17 de junho de 2025
Extintos há 10 mil anos, mastodontes fazem falta no Chile;
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Pela primeira vez, cientistas encontraram evidências fósseis diretas que comprovam como a extinção de mastodontes há 10 mil anos gera impactos na preservação de florestas na América do Sul — mais especificamente no Chile central — nos dias atuais.

Esses animais eram responsáveis pela dispersão de sementes de plantas com frutos grandes — e algumas das espécies que dependiam dos mastodontes estão agora criticamente ameaçadas de extinção, de acordo com o estudo.

Conhecida como a “hipótese dos anacronismos neotropicais”, essa teoria permaneceu sem confirmação por mais de quarenta anos. A ideia foi apresentada pela primeira vez em 1982 pelo biólogo Daniel Janzen e pelo paleontólogo Paul Martin.

Lago Tagua Tagua, rica em fauna do período Pleistoceno (Imagem: Kyle J Little/Shutterstock)

Agora, a teoria de que as plantas tropicais desenvolveram frutos grandes, doces e coloridos para atrair animais de grande porte é validada por descobertas feitas pela Universidade de O’Higgins e pela Universidade Autônoma de Barcelona. 

Qual foi a descoberta?

A equipe analisou 96 dentes fósseis coletados ao longo de 1.500 quilômetros, de Los Vilos à Ilha de Chiloé, no sul do Chile. Quase metade dos espécimes vem do sítio emblemático do Lago Tagua Tagua, uma antiga bacia rica em fauna do Pleistoceno.

Eles confirmaram que tinham em mãos a primeira evidência sólida de frugivoria em Notiomastodon platensis, um mastodonte do Pleistoceno sul-americano. Ou seja, esses animais se alimentavam principalmente de frutos, sem causar prejuízos às sementes.

Os cientistas empregaram diversas técnicas para compreender melhor o estilo de vida do mastodonte, incluindo  análise isotópica, estudos microscópicos de desgaste dentário e análise de cálculo fóssil.

Esqueleto de mastodonte americano em exibição no Museu de História Natural de Londres (Imagem: Pravine/Shutterstock)

“Encontramos resíduos de amido e tecidos vegetais típicos de frutos carnosos, como os da palmeira chilena (Jubaea chilensis)”, explica Florent Rivals, especialista em paleodieta. “Isso confirma diretamente que esses animais consumiam frutas com frequência e desempenhavam um papel na regeneração florestal.”

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Dispersores de sementes

O estudo mostra como a função ecológica dos mastodontes permanece insubstituível: eles percorriam longas distâncias e dispersaram sementes ao longo do caminho, criando um ecossistema florestal rico em recursos frutíferos.

“Quando essa relação ecológica entre plantas e animais é totalmente rompida, as consequências permanecem visíveis mesmo milhares de anos depois”, diz a coautora do estudo, Andrea P. Loayza.

Usando um modelo de aprendizado de máquina, a equipe conseguiu comparar o estado atual de conservação de plantas dependentes da megafauna em diferentes regiões da América do Sul.

Araucaria araucana é uma das espécies em extinção no Chile (Imagem: Felipe Ahumada/iStock)

Os resultados apontam que 40% dessas espécies no Chile central estão ameaçadas — uma taxa quatro vezes maior do que em regiões tropicais, onde animais como antas ou macacos ainda atuam como dispersores alternativos de sementes.

A lista de remanescentes vivos de uma interação extinta inclui espécies como gomortega (Gomortega keule), a palmeira-chilena e a araucária (Araucaria araucana), que sobrevivem em populações pequenas e fragmentadas, com baixa diversidade genética.

“A paleontologia não se resume a contar histórias antigas”, conclui Florent Rivals. “Ela nos ajuda a reconhecer o que perdemos — e o que ainda temos a chance de salvar.”

O post Extintos há 10 mil anos, mastodontes fazem falta no Chile; entenda apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/06/17/ciencia-e-espaco/extintos-ha-10-mil-anos-mastodontes-fazem-falta-no-chile-entenda/