28 de junho de 2025
Copom deve elevar Selic a 14,75% em meio a incertezas
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O Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou nesta terça-feira (6) sua reunião bimestral com forte expectativa de nova alta de juros, mas sem indicar o que pretende fazer nas próximas decisões.

Segundo apuração do Broadcast, do Estadão, a previsão majoritária entre economistas é de elevação de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic, que passaria para 14,75% ao ano.

Desde setembro de 2024, o Banco Central já subiu os juros em 3,75 pontos, num ciclo de aperto monetário que incluiu três aumentos seguidos de 1 ponto percentual entre dezembro e março. Na última reunião, em março, o Copom antecipou uma nova alta “de menor magnitude” — agora prestes a se confirmar.

No entanto, a grande dúvida do mercado gira em torno da comunicação sobre os próximos passos. Com o cenário internacional em rápida transformação, especialmente após os EUA anunciarem novas tarifas comerciais, membros do Banco Central têm dado sinais de que não devem renovar o forward guidance (instrumento usado para guiar expectativas sobre a trajetória futura da taxa). O próprio presidente da instituição, Gabriel Galípolo, afirmou na última semana que é preciso manter flexibilidade nas próximas decisões.

“O mais provável é o BC usar a mesma estratégia que adotou no fim do ciclo passado e afirmar que vai ‘avaliar a necessidade de um novo ajuste na próxima reunião’”, avalia Flávio Serrano, economista-chefe do Banco BMG.

Segundo ele, esse tipo de formulação é compatível tanto com um cenário de riscos assimétricos quanto com uma transição para um balanço simétrico — embora a manutenção da assimetria seja mais provável.

Desde o início do ciclo de alta, o Copom tem mantido o balanço de riscos voltado para cima, ou seja, com maior probabilidade de a inflação ficar acima das projeções. Uma eventual mudança nesse parâmetro, alertam analistas, poderia sinalizar a proximidade do fim do ciclo ou até mesmo uma pausa já nesta semana.

Os dados de inflação vêm mostrando estabilidade nas projeções do mercado: a última pesquisa Focus manteve praticamente inalteradas as estimativas para o IPCA em 2025 (5,1%) e 2026 (3,7%). Mesmo com queda recente nos preços das commodities e leve valorização do real — o dólar recuou de R$ 5,80 para R$ 5,70 nos últimos 45 dias — a inflação corrente ainda impõe pressão.

A economista Thais Zara, da LCA 4Intelligence, prevê uma alta de 0,5 ponto agora e vê chance de um ajuste final em junho, de 0,25 ponto. No entanto, ela destaca que o encerramento do ciclo já nesta quarta-feira também é uma possibilidade, caso o cenário global siga mais benigno.

“Se o câmbio depreciar até junho, por questões como maior aversão ao risco ou fatores domésticos, o BC teria espaço para nova alta. Mas, se observarmos vetores desinflacionários ajudando a convergir a inflação, essa opção pode ser descartada”, explica Zara.

A turbulência internacional, marcada pelo recuo do petróleo e a expectativa de redirecionamento das exportações chinesas — antes voltadas aos EUA — para outros mercados, tende a exercer pressão baixista sobre os preços de bens industriais.

“É uma tempestade, uma tsunami de variáveis em jogo: commodities, petróleo, câmbio, exportações chinesas… o BC tem razão em importar essa preocupação”, afirma Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos.

Gardimam acredita que o Copom pode encerrar o ciclo de alta agora e manter a Selic em 14,75% pelos próximos meses, com possibilidade de corte de juros já no fim de 2025, caso o cenário externo favoreça a desinflação.

Flávio Serrano, do BMG, reforça essa leitura e aponta que a combinação de desaceleração global, possível queda de juros nas economias centrais e enfraquecimento da atividade doméstica pode começar a indicar inflação abaixo do teto da meta em 2026. Nesse ambiente, diz ele, o Copom deve agir com cautela: subir agora, mas observar com atenção antes de novos movimentos.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/copom-deve-elevar-selic-a-1475-em-meio-a-incertezas-globais-mas-evitar-sinalizacoes-futuras/