
O setor siderúrgico brasileiro tem cobrado do governo federal medidas mais duras contra o aço chinês, apontando práticas comerciais desleais por parte de Pequim e o risco de colapso da produção nacional, informa Jamil Chade em sua coluna no portal UOL. O tema ganhou novo fôlego na agenda após a divulgação de que, só nos três primeiros meses de 2025, o Brasil importou cerca de 1 milhão de toneladas de aço da China — um salto de 42% em relação ao mesmo período do ano passado.
A pressão da indústria ocorre no momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforça sua aproximação diplomática com a China. Em sua segunda visita ao país asiático desde o início do mandato, Lula firmou novos acordos estratégicos, num movimento interpretado como resposta à escalada protecionista dos Estados Unidos. Mas, enquanto o diálogo institucional avança, representantes da indústria nacional pedem uma reação concreta para conter o que chamam de desequilíbrio comercial.
“Não foi uma medida efetiva”, lamentou o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, ao UOL, ao comentar a cota de importação com alíquota de 25% adotada pelo Brasil em 2024. “Nosso debate atualmente com o governo federal é que, vencido os doze meses do mecanismo, que ele seja fortalecido a partir de junho”, afirmou.
Segundo Werneck, a China tem promovido uma política de subsídios para manter suas empresas operando e exportando, o que distorce os preços e ameaça a indústria nacional. “Vemos aço penetrando no Brasil com um preço menor que as empresas chinesas pagam no minério de ferro que a China compra do Brasil”, alertou. “Na busca por manutenção de emprego e renda, o governo chinês tem colocado muito dinheiro público para sustentar as empresas”, disse.
Apesar das críticas, o executivo nega que defenda medidas protecionistas. “Nunca falamos de proteção. Queremos defesa, que visa colocar condições isonômicas de competição”, declarou. “Como somos muito competitivos, queremos entrar num cenário de competição de igual para igual, com as mesmas ferramentas.”
O embate internacional na OMC
O debate sobre o excesso de aço chinês no mercado global já domina as reuniões da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em encontro realizado no dia 29 de abril, em Genebra, a delegação brasileira, representada pelo Itamaraty, defendeu um diálogo multilateral para enfrentar o problema, mas alertou contra ações unilaterais, como as tarifas impostas pelos Estados Unidos.
A China, alvo de críticas durante a reunião, rebateu com firmeza. Representantes do país classificaram o debate sobre excesso de capacidade como uma “falsa narrativa” e afirmaram que suas exportações refletem apenas vantagens competitivas e não práticas desleais.
A delegação chinesa argumentou que outros países também exportam em larga escala. Citou os Estados Unidos, que enviam ao exterior grande parte de sua produção agrícola e de semicondutores, e o Japão, que exporta quase metade de sua produção automotiva. Pequim também criticou a postura estadunidense, alegando que o uso de tarifas recíprocas pelos EUA é que fere os princípios da OMC.
Impacto das tarifas estadunidenses para a Gerdau
Apesar das críticas ao protecionismo chinês, a Gerdau se beneficiou das tarifas impostas pelos Estados Unidos durante o governo de Donald Trump. A empresa, que opera há mais de 30 anos no território estadunidense e tem ações listadas na Bolsa de Nova York, viu sua presença no país se consolidar.
“Vemos mais clientes comprando nosso aço nos EUA, uma isonomia competitiva”, disse Werneck. Segundo ele, a companhia já detém mais de 30% do mercado de aço para infraestrutura no país. “Por sermos muito competitivos nos EUA, isso nos ajudou a crescer”, afirmou. “Existe um debate sobre incrementar a produção nacional. Portanto, para nós, isso tende a ser positivo.”
Apesar da polarização entre as grandes potências, o executivo defendeu a manutenção de laços com ambos os lados. “Falamos muito de uma polarização política. Mas a polarização econômica não faz sentido. Não se trata de desprezar a relação com os EUA, mas de manter relações comerciais equilibradas com todos.”
O setor agora espera uma posição firme do governo Lula diante do aumento das importações e da pressão interna. Em Brasília, técnicos avaliam como reforçar os instrumentos de defesa comercial sem violar normas da OMC ou comprometer acordos bilaterais. Werneck, por sua vez, se diz confiante: “Acreditamos que o governo vai defender a indústria nacional.”
Fonte: https://agendadopoder.com.br/siderurgicas-brasileiras-acusam-pequim-de-praticar-precos-desleais-e-pedem-taxacao-do-governo-lula-contra-aco-chines/