5 de maio de 2025
Desigualdade de gênero: apenas 3 Assembleias Legislativas são presididas por
Compartilhe:

Apesar do avanço gradual da presença feminina na política brasileira, as mulheres seguem sub-representadas, sobretudo nos espaços de poder e comando. Atualmente, apenas três das 26 Assembleias Legislativas estaduais são presididas por deputadas — um dado que escancara o desequilíbrio de gênero nos cargos de liderança do Legislativo.

Uma dessas exceções é Alliny Serrão (União Brasil), reeleita por unanimidade para presidir a Assembleia Legislativa do Amapá. Formada em Direito, ela iniciou sua trajetória política como vereadora em Laranjal do Jari (AP), sua cidade natal, e afirma que a influência do sogro, então vereador, e da sogra, ex-deputada estadual, foi fundamental para despertar seu interesse pela política.

Outra mulher no comando de um parlamento estadual é Iracema Vale (PSB), presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão. Nascida em São Luís, filha de uma professora e de um taxista, atuou como enfermeira e servidora pública federal antes de ingressar na política partidária. Com 30 anos de trajetória, foi a deputada estadual mais votada do Maranhão em 2022, com 105 mil votos.

Completa o trio Ivana Bastos (PSD), que assumiu a presidência da Assembleia Legislativa da Bahia em fevereiro deste ano, após o afastamento do então titular, Adolfo Menezes. No quarto mandato como deputada estadual, Ivana vem de uma tradicional família política do sudoeste baiano.

As três presidentes relatam desafios comuns em suas jornadas. Todas enfrentaram resistência, preconceito e a constante necessidade de provar sua competência em ambientes tradicionalmente dominados por homens.

— É preciso lidar com uma cobrança maior para provar capacidade, enquanto o estereótipo e o preconceito impõem barreiras que, em grande parte, não são vivenciadas por colegas homens — afirma Alliny Serrão.

Ivana Bastos compartilha percepção semelhante. Embora tenha sentido acolhimento dos pares em sua primeira eleição, relata que enfrentou resistência crescente à medida que se consolidava como liderança.

— Enfrentei mais dificuldades e questionamentos. Alguns homens não se conformam com o fato de uma mulher ocupar um espaço de poder e tentam impedir esse avanço. Foi um processo marcado por tentativas de judicialização e até manobras para refazer eleições — contou.

Ela também destaca as cobranças sobre a vida privada das mulheres que ocupam cargos públicos:
— Muitas vezes, essa não é uma preocupação da mesma forma para os homens. Apesar disso, enfrento esses desafios com determinação, sabendo que estou abrindo portas para que mais mulheres ocupem espaços de liderança.

Presença feminina cresce, mas ainda é limitada

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 187 mulheres foram eleitas deputadas estaduais em 2022, o equivalente a 18% das vagas nas Assembleias Legislativas — uma leve alta em relação aos 15% registrados em 2018. No Distrito Federal, cuja casa legislativa é chamada Câmara Legislativa, apenas 4 das 24 cadeiras são ocupadas por mulheres — proporção que se mantém inalterada desde 2018.

Embora representem 46% do total de filiadas a partidos políticos no país, as mulheres foram apenas 34% das candidaturas registradas nas eleições de 2022 e 2024. A cada ciclo, a participação feminina reduz-se ainda mais. Dados do TSE mostram que, das mais de 187 mil mulheres que concorreram a cargos em 2020, apenas 24% se candidataram novamente em 2024. Entre os homens, a taxa de recandidaturas gira em torno de 40%.

Para a pesquisadora Evorah Cardoso, doutora em sociologia jurídica pela USP, esse fenômeno revela um “funil” na política brasileira. Segundo ela, as mulheres enfrentam obstáculos estruturais a cada etapa da trajetória: da candidatura à permanência no cargo, passando pelo acesso a recursos e apoio interno nos partidos.

Desigualdade também no topo

Desde a redemocratização, nem a Câmara dos Deputados nem o Senado Federal foram presididos por uma mulher. A primeira candidatura feminina à presidência da Câmara ocorreu em 2013; no Senado, nenhuma mulher havia concorrido ao cargo até 2021.

Em termos de representatividade legislativa, o Brasil ocupa atualmente a 135ª posição no ranking mundial. Ruanda lidera a lista, com 63,7% de mulheres em seu Parlamento. Já Iêmen, Tuvalu e Omã figuram nas últimas colocações, com nenhuma parlamentar mulher.

Violência política e abandono de mandatos

A violência de gênero no ambiente político também tem levado mulheres a deixar a vida pública. Um dos casos mais emblemáticos é o da ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB), que desde 2022 está afastada das disputas eleitorais.

— A naturalização da violência, a ausência de instrumentos e o fato de que são os parlamentares os principais atores na construção da violência política de gênero e de raça são a prova cabal de que não somos benquistas nesse espaço — afirmou Manuela, que foi alvo frequente de ataques e ameaças durante sua trajetória política.

Mesmo com legislações como a que obriga os partidos a destinar 30% das candidaturas a mulheres desde 2009, a sub-representação feminina persiste. Muitas vezes, as siglas driblam a norma, lançando “candidaturas laranjas” para cumprir cotas e, depois, pedem anistia para evitar punições.

Enquanto isso, mulheres como Alliny, Iracema e Ivana seguem abrindo caminhos, enfrentando resistências e tentando mudar, por dentro, a paisagem política do país.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/desigualdade-de-genero-apenas-3-assembleias-legislativas-sao-presididas-por-mulheres-no-brasil/