28 de julho de 2025
Paulo Rodrigues: Guardar a poesia como um patuá
Compartilhe:

No último dia 26 de maio, o poeta maranhense Paulo Rodrigues se tornava vencedor do Concurso Internacional de Literatura da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro (UBE-RJ). 

A vitória, que se deu oficialmente na sede da Academia Brasileira de Letras, não somente comoveu amigos e admiradores como também reavivou a memória dos brasileiros de que a poesia maranhense sempre foi – e continua sendo – forte, resistente e digna de orgulho.

Paulo Rodrigues nasceu em 16 de fevereiro de 1978, na Trizidela, Caxias-MA. É graduado em Letras e Filosofia. Acadêmico de Direito. Especialista em Língua Portuguesa. Professor de língua materna e literatura da rede estadual de ensino. Foi secretário de educação de Santa Inês e gerente regional de educação do Vale do Pindaré. Foi também secretário adjunto de cultura de Santa Inês. É poeta, prosador, ensaísta e jornalista. É autor de vários livros, dentre eles, O Abrigo de Orfeu (Editora Penalux, 2017); Escombros de Ninguém (Editora Penalux, 2018). Ganhou o prêmio Álvares de Azevedo da UBE/RJ em 2019, com o livro Uma Interpretação para São Gregório. Venceu o prêmio Literatura e Fechadura de São Paulo em 2020, com o livro Cinelândia. Conquistou o prêmio Marcus Vinicius Quiroga de Poesia da UBE/RJ em 2024, com o livro Moinhos. É membro efetivo da academia Caxiense de Letras e da Academia Poética Brasileira.

Cinco perguntas//
Paulo Rodrigues
O Imparcial – A poesia, acredito, é uma forma de exercitar os sonhos por meio das palavras. Tudo que escrevemos ora fala da memória, ora vira memória. O que o poeta Paulo Rodrigues quer eternizar na lembrança?

Paulo Rodrigues – A literatura de forma geral articula memória e fabulação. Por outro lado, a memória se vale da literatura para se ampliar, inclusive em humanidade. Nossas experiências são “maiores que o mundo”, porém parecem desorganizadas. A literatura, a poesia reorientam nossas existências. Eu lembro quando li o livro Infância do Graciliano Ramos que é baseado em memórias. 

Recuperei, em mim também, muitas cicatrizes, traumas, tragédias como o fez o autor de Vidas Secas. Por que faço essa introdução? Porque é necessário pensar a catarse literária, tão bem elaborada por Aristóteles, na “Arte poética”. Vejo o discurso metafórico como uma forma de marcar o homem, o tempo, os afetos. No entanto, consigo verificar esse instrumento purificador em muitos autores, que me atravessam como a lâmina de um romano.

Eu quero eternizar o menino que foi criado sem pai, que guardou a fotografia na carteira como um patuá. Quero eternizar as profundezas das manhãs, as incertezas das minhas angústias, as dores dos injustiçados. A minha poesia é “uma epopeia dos oprimidos”! Como afirmou a poeta Adélia Prado: “o que a memória ama, fica eterno”.

Eu quero eternizar o menino que foi criado sem pai, que guardou a fotografia na carteira como um patuá. Quero eternizar as profundezas das manhãs, as incertezas das minhas angústias, as dores dos injustiçados. A minha poesia é “uma epopeia dos oprimidos”! Como afirmou a poeta Adélia Prado: “o que a memória ama, fica eterno”.

A poesia no Maranhão

O Imparcial – Muitos escritores sonham com a Academia Brasileira de Letras (ABL), como você se sente após receber essa premiação, ainda mais com um livro de poesia?

