28 de junho de 2025
Lula adverte ministro em evento com sem-terra, mas evita falar
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras cobranças ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, durante evento realizado nesta quinta-feira (29) no Paraná, em ato ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Apesar das críticas, Lula evitou dar sinais claros sobre uma possível demissão do ministro, que enfrenta pressão interna da liderança do movimento por não corresponder às expectativas ao longo dos últimos dois anos e meio de governo. As informações são da Folha de S.Paulo.

“A máquina pública é preparada para dizer ‘não’, quando seria pelo menos mais decente dizer ‘vamos tentar fazer’. Seria muito mais fácil e respeitoso. E é isso, Paulinho, que eu quero que a gente faça no Ministério do Desenvolvimento Agrário”, afirmou o presidente em seu discurso. A fala reforça a cobrança para que o ministério adote uma postura mais proativa em relação às demandas da reforma agrária.

Ministro culpa Congresso por falta de dinheiro para reforma agrária

Antes da intervenção de Lula, o próprio ministro Teixeira havia abordado os desafios enfrentados no setor: “Reforma agrária precisa de dinheiro e nós ganhamos a Presidência da República, mas temos minoria no Congresso Nacional. E o Congresso se apropriou de parte do orçamento. Nós temos que libertar o orçamento para que ele volte para as políticas públicas, volte para reforma agrária.” O ministro apontou, assim, as limitações orçamentárias e políticas que emperram avanços no setor.

Lula também atribuiu dificuldades à gestão anterior e destacou os esforços do governo para reorganizar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). “Quando tomei posse, a primeira coisa que disse ao Paulo Teixeira foi que um jeito de evitar violência no campo seria preparar uma prateleira de todas as terras disponibilizadas no país, seja terra em litígio ou da União. Isso foi feito, demorou porque o Incra estava totalmente desorganizado”, comentou o presidente.

Durante o evento, Lula ainda mencionou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em meio à crise gerada pelo aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). “O ministro Haddad sabe como encontramos a Fazenda. O país era administrado da forma mais irresponsável possível. Para consertar isso, leva tempo”, disse.

Ação do governo encerra disputa judicial de 22 anos

A visita de Lula marcou a oficialização da criação do assentamento Maila Sabrina, para cerca de 450 famílias, localizado na divisa dos municípios paranaenses de Ortigueira e Faxinal. A medida encerra uma disputa judicial de 22 anos sobre a antiga Fazenda Brasileira, área de aproximadamente 10 mil hectares. Segundo o governo federal, o acordo judicial firmado em março deste ano envolveu indenização de R$ 340,7 milhões aos proprietários e a extinção das ações de reintegração de posse. O imóvel será incorporado ao Programa Nacional de Reforma Agrária.

Antes da ocupação iniciada em 2003, a Fazenda Brasileira era usada para criação de búfalos e, segundo o MST, encontrava-se em “estado de degradação ambiental intenso”. Em 2006, a comunidade foi renomeada Maila Sabrina, em homenagem a uma criança que morreu no acampamento vítima de doença crônica. Atualmente, o assentamento possui produção agrícola diversificada, incluindo cultivo de grãos, hortaliças, verduras e frutas, além de infraestrutura com escola, unidade de saúde e espaços comunitários, apoiados pelas prefeituras locais.

A visita de Lula ao assentamento estava prevista inicialmente para o final de abril, mas foi adiada devido à viagem do presidente ao funeral do papa Francisco.

Emocionado, Lula relembra apoio na época em que estava preso

O presidente se emocionou no evento ao relembrar o apoio recebido da comunidade durante o período em que esteve preso em Curitiba. Jocelda Oliveira, integrante da direção da comunidade, saudou Lula com um coro de “bom dia, boa tarde, boa noite, presidente Lula”, saudação que marcou os apoiadores durante a “Vigília Lula Livre”, acampamento em frente à carceragem da Polícia Federal. “Lula representa esperança. Nós vamos eleger o senhor em 2026”, declarou Jocelda.

A ministra Gleisi Hoffmann (PT), presente no ato, também destacou a importância do apoio do MST e da região ao ex-presidente. “No momento mais difícil nosso, as pessoas aqui se revezavam para ir a Curitiba. Aqui o senhor teve 100% dos votos. É este pessoal que vai reconduzi-lo de novo”, afirmou Gleisi.

Ao final do discurso, Lula agradeceu emocionado: “Se eu tivesse acesso a todo ouro do mundo, não poderia pagar a gratidão que tenho a vocês pelo que fizeram em Curitiba. Vocês não sabem o que é estar preso e, durante 580 dias, com chuva ou sol, eu ouvia ‘bom dia, boa tarde e boa noite’, de domingo a domingo. Não há dinheiro que pague isso.”

O ato contou com a presença de prefeitos, deputados e ministros, mas não houve representantes do governo do Paraná. O governador Ratinho Junior (PSD) está em viagem na França, e o governador em exercício Darci Piana cumpria agenda em Cascavel, no oeste do estado.

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Fonte: https://agendadopoder.com.br/lula-adverte-ministro-em-evento-com-sem-terra-mas-evita-falar-em-demissao/