
Patativa era figura fácil de ser encontrada pelo Centro Histórico de São Luís. Há 15 anos, na primeira entrevista que fiz com ela para O Imparcial, foi na Praia Grande que nos encontramos. Patativa chegou bem humorada (como sempre). Estava feliz! Genuinamente feliz! Estava orgulhosa pelo momento que estava vivendo. Ia lançar o primeiro CD da carreira aos 77 anos de idade: “Ninguém é melhor do que eu” produzido pelo também maranhense Zeca Baleiro. “Até que enfim”, ela ria e comentava enquanto se revezava entre momentos de timidez e euforia. “Timidez”? Alguém perguntaria. Sim. Para falar sobre o próprio trabalho, a compositora preferia que os outros falassem. E nós vamos falar.
Nascida na cidade de Pedreiras, a 5 de outubro de 1937, Patativa que teve a sua formação cultural esculpida no bairro da Madre Deus teria mais de 200 composições, a maioria com letras engraçadas, irreverentes e com duplo sentido, como Xiri Meu, famosa nas rodas de samba do bairro da Madre Deus e da Feira da Praia Grande.
Ela chegou em São Luís ainda na infância e ao longo da sua história, cantava em rodas de amigos e bares locais, sem ter pretensão de seguir a carreira musical. Mas seguiu. E no dia 6 de maio, em São Luís, Patativa faleceu, aos 87 anos, deixando seu nome na história como uma grande sambista, como uma pessoa irreverente.
“Sou escandalosa desde sempre”
O nome Patativa nasceu de uma brincadeira quando era adolescente. Ela contou que ao apelidar um colega de “amigo da onça”, ouviu do mesmo: “E tu que é uma Patativa, que vive cantando?”. “Eu não gostei, fiquei brava, e aí quando a gente não gosta é que o apelido pega. Hoje eu já gosto”, falou.
E sobre histórias engraçadas com palavras impublicáveis? Patativa diz que sempre foi escandalosa. “Sou assim desde criança. É o meu jeito. Certa vez fui convidada a participar de um show e o povo pedia para eu cantar Xiri Meu, porque o povo pede por aí tudo, mas o dono do show não gostou e disse que não me convidava mais para cantar no show dele”, riu.
Perda repercutiu entre fãs , amigos e artistas
Patativa compôs, dentre outras músicas, Colher de chá, cantada em dueto por Cesar Teixeira e Rita Ribeiro por ocasião de show no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, em 2004. Também já foi saudada pelo sambista Jorge Aragão. Versos de Uns e alguns, composição dele gravada no primeiro disco de Serrinha e Cia. convidam: “Patativa, vem sambar, oh!/ Na palma da mão”.
Conhecida pelo riso espontâneo, bom humor e acima de tudo pela da irreverência, quando tinha 75 anos ela recebeu de seus fãs e súditos, o título de Rainha da Alegria. Figura querida, vibrante, e pra cima Patativa foi reverenciada por nomes da música maranhense como: Zeca Baleiro, Cesar Teixeira, Rita Ribeiro, Luís Júnior.
Ao longo da trajetória como sambista, a compositora integrou a Turma do Quinto e o grupo Fuzileiros da Fuzarca (desde o tempo em que a participação de mulheres não era permitida), também era apaixonada pelo Boi da Madre Deus. A cantora participou de vários festivais, projetos, shows nacionais e regionais, além do filme ‘Quilombos maranhenses’, do jornalista e cineasta Cláudio Farias.
Ninguém é Melhor do que Eu
O disco lançado em 2015, pela Saravá Discos, teve a participação de Simone, Zeca Baleiro e Zeca Pagodinho. Com Zeca Pagodinho, Patativa divide os vocais em “Ninguém é Melhor do que Eu”, que dá nome ao disco e fala da magia que cerca o universo do samba. Outros destaques do repertório são “Babado na favela”, sobre o cotidiano das periferias de São Luís; “Santo guerreiro”, sobre a relação de malandros e otários com o vil metal, em que canta com Zeca Baleiro, e “Saudades do meu bem-querer”, com a participação de Simone. O CD também está no iTunes. Amigos, fãs, parceiros, familiares e admiradores lamentam a perda da sambista. Pelas redes sociais, eles deixaram seu recado de saudade.
Luís Jr. (músico)
“Qualquer coisa que eu fale não vai expressar o sentimento dessa perda. A cantora Patativa foi uma guerreira que transgrediu tudo que pudesse podá-la, rompeu barreiras e paradigmas, foi um exemplo de humildade, talento e grandeza musical. Tive a honra de produzir, em parceria com mestre Zeca Baleiro dois álbuns dessa compositora incrível que culminou no lançamento em São Luís e São Paulo. A música maranhense perde um dos seus maiores representes.”
Vanessa Serra (jornalista e DJ)
“Viva sua vida alegremente porque tristeza não paga dívida”…
Patativa. Mulher, pura essência de uma artista popular…A Vida é uma Festa, Fuzileiros da Fuzarca, Turma do Quinto, Boi da Madre Deus… É babado todo dia, pra sempre, na luz celestial, Patativa!
Secretaria de Estado da Cultura
“Na noite de ontem, nos despedimos da nossa eterna Patativa. Uma artista do povo, com sorriso largo, canto forte e presença inesquecível. Tivemos a honra de homenageá-la ainda em vida, dando seu nome a um dos palcos do nosso Carnaval — repleto de alegria, cores e música, como ela sempre foi. Patativa é raiz, é voz, é memória viva da cultura do Maranhão. Seu legado seguirá ecoando nos tambores, nos palcos e nos corações.
“Obrigada por tanto, mestra. Você segue presente, como sempre esteve: com irreverência, afeto e amor por essa terra. Descanse em paz, nossa Patativa.”
Secretaria Municipal de Cultura
“Maria do Socorro Silva, carinhosamente conhecida como Patativa, nasceu em Pedreiras, mas foi em São Luís que começou a trilhar, ainda criança, o caminho que a tornaria um ícone da nossa cultura. Com voz marcante, ela construiu uma trajetória de amor à arte, tornando-se figura emblemática no nosso samba, integrando a Turma do Quinto e Fuzileiros da Fuzarca.
Símbolo de resistência, dedicação e paixão pelas tradições populares, Patativa deixa um legado imensurável para a cultura do Maranhão. Nossos sentimentos aos familiares, amigos e admiradores dessa grande artista!”
Rose Carrenho (sambista)
“Mulheres do Samba de luto … A Alegria em pessoa fez sua viagem, caminho de luz ao lado do Pai.
Turma do Quinto
“Figura marcante do nosso patrimônio imaterial, Patativa sempre foi símbolo de resistência, alegria e dedicação às tradições do nosso povo. Sua contribuição à cultura do Maranhão é inestimável, tendo encantado gerações com sua arte, sua presença vibrante e seu amor pela nossa identidade. Descanse em paz, Patativa. Sua história viverá para sempre em nossos corações!”
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Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/05/luto-na-cultura-a-partida-de-patativa/