Paulo Rodrigues – Eu fiquei muito feliz, porque o Brasil acompanha o prêmio da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro. É uma das mais antigas associações de escritores do país. Eu vou destacar que já venci alguns concursos importantes. Por exemplo, tive a sorte de ganhar o prêmio Álvares de Azevedo da UBE/RJ em 2019, com o livro Uma Interpretação para São Gregório. Logo depois, conquistei o prêmio Literatura e Fechadura de São Paulo em 2020, com o livro Cinelândia. E em 2024, ganhei o prêmio Marcus Vinicius Quiroga de Poesia da UBE/RJ, com o livro Moinhos (que é inédito).

As premiações ajudam a divulgar a obra dos autores, é inegável. Porém, nunca sentei para produzir pensando em honraria. Escrevo para provocar a abertura das comportas do que me incomoda. Fiquei sabendo que tinha vencido em primeiro lugar o prêmio de livro inédito “Marcus Vinicius Quiroga” pelo site oficial. Em seguida, fui comunicado via e-mail. Abri uma cerveja e comemorei com a minha amada, Larissa Amorim. Fomos ao Rio de Janeiro. Recebi o prêmio, no dia 26 de maio, às 15h, na Academia Brasileira de Letras. Eu disse ao Ricardo Stavola Cavaliere, membro da Casa de Machado de Assis, que a cerimônia estava muito bonita ao ponto de me comover.

O Imparcial – Fale sobre o livro premiado, Moinhos. Para quem não leu, o que podemos esperar dele? Onde é possível ler, ou adquirir?

Paulo Rodrigues – Moinhos venceu o prêmio da categoria poesia. É tradição da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro realizar concursos internacionais de “livros inéditos”, que envolvem todos os países que falam a Língua Portuguesa. É uma obra que abre novos caminhos na minha poética. Coloco em evidência personagens ficcionais que enfrentam o fundo escuro da vida. Eu alonguei mais a discursividade poética e busquei construir imagens cortantes. Acho que trabalhei mais o ritmo, que não fazia parte dos meus projetos anteriores. Certamente, os leitores ficarão incomodados com as metáforas da minha geografia.
Vou assinar contrato ainda. Provavelmente lançaremos pela Editora Litteralux de São Paulo.

O Imparcial – Paulo, existe futuro para a poesia no Maranhão?

Paulo Rodrigues – Começo lembrando o Ferreira Gullar. Ele repetia sempre: “a arte existe porque a vida não basta”. É uma verdade. A existência é montada com uma lógica que escorre pelos dedos (com qualquer reflexão simples). De modo, que precisamos fabular outras realidades. No filme Sociedade dos Poetas Mortos, o professor interpretado por Robin Williams afirma: “Lemos e escrevemos poesia porque somos membros da raça humana, e a raça humana é cheia de paixão”. Existe, portanto, futuro para poesia. Estou convicto. Nosso estado é rico em poetas. Nomes como Gonçalves Dias, Nauro Machado, Lila Maia, Salgado Maranhão estão entre os grandes da nossa Língua Portuguesa.
Por outro lado, a poesia coetânea produzida no Maranhão é fortíssima. Vou citar alguns autores necessários: Antonio Aílton, Fernando Abreu, Bioque Mesito, Celso Borges, Neurivan Sousa, Laura Amélia Damous, Samuel Marinho, Lindevania Martins, Eduardo Júlio, Luiza Cantanhêde, Sebastião Ribeiro, Natan Campos, Carlos Vinhorth.

O Imparcial – Quais são os próximos passo do poeta Paulo Rodrigues?

Paulo Rodrigues – Roland Barthes repetia: “a literatura não permite caminhar, mas permite respirar”. Eu faço muitas atividades na vida prática, no entanto eu respiro as palavras, o simbólico, a poesia. Vou publicar meu primeiro romance cujo título é O Desencanto das Águas pela Editora Litteralux de São Paulo. Também devo lançar em 2026, o livro infantil “O Pião Azul e Outros Poemas”. E estou construindo outro livro de poesia que dialoga com a simplicidade da vida. Eu acredito num verso meu que diz: “fundamental é nascer com os olhos de metáforas”.

Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/06/paulo-rodrigues-guardar-a-poesia-como-um-patua/