel e cobre nos próximos anos. Segundo comunicado recente, a produção de níquel da empresa pode crescer até 42% a partir de 2030, enquanto a de cobre poderá dobrar até 2035 com novos projetos como Bacaba, no Pará.

No curto prazo, o principal projeto da Vale é a conclusão do segundo forno de Onça Puma, também no Pará, previsto para entrar em operação no segundo semestre deste ano.

Além disso, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) projeta atrair R$ 30 bilhões em investimentos para o desenvolvimento de projetos de exploração de terras raras e lítio.

Flávio Roscoe, presidente da Fiemg, destaca a importância de investimentos para consolidar o Brasil como fornecedor confiável:

“As restrições impostas pela China à exportação de minerais estratégicos abrem espaço para que o Brasil se posicione como um fornecedor confiável e alternativo para mercados como os Estados Unidos e outros países que buscam reduzir sua dependência do gigante asiático.”

Obstáculos a superar

Apesar das perspectivas positivas, especialistas alertam que o Brasil ainda enfrenta desafios. Márcio Pereira aponta que a falta de informações geológicas detalhadas sobre o território nacional é um dos principais entraves:

“Hoje existem poucas pesquisas, e o número de projetos que já alcançaram a fase de operação é reduzido.”

Dados do Ibram indicam que o país detém algumas das maiores reservas mundiais de nióbio, grafite, terras raras e níquel. Com investimento em pesquisa e infraestrutura, o Brasil poderá consolidar sua posição estratégica no novo mapa global da mineração.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/guerra-comercial-entre-eua-e-china-impulsiona-mineracao-no-brasil/