28 de junho de 2025
“Uma travessia íntima”, diz Alessandra Negrini sobre A Árvore
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Símbolo poderoso da vida, crescimento e conexão com a natureza, é fácil imaginar uma árvore frondosa com folhas verdes, raízes profundas e galhos se espalhando — como um ser vivo silencioso que sustenta ecossistemas inteiros. No palco, em cartaz pelos teatros do país desde agosto do ano passado, Alessandra Negrini dá voz a uma mulher em transformação, tal como uma árvore.

“A Árvore é um relato. Um relato de amor. A personagem nos conta a sua história, a sua aventura mais íntima e nos oferece o testemunho de ver o seu corpo se transformando em algo outro. As angústias e as alegrias dessa viagem viram palavras e imagens potentes que ela mesma cria. É uma escrita performática, uma página, uma peça, uma narrativa dessa metáfora de virar algo que não é mais si mesmo. A ideia de virar uma árvore lhe parece bela e necessária e não há mais como escapar”, comenta a atriz Alessandra Negrini sobre a personagem A.

A Árvore é o nome do monólogo encenado pela atriz, em cartaz em São Luís, dias 23 e 24 de maio (às 21h), e dia 25 (às 19h), no Teatro Arthur Azevedo. É o primeiro solo da atriz e mostra uma mulher em processo de reflexão depois de ganhar uma pequena planta e ver-se sozinha com ela em seu apartamento.

O trabalho tem dramaturgia de Silvia Gomez, direção de Ester Laccava e produção de Gabriel Fontes Paiva e Alessandra Negrini, e estreou em agosto de 2024. No palco do Teatro Arthur Azevedo, neste final de semana, o monólogo encerra sua caminhada.

Processo de transformação

Sozinha em seu apartamento, a personagem A. dirige-se a um interlocutor não identificado para fazer o relato de uma viagem interior iniciada quando ela ganha uma pequena planta de uma vizinha. Certo dia, ao tentar limpar sua estante, A. se vê presa à planta por um fio de cabelo e submerge em um estranho processo, no qual observa seu corpo transformar-se lentamente em algo que desconhece.

Despedindo-se de sua forma humana, tomada de novas sensações e percepções, A. ora narra fatos de seu cotidiano, ora se entrega a reflexões diversas, que transitam entre o lírico e o cômico. Uma experiência extraordinária, a um só tempo particular e coletiva.

A Árvore também é o primeiro monólogo escrito por Silvia Gomez, que teve sua inspiração para criar a personagem a partir de uma imagem. “Um dia, regando uma planta na estante, vi um fio do meu cabelo preso a ela. Pedi para meu filho fotografar e transformei o episódio em textos. Nesta peça, ele disparou a cena da metamorfose, elaborando a sensação de certa forma delirante de ter sido agarrada por aquela planta, como se ela tivesse algo a dizer”, revela.

A Árvore é um trabalho sensorial, com uma narrativa de percepções. Como foi essa concepção?
“Esse texto foi um pedido meu para a autora e era uma ideia na qual ela já vinha trabalhando. Eu queria um monólogo e algo que falasse de uma travessia íntima, ao mesmo tempo que estivesse relacionado aos nossos tempos e às questões contemporâneas. A natureza e o meio ambiente são, ao meu ver, dos assuntos mais urgentes a serem tratados. O texto fala basicamente sobre o nosso afastamento da natureza e ao mesmo tempo o quanto também somos natureza. Só que não fala de uma forma didática, tem muitas camadas, fala também sobre relatos, sobre palavras, sobre o feminino e todo momento em que dos deparamos com transformações internas. Cada um se identifica com o que fizer sentido para si. Isso é o que eu acho de bonito no texto.”

Cabe dizer que a personagem tem um processo quase ritualístico de metamorfose?
“Ela narra a sua experiência, e ao narrar ela vive, expõe, atravessa junto com a plateia esse lugar misterioso em que se vê lançada, no caso, “capturada” por essa planta. O público faz essa viagem com ela.”

Qual foi o maior desafio em viver essa personagem sozinha no palco?
“No palco é um prazer porque existe a troca com a plateia. Ensaiar é que é mais difícil porque você está sozinha, e eu sou uma atriz que adora o trabalho coletivo, eu me divirto com os colegas, gosto das brincadeiras, da cumplicidade com os outros atores. O monólogo não tem isso, mas tem outra beleza. É um importante momento da carreira de um ator. Você sai dele mais forte, mais segura.”

O que você espera que fique no público após assistir ao espetáculo?
“A gente sempre espera que a arte seja um veículo de transformação, algo que em algum lugar libera as pessoas porque faz você pensar e sentir de uma maneira que você não está totalmente tomada por aquilo, te permite sobrevoar e enxergar melhor as coisas. Sei que é um desejo ambicioso, mas se não pensarmos grande ou desejarmos grande, nada acontece (risos).”

    Serviço
    O quê: A Árvore, de Silvia Gomez
    Quando: 23, 24 (21h), 25 (19h)
    Onde: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol)
    Quanto: A partir de R$ 25,00
    Venda online

Fonte: https://oimparcial.com.br/entrevista/2025/05/uma-travessia-intima-diz-alessandra-negrini-sobre-a-arvore/