
A Polícia Federal identificou a compra de ao menos 47 imóveis, avaliados em R$ 35 milhões, por suspeitos de envolvimento no esquema de fraudes contra aposentados e pensionistas do INSS. As aquisições, realizadas entre 2018 e 2025, estão no centro das investigações que apuram o desvio bilionário promovido a partir de descontos indevidos nos benefícios de mais de 1,3 milhão de segurados.
As informações constam em relatórios da PF e envolvem diretamente dirigentes da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), empresários, ex-servidores do INSS e empresas de fachada. Os agentes identificaram, por exemplo, que a empresa Orleans Viagens — ligada a Silas Bezerra de Alencar e Wagner Ferreira Moita — adquiriu 16 salas comerciais em São Bernardo do Campo (SP) por valores entre R$ 171 mil e R$ 320 mil, totalizando mais de R$ 3 milhões entre março de 2020 e novembro de 2023. Os imóveis foram repassados à Contag.
A mesma Orleans Viagens também comprou um apartamento em Diadema (SP) por R$ 240 mil em outubro de 2020, e 11 veículos desde 2021. Segundo a PF, as transações são “incompatíveis” com o faturamento declarado da empresa, o que indicaria “possível ilícito envolvendo verbas públicas”.
Silas Alencar, um dos sócios, gastou mais de R$ 5,4 milhões na compra de seis imóveis no estado de São Paulo entre 2019 e 2025. Seu sócio, Wagner Moita, comprou dois apartamentos no litoral paulista, em Santos e Praia Grande, por cerca de R$ 1,8 milhão.
Alto escalão da Contag também é alvo
As investigações também atingem figuras centrais da Contag. Alberto Ercilio Broch, diretor da entidade e responsável por assinar o acordo com o INSS que deu origem aos repasses à confederação, comprou um apartamento de R$ 1,6 milhão em Brasília em setembro de 2023.
Secretárias da instituição também aparecem na lista de beneficiários. A secretária-geral, Thaisa Daiane Silva, adquiriu uma casa em Campo Grande e uma gleba em Bandeirantes (MS) por R$ 600 mil entre 2022 e 2025. Já Edjane Rodrigues Silva, secretária de políticas sociais, comprou um apartamento no Núcleo Bandeirante (DF) por R$ 330 mil em 2021.
Apesar dos indícios apontados pela PF, a Justiça não autorizou o sequestro dos bens. Em sua decisão, o juiz federal Frederico Viana argumentou que não havia “indícios veementes” de que os recursos usados nas aquisições fossem de origem ilícita.
Esquema também envolveu consultorias e ex-dirigentes do INSS
A Xavier Fonseca Consultoria, ligada a Maria Paula Oliveira, teria recebido recursos do esquema e, segundo a PF, foi usada para a compra de um apartamento de R$ 770 mil em Curitiba.
O ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Antonio Ribeiro de Oliveira Filho, exonerado em abril, também aparece nas investigações. Entre 2020 e 2023, ele adquiriu quatro imóveis em Brasília, Curitiba e Recife, somando R$ 4,6 milhões. Sua esposa, Thaisa Hoffmann Jonasson, por meio da THJ Consultoria, comprou três imóveis em Campo Largo e Curitiba por cerca de R$ 2 milhões no mesmo período. A empresa Curitiba Consultoria, da qual também é sócia, adquiriu um imóvel por R$ 230 mil em 2024.
Outro nome envolvido é Alexandre Guimarães, diretor de governança do INSS. Uma empresa na qual ele figura como dirigente, a Venus Consultoria & Assessoria Empresarial, comprou um imóvel em Brasília por R$ 180 mil no ano passado.
“Careca do INSS” ocultou patrimônio em offshore
Antônio Carlos Camilo Antunes, apelidado de “careca do INSS”, é apontado como um dos principais facilitadores do esquema e também utilizou diferentes empresas para dissimular patrimônio. A Prospect, firma ligada a Antunes, transferiu R$ 153 mil para a Jacksonville Enterprise LLC, registrada nos Estados Unidos, para a compra de um imóvel no exterior. Em outra frente, a Prospect comprou uma sala comercial em Brasília por R$ 165 mil.
Em 2024, o próprio Antunes adquiriu uma casa de R$ 3 milhões à vista no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. O período coincide com o auge da operação fraudulenta, segundo a PF. Ele também comprou um terreno e uma casa em Vicente Pires, no DF, por R$ 216 mil no total, e outra empresa em que é sócio, a Brasília Consultoria Empresarial, comprou uma sala na Barra Funda (SP) por R$ 233 mil.
A investigação aponta ainda que uma offshore ligada a Antunes, a Camilo & Antunes Limited, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, investiu R$ 11 milhões em imóveis no Brasil em 2024. Entre os bens adquiridos estão apartamentos nos bairros paulistanos de Indianópolis e Jardins, além de unidades na Asa Sul, em Brasília. Segundo a PF, a estratégia visava “blindar o patrimônio ilegítimo amealhado”.
Volume desviado ultrapassa R$ 2 bilhões
Ao longo do período investigado, a Contag arrecadou mais de R$ 2 bilhões com descontos indevidos nos contracheques de aposentados e pensionistas. A suspeita é que boa parte desses valores tenha sido direcionada ao enriquecimento ilícito de dirigentes, empresários e intermediários ligados ao INSS e à confederação.
A investigação segue em curso, e a expectativa é que novos pedidos de bloqueio de bens sejam apresentados conforme avançam as análises financeiras e patrimoniais.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/pf-rastreia-r-35-milhoes-em-imoveis-comprados-por-suspeitos-de-fraude-no-inss/