34% das vias de São Luís tem apenas uma árvore

Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o levantamento do Censo Demográfico 2022: Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios. Esse estudo permitiu conhecer um pouco mais sobre a saúde da infraestrutura que circunda as residências dos brasileiros, assim como reconhecer carências e suscitar a implementação de políticas públicas que melhor atendam à população. De 1º de agosto de 2022 a 28 de maio de 2023, o estudo destacou diversos elementos, dentre eles, a presença ou não de árvores em vias públicas.

No Brasil, 58,7 milhões de moradores (33,7%) vivem em vias sem arborização, ao mesmo tempo em que 114,9 milhões (66,0%) vivem em vias que contam com pelo menos uma árvore. Sabendo disso, a pesquisa realizada pelo IBGE constatou que, nesse quesito, São Luís pontua 34,3% no ranking das capitais mais arborizadas, o que faz com que ela ocupe o 26º lugar dentre as 27 cidades brasileiras retratadas no ranking, ficando à frente somente de Salvador (BA).

Infraestrutura verde: uma necessidade de todos

De acordo com Leonardo Soares – professor, vice-reitor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente –, “os dados do Censo 2022 apontam um alerta claro para São Luís: quase dois terços da população vivem em ruas sem nenhuma arborização. Estar em uma das últimas posições entre as capitais brasileiras nesse quesito não é apenas um indicador estatístico – é um reflexo de falhas históricas no planejamento urbano e na priorização da infraestrutura verde. Esse cenário é consequência de um modelo de crescimento urbano que, por muito tempo, ignorou a importância da vegetação para a saúde ambiental das cidades. A ausência de árvores em áreas urbanas agrava problemas como as ilhas de calor, eleva os riscos de alagamento por menor capacidade de absorção da água da chuva, além de reduzir o conforto térmico e comprometer a saúde pública. A arborização urbana não é um aspecto estético, mas uma infraestrutura essencial para o equilíbrio climático, a biodiversidade e a qualidade de vida nas cidades”.

Construir uma cidade mais verde

De acordo com ele, alguns fatores são necessário para construir uma cidade mais verde, como vontade política, planejamento técnico e participação social. Em São Luís, esse caminho passa por três eixos fundamentais: a implementação do Plano Diretor, a consolidação do Plano Municipal de Arborização Urbana e a articulação com outras políticas públicas estruturantes.

“O Plano Diretor de São Luís, recentemente revisado, representa um avanço importante ao estabelecer diretrizes mais alinhadas com os princípios do desenvolvimento urbano sustentável. Ele incorpora instrumentos que podem fortalecer a proteção ambiental e ampliar as áreas verdes da cidade, desde que sua execução seja acompanhada por metas concretas, fiscalização eficaz e transparência nos processos decisórios. No que diz respeito à arborização, a cidade avança com a elaboração do seu Plano Municipal de Arborização Urbana, que deve ser compreendido como um instrumento estratégico e transversal. Esse plano deve prever o mapeamento de áreas com baixa cobertura vegetal, a definição de espécies nativas mais adequadas para o ambiente urbano, a criação de sistemas de monitoramento e a definição de metas progressivas de plantio e manutenção. No entanto, políticas públicas bem escritas não bastam. É necessário garantir orçamento para execução e manutenção, envolver as comunidades na gestão dos espaços verdes e articular essas ações com áreas como mobilidade urbana, habitação, educação ambiental e saneamento ambiental”, explica Soares.

Desse modo, o vice-reitor da UFMA define que “uma cidade mais arborizada não é apenas mais bonita: ela é mais saudável, mais resiliente às mudanças climáticas, mais equitativa. E esse é um projeto que só se torna realidade quando o poder público assume o protagonismo, mas caminha lado a lado com a sociedade”.

Segundo Leonardo, “transformar São Luís numa cidade verde é um compromisso coletivo – que começa no poder público, mas só se realiza com o engajamento de toda a sociedade. A efetiva execução dessas estratégias, aliada ao compromisso político e à participação ativa da sociedade, é essencial para transformar São Luís em uma cidade mais verde, saudável e resiliente”.

Em resumo, apesar desse desfalque, o reconhecimento desses dados quantitativos fornecidos pelo Censo 2022 do IGBE é essencial, pois auxilia no planejamento urbano municipal, na implementação e no monitoramento de ações de desenvolvimento.

Plano Municipal de Arborização Urbana

Em nota, a Prefeitura de São Luís informou que o Instituto Municipal da Paisagem Urbana (Impur) já deu início ao Plano Municipal de Arborização Urbana, em parceria com a Universidade Estadual do Maranhão (Uema).

Segundo o Instituto, o Plano é composto de: Diagnóstico da arborização urbana de São Luís; Análise de risco de queda de árvores; Cenários de planejamento estratégico, parâmetros para a arborização urbana em São Luís e prognóstico de implantação, manutenção e monitoramento continuado da ambiência da arborização urbana ludovicense; Aplicativo de cadastramento das árvores públicas com georreferenciamento; Mapa georreferenciado das árvores na plataforma do município e base de dados completa em ambiente SIG (Sistema de Informações Geográficas); Oito relatórios de desempenho, sendo um deles referente às audiências públicas, para fins de medições.

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